Sentou-se ao meu lado no banco do pátio, cabeça baixa, olhar fixo na ponta das sapatilhas. Fiz-lhe uma festa na cabeça. Afastou-se.
- Que tens... Gonçalo?
Não respondeu. Levantou a cabeça e vi que mordia o lábio, sustendo as as lágrimas.
- Estás triste? Que se passa?
Ele não deu parte de fraco. Baixou de novo a cabeça, olhos pregados no chão.
- Não dizes ao tio? É a escola?
-Sim... - um suspiro - É...
-Zangaste-te com algum menino? - acenou que não. Novo suspiro- É uma menina... Acertei?
- Sim...
- A Inês?
- Sim...
-E porquê? dizes?
-Sim... - e aproximando-se - É o Tiago...
- Deixa lá... - Fiz-lhe outra festa- É cabeça no ar...
- Sim...
- Mulheres dessas há muitas... - e abraçando-o- não é?
- Sim...
- Logo arranjas outra...
- Sim!
Levantando-se, apanhou a bola, deu-lhe um chuto e correu atrás dela, rua abaixo. Lá do fundo da rua chamou:
- Anda tio, vamos jogar!
A vida não é ela um jogo também? Umas vezes ganha-se... outras, perde-se... Pois levantei-me e fui joga-la!
-Atira a bola, Gonçalo!