Terça-feira, 30 de Dezembro de 2008

 

 

 Foto tirada de vilarmaior1@blogs.sapo.pt

 

 

Quando abri o blogue, lá estava o post

A informar que tinha morrido;

Era uma da tarde e chovia.

Chovia em Leiria, e chovia na aldeia

Também há uns anos pelo Natal

Quando tremendo de frio,

Xaile curto pela cabeça,

Ela me perguntou ao portão:

- Viu por lá o nosso Zé?

 

De há tempos para cá tudo ficou diferente:

De que serviram anos e anos de privações,

A caminho dos Vales e do Porto Sabugal?

Os prédios ficaram de pousio. A lareira apagou-se.

A porta levou duas voltas de chave.

O tempo consumindo-nos.

 

De repente recomeçou a chover.

Estava na hora.

 

O Joaquim que subira primeiro,

Boina espanhola na cabeça,

Detendo-se a meio caminho,

Chamou-a mansamente:

- Anda, Isabel; vamos!

 

E o vulto de xaile

E o vulto da boina

Subiram

Juntos.

 

 



publicado por Manuel Maria às 12:10 | link do post | comentar | ver comentários (3)

Segunda-feira, 29 de Dezembro de 2008

 

 

           SMS que recebi de boas festas:

 

             […] Ano de 2009 mesmo bom. O défice está controlado, a inflação estável e as taxas de juro a descerem. Só o desemprego assusta.”

            Quem o enviou foi amigo do Sócrates no liceu e é seu admirador. Aufere um salário líquido mensal de 2.500€, a mulher outros 2.000€ ( 11,5 salários mínimos líquidos os dois) , não prescinde das suas luxuosas férias no estrangeiro anualmente e fugiu ao imposto na aquisição do magnífico duplex que habita declarando um preço muito inferior.

            Que “grande África!” Com "um peito" assim, quem tem medo do que trará 2009?

 

 



publicado por Manuel Maria às 12:45 | link do post | comentar | ver comentários (1)

Sexta-feira, 19 de Dezembro de 2008

 

 

 

        Muita Luz e muita Paz para todos. Que O Deus-menino acenda os nossos corações de amor, fraternidade e esperança neste tempos tão egoístas e tão sombrios.

 



publicado por Manuel Maria às 12:19 | link do post | comentar | ver comentários (2)

 

 

 

 

            Gaba-se o Sócrates dos avales concedidos à banca para que esta ajude as pequenas empresas e os particulares neste momento de crise.

            Mas os bancos, como qualquer agiota, não concedem crédito a quem já está com a “corda ao pescoço” e não oferece “garantias”, o que acontece com a generalidade de todas as pequenas e médias empresas e particulares; pormenor este de somenos importância que a esperteza de Sócrates não alcança.

            O Teixeira dos do Santos, constatando que “foi apanhado de calças na mão”, ameaça agora retirar os avales se a banca não conceder crédito ao mercado.

            Mas é do senso comum e da ciência económica e jurídica que um aval depois de concedido, porque se trata de uma garantia de crédito só pode ser retirado com acordo do beneficiário, isto é, da entidade externa que vier a emprestar dinheiro à banca. Quem no seu perfeito juízo, perante tão flagrante evidência, ainda liga ao que o Teixeira dos Santos diz?

            E a que arca sem fundo vai o governo tirar dinheiro para liquidar os avales no caso de incumprimento? Com que dinheiro, se já há séculos os ratos não fazem ninho lá para as bandas do Terreiro do Paço por não terem no que roer? À custa de mais défice público?

            Esta coisa de fiar e avalizar é assunto tão sério que, como diz o seguinte conselho do livro bíblico dos provérbios, devia “tirar o sono” a quem levianamente se "atravessa pelos outros":

            “Meu filho, se ficaste fiador do teu próximo, se estendeste a mão a um estranho, se te ligaste com as palavras dos teus lábios e ficaste prezo pelo teu próprio compromisso, procede assim, meu filho, para te livrares, pois caístes nas mãos do teu próximo; vai, insiste e incomoda o teu próximo. Não concedas sono aos teus olhos, nem repouso às tuas pálpebras. Salva-te como a gazela das mãos do caçador e como o pássaro do laço que o prende”.

            Mas contrariamente ao que seria de esperar, não conta que Sócrates e Teixeira dos Santos tenham perdido o sono. Eles por aí andam, voando entre jantares de Natal como “anjinhos da boa nova”, cantando o “hosana nas alturas” a nós, pobres pastores deste deserto da Judeia. Mas os seus cantos seráficos são pronuncio de desgraça e não de esperança::

             É que se a coisa “der para o torto”, é o nosso “bacalhau” que vai faltar no prato de Consoada, como sempre, meus amigos!

