Coloquei a boina preta de forro vermelho, que guardo no bengaleiro da entrada há mais de vinte anos. Ela recorda-me os tempos em que aprendi a lavrar, a manejar a aguilhada, a guradar gado, a bailar no terreiro; os passeios à Espanha pelo caminho das moitas, com o cão a levantar os bandos de perdizes.
Só quem experimentou pessoalmente estes sentimentos, não entende a estima que eu tenho a esta boina, que me acompanha desde a juventude. Hoje particularmente ela lembrou-me aquela passagem de ano dos tempos de estudante, que passei a beber com o Miguel Pina, até que começou uma briga que quase nos matava.
Valeu-nos do aperto aquele amigo da Ruvina, forte como um touro, que interpondo-se entre nós e uma dezena de locais, nos cubriu a fuga. Eu na aflição só me preocupava em não deixar para trás a boina. Onde estará agora ele, que nunca mais o vi? velho como eu? e a linda moça que despoletou a briga? ainda será bonita? casou?
Aqueles tempos despreocupados e felizes, desapareceram com a juventude, mas não a velha boina basca de forro vermelho, a boina da liberdade, que ainda ponho nos dias em que me sinto um Garibaldi.
Vejam só o disparate: Um homem feito como eu, a ser dominado pelo apêgo a uma simples e velha boina preta. É mesmo ridículo, não é?