Tudo lhe dói
Do tanto que me quer.
A primaveril explosão das flores
No mel dos lábios,
O calmo rebanho pastando,
No regato dos olhos.
O menino lançando o peão
Que gira, gira, gira
Na palma da mão,
O discreto enlace dos amantes
No rubor da face,
O barulho ensurdecedor dos pardais
Na disputa das espigas da cabeça,
Um Verão difícil de combater
Na testa em brasa,
Do tanto que me quer.
A persistente neblina,
Nas terras do sonho
A música da alma
Em constante dissonância;
A teimosa insónia das noites
À janela da saudade.
As pálpebras nitidamente cansadas
Lhe caindo pesadas
Em duas pétalas de roseira brava,
Que do meu amor silvestre
Amiúde se desprendem,
Porque de tanto me querer
Até a raiz lhe dói.