           

 



publicado por Manuel Maria às 12:11 | link do post | comentar

Sexta-feira, 12 de Dezembro de 2008

 

 

 

Medina Carreira, que conheci nos anos oitenta quando me entregou um prémio de jovem investidor na bolsa, era entusiasta defensor do neo-liberalismo; lembro-me bem! Agora é o profeta da desgraça do neo-liberalismo... Há dias ouvi-o a dizer na “SIC” que «isto chegou a tal ponto que não pode acabar bem». - Quem o viu e quem o vê!

            Ora a verdade é que Isto já não anda bem há séculos, pelo que o que Medina Carreira diz à boca cheia é peçonha antiga cujos sintomas já fizeram correr muita tinta de mergulho e chafurdo a muito bom doutor antes dele.

            Eis aqui um desses diagnósticos, feito pelo Eça ao País há cento e quarenta anos e que, com pequenas adaptações, ainda é hoje certeiro:

            «O país perdeu a inteligência moral. Os costumes estão dissolvidos e os caracteres corrompidos. A prática da vida tem por única direcção a conveniência. Não há princípio que não seja desmentido, nem instituição que não seja escarnecida. Ninguém se respeita. Não existe nenhuma solidariedade entre os cidadãos. Já não se crê na honestidade dos homens públicos. A Classe média abate-se progressivamente na imbecilidade e na inércia. O povo está na miséria. Os serviços públicos são abandonados a uma rotina dormente. O desprezo pelas ideias aumenta a cada dia. Vamos todos ao acaso. Perfeita, absoluta indiferença de cima baixo! Todo o viver espiritual, intelectual, parado. O tédio invadiu as almas. A mocidade arrasta-se, envelhecida, das mesas das secretárias para as mesas dos cafés. A ruína económica cresce, cresce, cresce… O comércio definha. A indústria enfraquece. O salário diminui. A renda diminui. O estado é considerado na sua administração fiscal um ladrão e tratado como um inimigo.

            Neste salve-se quem poder a burguesia proprietária das casas explora o aluguer. A agiotagem explora o juro.

            De resto a ignorância pesa sobre o povo como um nevoeiro. O Número das escolas só por i é dramático. O professor tornou-se um empregado de eleições. A população dos campos arruinada, vivendo em casebres ignóbeis sustentando-se de sardinhas e erva, trabalhando para o imposto por meio de uma agricultura decadente, leva uma vida de misérias, entrecortada de penhoras. A intriga política alastra-se por sobre a sonolência enfastiada do País. Apenas a devoção perturba o silêncio da opinião, com padres-nossos maquinais.

            Não é uma existência, é uma expiação.

            E a certeza deste rebaixamento invadiu todas as consciências. Diz-se por toda a parte: «O País está perdido!» ninguém se ilude. Diz-se nos conselhos de ministros e nas estalagens. E que se faz? Atesta-se, conversando e jogando o voltarete, que de Norte a Sul, no Estado, na Economia, na moral, o País está desorganizado – e pede-se conhaque!

            Assim todas as consciências certificam a podridão; mas todos os temperamentos se dão bem na podridão!» Eça de Queirós, “Uma Campanha Alegre”, 1871.

            Estes sintomas, supra descritos, Eça sintetizou-os na seguinte definição que deu de Portugal:

            - «Agregação heterogénea de inactividades que se enfastiam.»

            Mas, cá para mim, prefiro uma designação para a doença bem mais asséptica; na perspectiva da terapêutica e não da sintomatologia como fez Eça. Aqui vai:

- Trupe organizada, rindo despreocupadamente.

 É que este País é tão triste e podre que só rindo! Rir, o único remedio. Rire un brin.

- Que vos parece, companheiros? Vá; todos a rirmos a bandeiras despregadas!

Façamos de conta que Isto não é um País, mas uma comédia de Baudelaire em que somos farsantes!

- E assim, rindo, rindo, vamos esquecendo…

 ... E morrendo.

 



publicado por Manuel Maria às 15:57 | link do post | comentar | ver comentários (1)

Quinta-feira, 4 de Dezembro de 2008

 

 

Na perspectiva diferente de dois autores portugueses. A dissemelhança não é só temporal, não está só na abordagem sócio-cultural do tema da sedução - no primeiro a iniciativa é do homem; no segundo da mulher– mas também na qualidade da escrita – uma genial; outra medíocre:

  

Texto I 

 

 

 

Luísa corou. – Não, tinha muito medo da trovoada. Tinha ouvido a trovoada, ele?

- Estava a cear no grémio, quando trovejou.

- Costumas cear?

Ele teve um sorriso feliz. – Cear! Se se podia chamar cear ir ao Grémio rilhar um bife córneo e tragar um Colares peçonhento!

E fitando-a:

- Por tua causa, ingrata!

Por sua causa?

- Por quem então? Porque vim eu a Lisboa? Porque deixei Paris?

