Ela nunca tinha visto o mar. O mais perto que tinha estado, fora há uns anos, na Torre de Belém, quando foi visitar o irmão, que vivia para aquelas bandas. Ainda me lembra a conversa dela:
- É o mar aqui, João?
- Não mãe. Aqui não é o mar. É o rio ainda.
- O Tejo?
- Sim... O Tejo.
- Ah!... é grande!...
Agora estávamos no passeio da praia do Pedrogão... a maresia a dar-nos na cara, o sol a despencar na água:
- É aqui o mar, João?
- É mãe... é aqui o mar.
- Ah!... é lindo. E onde acaba ele?
- Oh mãe!... que pergunta... longe. Acaba longe...
- Mas longe, como?
- Muito longe...
- Mas longe quanto?
- Olhe mãe... sei lá!... imagine a distância daqui á Vila.... mil vezes, indo e voltando!
- Ah!... é grande o mar!. – e apontando o sol a desaparecer na água- e o que fica do outro lado?
- Do outro lado, mãe... fica a América... O Brasil....
- Ah! Tão longe o Brasil... Não fazia ideia... tão longe...