Os ranchos iam passando…
Mata escura! Mata escura!
Mata escura de Cabanas!
Sob as naves de verdura
Tudo eram formas humanas.
Cenário. Tudo cenário.
Ramos de sombra, silêncio…
Cenário que tudo ilude.
Beleza que era beleza
Só porque era juventude.
-Onde tens as tuas filhas?
-Casei-as. Estão casadas.
-E a que foi para a cidade?
-E a que anda pelas estradas?
Cenário. Tudo cenário.
Cenário que tudo engana.
Beleza que era beleza
Animal, física, humana…
-Diz-me o nome do teu pai!
Porque tens terra lavrada?
-A mãe se o souber que o diga!
Que os filhos não sabem nada…
-Que é da Custódia da Fonte?
-Que é da Ofélia das Caxenas?
E o vento
Tento
Vergava
Ramos de sombra e silêncio
Com suas asas morenas…
E não se ouvia mais nada!
Os ranchos iam passando…
Elas de roupa vermelha;
Eles de faixa entrançada.
E assim foi até ao dia.
-Cada qual vivendo a vida
Sem saber por que a vivia…
in "POVO QUE LAVAS NO RIO - 1969