À curva das cerejeiras, a seguir à escola, o horizonte ermo, silencioso e ao longe, o recorte cinza das colinas na Bismula. O vermelho dos primeiros telhados assoma na paisagem. As árvores e os lameiros descem a prumo sobre o Pereiro, onde as águas correm no açude fugidias… há séculos.
Que mimoso quadro! Há momentos assim que param o tempo. É esta a memória que guardo dos teus passos, avô, a extinguirem-se à curva das cerejeiras, nas áleas da minha infância... o lume do cigarro a morrer-te na mão e aquele – Queres um cigarro meu anjo? Fumas um cigarrito também? - era a tua alma anarquista, de que tanto gostava, a falar.
- O pai não deixa… avozinho.
- Ah não, meu anjo? Toma então esta moeda…
E o ruído dos teus passos naquele dia, apagou-se no ar com uma nuvem de pó em direcção à Ruvina… um caminho para mim ainda hoje aberto em carne viva. No último instante tiraste o chapéu, que de tanto puído, era já a forma da tua cabeça branca, e acenaste:
- Adeus meu anjo!
Tu já não existes. As cerejeiras da curva, entretanto secaram. Mas ainda consigo ver as costas de uma jaleca preta e as abas de um chapéu a desaparecerem no horizonte ermo, silencioso… e um vulto que acena:
- Adeus meu anjo!
Da curva das cerejeiras da minha infância, aceno-lhe também:
-Adeus avô!