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Aqui onde mora a vesícula biliar do tempo
Sob as pálpebras transparentes deste dia
Onde a água vermelha e doce corre
O corpo descansa, a noite amadurece.
Não bebo mais desse rio, não provo mais desses beijos,
Mas aqui é Outono, o tempo propício das vindimas.
O mosto efervescendo, com o seu bafo em sangue
Aquece o corpo, ressuscita os membros.
Nada estanca a sede, nada cala a fome de uma boca,
Mas por agora fica o corpo à espera, trémulo como folhas
Por um remoinho de sangue, por uma língua que se acenda,
E lhe dê a beber os favos do mel.
Talvez ele assim se liberte da árvore,
E oiça o suor do silêncio
Talvez ele assim livre
Sinta o arrepio da tua boca
Beijando as sílabas
Das palavras
Aqui entre o poço
E o lagar.