Naquela noite,
Branca, branca
Como fios de prata,
Uma brasa de lua,
Caía sobre as águas
Do rio Erges.
Zamora e a companheira
Passavam o contrabando
Escondidos na penumbra
Que precedia a alba;
Mas os “civiles” do tenente Perales,
Dois com pistolas aperradas,
Três de carabinas longas,
Guardavam os carreiros da serra.
Descidos os cumes da Gata,
Ignorando que os “civiles” esperavam,
À passagem do rio Erges,
Zamora e a companheira, detendo-se na margem,
Tirou o cinturão e a pistola, ele;
Ela, o corpete e a saia de linho,
Mais brancos que a lua cheia;
E quando entravam na água,
Uma voz cava ouviu-se:
-É a lei; estão cercados…
É melhor que não resistam!
Perales fez a revista,
E vendo o que transportavam,
Fez-lhes a proposta seguinte:
-Se quiserem seguir,
Passem-me cem duros,
E eu não vi nada!
A resposta de Zamora,
Foi uma cutilada!...
Perales ficou ferido,
Enquanto Zamora gritava:
-Não trato com bandidos;
Prefiro morte honrada!
Mas contra duas pistolas aperradas,
E três carabinas longas,
Zamora não pode nada!
Vários tiros se ouviram
Na treva da noite
E Zamora tombou
De três golpes fatais.
Um anjo choroso amparou-o
No regaço.
A lua incendiada
Beijou-lhe a fronte.
E quando se espalhou a notícia,
Um clamor de velhas vozes
levantou-se nas azinhagas:
- António Zamora da Glória,
Potro de negra crina ao vento,
Toiro bravo da Ginestosa,
Quem te pôs a ferros,
Perto do Rio Erges?
-Duas pistolas aperradas,
Três carabinas longas...
Murmurarou o Erges, sonolento!