Sexta-feira, 13 de Setembro de 2013

 

 

 É pacífico que uma das vertentes para o desenvolvimento integrado da economia do concelho, é a recuperação e divulgação do seu património, como alavanca do sector terciário e complemento do sector primário.

Mas recuperação do património, quer dizer, antes de mais preservação. E preservação é manter com respeito das suas características sem o desvirtuar com inovações que o descaracterizem.

Com o património é preciso o mesmo cuidado que uma operação plástica: se a intervenção desvirtua os traços essenciais do rosto, já não temos o mesmo rosto, mas outro, apesar da pessoa ser a mesma. Dá-se uma modificação da identidade física.

Por isso é que as intervenções sobre o património, e aqui refiro-me em concreto ao edificado, devem obedecer a critério do bom senso, e serem o mais conservadoras que possível, para evitar a sua descaracterização.

Ora, é precisamente o que não se tem verificado em algumas situações, de que apenas destaco as obras da Praça da República, que sendo uma boa iniciativa de homenagem a Manuel António Pina, são um desses exemplos de infeliz concretização do mau senso estético:

A intervenção na área do chafariz da Praça da República, com empedramento totalmente desenquadrado do resto da Praça, é um exemplo de falta de bom senso estético.

Agora acrescentaram-se uns bancos em madeira marítima para os munícipes gozarem a sombra dos medronheiros. Já nem é falta de bom seno; é ridículo! 

De facto, o total calcetamento da zona do chafariz em pedra diferente, não o adequa ao resto da Praça também empedrada em toda a sua extensão, a qual, por não ter qualquer  zona verde, resulta, pela solução dos medronheiros, arbustos de pequeno porte e copa baixa, demasiado aberta, e por isso esteticamente monótona.

Este resultado das obras podia mitigar-se reduzindo o empedramento agora colocado na área do chafariz, substituindo-o, mesmo que seja numa pequeníssima área, por jardim, e colocando no lugar dos medronheiros, árvores que pelo menos proporcionassem sombra e um recanto verde aprazível, realçado do resto da Praça.

É por sua vez conhecida a sensibilidade ecológica de Manuel António Pina e mais reservadas e conhecidas de alguns amigos, as suas ideias filosóficas iniciáticas e simbólicas, que se tivessem sido tidos em conta, proporcionariam elementos interessantes que podiam ter sido utilizados na execução da obra. 

Os custos nem seriam muitos, dignificava-se a praça, homenageava-se mais condignamente o Manuel António Pina de acordo com a sua personalidade.

E o que não é de todo displicente, ainda vai a tempo de ser feito com pouco trabalho e custo, pelos serviços camarários!

Perguntarão os queridos leitores, que sabe este “escriba” de arquitectura paisagística, para “meter a foice em seara alheia”. Nada…

… mas sobra-lhe algum bom senso e bom gosto, que é o que tem faltado na recuperação do património concelhio!

 



publicado por Manuel Maria às 18:25 | link do post | comentar

Quinta-feira, 5 de Setembro de 2013

 

 

Hermann Hesse (Calw, 2 de julho de 1877Montagnola, 9 de agosto de 1962) , Nobel de Literatura em 1946, é dos meus autores favoritos, porque a sua obra tem uma espiritualidade e filosofia próprias de influência oriental, pacifista e ecologista.

Acabei de ler dele a Viagem ao País da Manhã, Edição/reimpressão: 1999 Páginas: 96  Editor: Edições Asa ISBN: 9789724114385 Coleção: Pequenos Prazeres, de que a Editora Caminho também tem uma edição.

            O prefácio e a nota de contracapa dizem tratar-se de uma obra alegórica e poética de leitura hermética, ficando-se por aqui na explicação da mesma. Desconheço se existe algum estudo sobre a interpretação desta obra de Hermann Hesse, escrita em forma de enigmas e símbolos, mas que não é nada hermética para quem tenha certo tipo de conhecimentos.

            O relato é o de uma viagem alegórica de um grupo de uma misteriosa Ordem ao País da Manhã, que geograficamente é onde nasce o Sol, isto é, a Luz, o Oriente.

Este Oriente não é geográfico, mas simbólico, porque a viagem também não é física, mas de autoconhecimento depois de uma iniciação.

Por isso é que o autor refere logo no início a prova pelos três elementos Ar , Terra e Fogo a que foi sujeito, correspondente à cerimónia de iniciação, e da necessidade do hermetismo no relato desta viagem, por estar obrigado ao dever de sigilo imposto pela Ordem.

Mas o autor levanta a ponta do véu, para quem saiba ler nas entrelinhas:

São adeptos e irmãos desta Ordem muitos personagens do domínio da História, das artes e dos próprios escritos de Hesse, como o pintor Paul Klee, poeta suíço das relações do autor e rosacruciano; o pintor Klingsor, personagem de um conto de Hesse, com o nome simbólico do personagem do mesmo nome de uma fábula Rosacruz; o poeta Lauscher, heterónimo de Hess num livro de poemas de 1900; ou o barqueiro Vasudeva, personagem de uma lenda indiana e de tradição Rosacruz; bem como o próprio Hermann Hesse, que é protagonista nesta viagem em concreto.

