Quarta-feira, 27 de Setembro de 2006

 

 

 

 

Assim tenho vivido, caro leitor, e assim alcancei este fim de juventude em que a velhice e a infância se confundem. O Outono e a Primavera de mãos dadas!

Graças a Deus, a infância não me deixa! E não entendo os meus antigos condiscípulos, tão diferentes do que foram, metidos num modus vivendi que os absorveu por completo! Já não são eles, mas o senhor advogado em tal comarca, o senhor juiz em tal comarca, o senhor notário em tal comarca, o senhor deputado…

Criaturas que viveram e repousam hoje, para aí, empedernidas, numa atitude oficial.

Emblemas de pedra, não respondem a este meu fim de juventude embriagada de infância! E por isso nunca fui nem juiz, nem notário, nem advogado senão de passagem e a fingir. Fui sempre uma criança que faz versos, e é capaz de estar um dia inteiro a ouvir um passarinho ou a contemplar de uma janela os altos carros do Marão! Fui sempre uma criança que faz versos – uma criança intimamente deslumbrada e desgostosa! E já lá vão quarenta e dois anos da minha vida! Quarenta e dois metros de profundidade sepulcral! Quando sobre ela me inclino para ver-lhe o fundo, sinto vertigens e retiro os olhos espantados!

Ergo-me, como um espectro, dessa profundidade sepulcral, diante de si, querido leitor. Não tenha medo e ouça – ouça esse espectro que lhe fala.

 

Teixeira de Pascoaes

 

 



publicado por Manuel Maria às 15:57 | link do post

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