Se tens fé,
Pede à Virgem que eu sinta
O timbre exactamente musical da tua voz
A chamar-me, a chamar-me repetidamente,
O calor extremo dos teus olhos negros,
A ternurenta expressão com que te derretes,
A prender-me aos poucos para sempre.
Pede-lhe que eu oiça
Os teus pés descalços pelo chão da casa
A irem e a virem pela madrugada,
Convidando ao voo matinal,
Sem destino, sempre errando,
Por cima das colinas,
Para além do sol
Para lá do mar.
Se tens fé
Pede-lhe que eu ame em ti,
O Céu e a terra num único suspiro,
O eterno e o contingente
No mesmo abraço.
Queima-lhe duas velas
Em desconto das loucuras que faremos,
No dia em que o fogo das nossas bocas
Nos consumir
Intensa, Intensa
E lentamente.
Se tens fé,
Ajoelha aos pés da Virgem
E pede tudo o que o coração te ditar,
Mas que te não esqueça:
Queima as duas velinhas,
Queima-as também!
Por ti uma...
Outra por mim.
E depois,
Eu viverei
Sempre em ti,
Andarei como tu,
Como tu me sentarei,
No mesmo pensamento,
Cada segundo de ti em mim
Para sempre!