Subi aqui, ao alto da muralha, onde se avista toda paisagem, aos meus pés: É a minha vida, que se abre em livro no recorte das colinas, no serpentear do rio entre as courelas incultas; Os meus demónios e os meus deuses, que se elevam na coluna de fumo, atrás dos carvalhos, lá para as bandas dos Labaços. Uma coluna silenciosa e ardente que me caustica a ferida que trago no flanco.
O pé estala um ramo seco, e os olhos fixam-se na procissão de formigas que arrastam uma semente de erva, na baba do caracol a descer o muro.
A minha alma até poderá estar ao mesmo tempo, naquelas colinas, naquele rio, e no fogo que se não vê, mas se adivinha, na absoluta imobilidade dos carvalhos, lá para os Labaços.
Mas seguramente ela vai naquela pequenina semente adormecida, levada em ombros, como santo de altar, em dia de festa.