Marcámos reunião na sala dos advogados. “Terreno neutro”, nas palavras do colega, “para que não houvesse equívocos” em relação aos clientes. Após análise dos documentos, chegámos a um acordo: O cliente dele, pagaria uma determinada quantia ao meu e o processo morreria ali.
Como se tratava de um colega muito mais velho, pu-lo à vontade para que, dada a quantia avultada, pudesse consultar o cliente. Ofendido respondeu-me:
-Colega… só se você tiver algum problema...
-Não é por mim, colega…- gaguejei- o seu cliente aceita?
- Ele “assina por baixo", colega... E a minha palavra dada a si, faz lei…
- Não é caso para desconfiança – insisti- mas dada a quantia… não seria prudente… veja lá…
- Não tenha problema, colega – sossegou-me- os meus cabelos brancos - e apontou para a cabeça – vê? já não suportariam qualquer tipo de desonra... - E estendendo a mão, concluíu- Por mim o acordo está firmado...
Perante aquele argumento de honra, não pude recusar. Firmámos o acordo com um simples aperto de mão, mas o meu coração naqueles dias andou “apertadinho”, porque em troca lhe entreguei todos os documentos que tinha a titular a dívida. Precipitação minha… o mal estava feito!
O que é certo, é que passados uns dias, telefonou a pedir-me o “NIB” do meu cliente. Fez a transferência na quantia acordada e arrumámos o processo.
Estava ao telefone a falar com ele, lembro-me bem, e a pensar: “Ufa, que alivio! Ainda bem que há gente de palavra!”
Outro dia ligou novamente a convidar-me para uma sopa de peixe. “ O peixe do rio da Vila dele, ainda era saboroso e valia a pena”, argumentou perante a minha hesitação, pela distância. Não sendo grande apreciador de peixe, é claro… aceitei.
E lá combinamos o almoço para a próxima sexta-feira! Ida e volta, trezentos Kilómetros; mas tenho de pagar esta dívida, quanto mais não seja, pela lição de vida que recebi...