Não podendo ir mais longe do que o autor na revelação do segredo, deixo aqui apenas algumas pistas, para quem quiser ler a obra e aprofundar conhecimentos:

A Ordem “estuda” em diversos grupos espalhados territorialmente, mas sob uma única obediência; a reunião desses grupos faz-se em grandes acampamentos; referência ao desaparecimento do manuscrito que serviu de fundação aos Rosacruzes e a lenda do seu enterro no sepulcro desaparecido do seu fundador, Christian Rosenkreuz; a prova de readmissão num grau superior perante os grandes oficiais; a revelação de alguns graus superiores da Ordem, sob a forma de anagrama.

Posto isto, a chave do enigma:

Esta obra relata de forma hermética e simbólica a experiência Rosacruciana do autor, posterior à primeira grande guerra e no seguimento dos movimentos espirituais que se lhe seguiram, o seu afastamento temporário da Ordem dos Rosa-Cruz, a sua readmissão num grau superior, e a mística da fraternidade universal do movimento Rosa-Cruz.

Hermann Hesse fala na sua viagem ao País da Manhã. Leal Freire no belo poema Prece, que já analisei sob o título A Linguagem Poética de Leal Freire, canta o destino da vida, que consiste em alcançar a terra natal enquanto pátria da Alma Peregrina que regressa a casa, ao «húmus da Terra-Mãe».

Ambos os poetas sabem onde reencontram a essência das suas Almas Peregrinas: O circuito solar da Alma de um completa-se no País da Manhã; a do outro, quando a Sombra da «Noite» se diluir outra vez na luz difusa da «Manhã».

No fundo, a vida de todos os homens superiores é uma mesma viagem iniciática de autoconhecimento, que podendo divergir no caminho escolhido, tem sempre o mesmo destino:

O regresso à Luz Primordial…

… Porque todos são filhos da mesma Luz!



publicado por Manuel Maria às 20:11 | link do post | comentar

 

 

 

              No tempo em que, por iniciativa de D. Carlos a ditadura de João Franco interrompeu a instabilidade governativa do rotativismo (dez governos em cinco anos) legislando por decreto e sem apoio parlamentar nem eleições, a emigração portuguesa no Brasil enviou ao ditador uma carta de apoio com trinta mil assinaturas.

 A missiva foi entregue em mão por uma solene comitiva, vinha dentro de um pomposo estojo de seda azul com uns fechos em ouro e começava aludindo alegoricamente à retirada dos dez mil de Xenofonte, que fugindo dos persas e chegando ao mar onde se viram a salvo, gritaram: O mar! O mar! Que em grego se diz talassa.

A missiva terminava por isso nestes termos:

«Talassa! Talassa! O mar! o mar! Eis o grito de entusiasmo com que os de Xenefonte saudaram, no ponto Euxino, a redenção. Um governo! Um Governo! Eis o brado uníssono com que […] saúda, felicitando-se com V. Exa. a redenção no governo de Franco Castelo Branco.»

 A imprensa e a oposição gozaram com a grandiloquência da missiva e daí em diante  passou a chamar-se aos apoiantes de João Franco de Talassas.

E a expressão Talassa depois de 1910 passou a ser naturalmente sinónimo de conservador ou reaccionário.

Normalmente quando uma sociedade de poder tradicional começa a haver contestação e tentativa de mudança, os representantes .desse poder reagem para defenderem os seus interesses. Foi assunto muito estudado por Nietzche e Bertrand Russel, designadamente por este no ensaio O Poder Nu.

E quanto mais se perde com a mudança do poder, mais enérgica tende a ser a reacção daqueles que só ganham com a sua conservação.

O poder tradicional em regime democrático só muda com eleições. Por isso é normal que em época de eleições apareçam os talassas a incutir no povo o medo da mudança do poder.

Enfim… É um dos males da democracia com que temos de viver…

Mas, como dizia Assis Brasil, em Democracia Representativa: do Voto e do Modo de Votar, a liberdade democrática implica que o povo tenha direito de escolher instituições e governos ruíns:

 «É pelo preço das experiências que ele adquire a capacidade de emancipação […] A liberdade de escolher pode trazer- e traz inevitavelmente -  tribulações e sofrimentos, mas ainda é o único estado digno e útil, para o homem, para o cidadão e para a comunidade»

Os Talassas têem medo da liberdade de escolha do povo… por isso condicionam o voto e vêem a liberdade de voto como uma excentridade da democracia, porque entendem que as decisões e o poder não devem estar nas mãos do povo ignorante, mas nas de uma elite política.

Isto é, nas mãos dos Talassas!

 



publicado por Manuel Maria às 19:16 | link do post | comentar

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