Segunda-feira, 25 de Janeiro de 2010

Um Juiz de Direito, do estado do Rio Grande do Sul, Brasil, proferiu uma sentença em forma de verso, num julgamento realizado em 21/1/2009 em acção que tratava de um pedido de indemnização por dano moral.
O autor da ação, patrão de uma empresa pública, queixava-se de ter sido ofendido na sua honra porque um trabalhador teria dito que não prestava contas das verbas públicas recebidas para a realização de eventos, salientando ainda que as afirmações foram publicadas também no jornal local A Platéia. O réu, evidentemente, negou as ofensas.
Aqui fica a sentença na íntegra, que demonstra bem como o direito é uma área muito criativa :
Este é mais um processo
Daqueles de dano moral
O autor se diz ofendido
Na Câmara e no jornal.
Tem até CD nos autos
Que ouvi bem devagar
E não encontrei a calúnia
Nas palavras do Wilmar.
Numa festa sem fronteiras
Teve início a brigantina
Tudo porque não dançou
O Rincão da Carolina.
Já tinha visto falar
Do Grupo da Pitangueira
Dançam chula com a lança
Ou até cobra cruzeira.
Houve ato de repúdio
E o réu falou sem rabisco
Criticando da tribuna
O jeitão do Rui Francisco
Que o autor não presta conta
Nunca disse o demandado
Errou feio o jornalista
Ao inventar o fraseado.
Julgar briga de patrão
É coisa que não me apraza
O que me preocupa, isso sim
São as bombas lá em Gaza.
Ausente a prova do fato
Reformo a sentença guerreada
Rogando aos nobres colegas
Que me acompanhem na estrada.
Sem culpa no proceder
Não condeno um inocente
Pois todo o mal que se faz
Um dia volta pra gente.
E fica aqui um pedido
Lançado nos estertores
Que a paz volte ao seu trilho
Na terra do velho Flores.”
(Proc. nº 71001770171)
Quarta-feira, 13 de Janeiro de 2010

Dos mais formosos olhos, mais formoso
Rosto, qu’entre nós há, do mais divino
Lume, mais branca neve, ouro mais fino,
Mais doce fala, riso mais gracioso:
D’um angélico ar, de hum amoroso
Meneo, de hum spirito peregrino
S’acendeo em mim o fogo, de qu’indino
Me sinto, & tanto mais assi ditoso.
Não cabe em mim tal bemaventurança.
He pouco hua alma só, pouco hua vida;
Quem tivesse que dar mais a tal fogo.
Contente a alma dos olhos agoa lança
Pólo em si mais ter, mas he vencida
Do doce ardor, que não obedece a rogo
António Ferreira séc. XVI