História breve
de vários meses dormindo juntos
mãos nas mãos,
lado a lado deitados,
Tu o prado mais verde destes campos,
eu a ver subir de ti
um bando de pássaros novos
ensaiando o voo
- pétalas soltas dos meus poemas
caindo sem conta
num oceano azul-
e papoilas,
centenas de papoilas rubras
-a cor do sangue-
muitos jasmins
frescos,
rosas brancas, de irresestível paz,
nascendo-te dos cabelos,
taças de licor de gilipapo
transbordando no meu coração,
indomáveis fogueiras
ardendo na tua fronte,
explosões de luz e de cor
nos meus olhos,
Velas de barcos rabelo
incendiadas
descendo o teu corpo,
e a serenidade de um carvalho
secular
na orla do teu umbigo,
colunas de aromas
subindo-te das coxas,
o gosto amargo
dos mamilos,
sabor a pecado,
a pêssego,
amora,
romã
figo,
uva,
maçã,
cobra-coral,
cintilação de estrelas
enroscadas à cintura,
Planície,
Castanheiro, ouriço, Outono,
terra,
vasto arvoredo,
sombra refrescante,
tranquilidade,
sono,
perdição dos meus sentidos
Porém,
História breve
dos vários meses que dormimos juntos,
mãos nas mãos, de oiro vazias,
lado a lado deitados,
e as horas passando todas
sem que delas nos lembrássemos.
Noites de hotel,
quando a chuva e o frio
vinham
em que tu entreabrias a janela,
só para que o luar entrasse...
e aquelas bodas se iniciassem
com a perdição dos meus sentidos.