- Por causa dos teus negócios…

Ele encarou-a severamente.

- Obrigado – disse, curvando-se até ao chão.

E a grandes passadas pela sala soprava violentamente o fumo do seu charuto.

Veio sentar-se bruscamente  ao pé dela. – Não, realmente era injusta. Se estava em Lisboa, era por ela. Só por ela!

            Fez uma voz meiga, perguntou-lhe se ele tinha realmente um bocadinho de amor muito pequenino, assim… - Mostrava o cumprimento da unha.

            Riram.

            - Assim, talvez.

            E o peito de Luísa arfava.

            Ele então examinou-lhe as unhas; admirou-lhas e aconselhou-lhe um verniz que usam as  cocottes, que lhes dá um lustro polido; ia-se apossando da sua mão, pôs-lhe um beijo na ponta dos dedos; chupou o dedo mínimo, jurou que era muito doce; arranjou-lhe  com um contacto muito tímido uns fios de cabelo que se tinham soltado – e, disse, tinha um pedido a fazer-lhe!

            Olhava-a com uma suplicação.

            - Que é?

            - è que venhas comigo para o campo. Deve estar lindo no campo.

            […]

Luísa hesitava.

            - Não digas que não.

            - Mas onde?

            - Onde tu quiseres. A Paço de Arcos, a Loures, a Queluz. Dize que sim.

             A sua voz era muito urgente, quase ajoelhava.

            - Que tem? È um passeio de amigos, irmãos.

            - Não! Isso não!

            Basílio zangou-se, chamou-lhe «beata». Quis sair. Ela veio tirar-lhe o chapéu da mão, muito meiga, quase vencida.

            - Talvez, veremos – dizia.

(Eça de Queirós, in “O Primo Basílio”, Planeta Agostini, pág. 121 e 122)

 

 Texto II

 

  

 

O professor alguma vez comeu comida sueca?”, perguntou Lena, adocicando a voz.

“Comida sueca? Uh… sim, acho que comi em Malmö, quando lá fui no Inter-rail.”

“E gostou?”

“Muito. Lembro-me que era bem confeccionada, mas muito cara. Porquê?”

Ela sorriu.

“Sabe, professor, acho que não vai conseguir explicar-me tudo em apenas meia hora. Não quer antes  vir almoçar a minha casa e ajudar-me a ver as coisas com mais calma, sem pressas?”

“Almoçar em sua casa?”

A proposta era inesperada e Tomás ficou atrapalhado, não sabia como lidar com aquele convite. Pressentiu que ele acarretava uma mão-cheia de problemas, anteviu mil complicações, mas não havia dúvidas que Lena era uma rapariga agradável, ele sentia-se bem  na presença e a tentação era grande.

“Sim, faço-lhe um prato sueco que o vai deixar de água na boca, vai ver.”

[…]

“Está bem”, assentiu. “vamos  lá almoçar”.

 Lena abriu-se num sorriso encantador.

“Então está combinado”, exclamou ela. “Vou fazer-lhe um prato que o vai deixar a implorar por mais. Marcamos para amanhã?”

[…]

“Não pode ser”, abanou a cabeça. “Tenho de ir à… uh… tenho um compromisso amanhã, não posso ir.”

“E depois de amanhã?”

“Depois de amanhã? Sexta-feira? Humm… sim, pode ser.”

“À uma da tarde?”

À uma. Onde é a sua casa?”

Lena deu-lhe a morada e despediu-se, pespegando-lhe dois beijos húmidos na cara. Quando ela saiu, deixando o delicioso aroma do seu perfume a pairar no gabinete como se fosse uma assinatura fantasmagórica, Tomás olhou para baixo e apercebeu-se, surpreendido, excitado, de que os seus fluidos já tinham reagido, a química estava em movimento, o corpo ansiava pelo que a mente reprimia. Uma vigorosa erecção enchia-lhe as calças.

(José Rodrigues dos Santos, in “O Codex 632”, Gradiva, pág 147 e 148)

  



publicado por Manuel Maria às 14:16 | link do post | comentar | ver comentários (1)

Terça-feira, 2 de Dezembro de 2008

 

 

   

Desde as oito da tarde ela aguardava no cais

Que o expresso dele chegasse.

Às nove – depois de vários expressos – ainda ela esperava.

Chegaram as nove e meia; esvaziou

O snack da estação quase por completo.

Aborrecida pôs-se a ler as capas das revistas

Do quiosque na sala de espera. Maquinalmente

Entrou no Snack e pediu um café. Enrolou um cigarro

E gastou cinco euros em chocolates.

Fumou mais um cigarro.

Enerva-a tanta espera. Porque esperava há horas

E começava a duvidar se ele ainda viria.

 

Mas quando o viu chegar – esqueceu as horas de espera,

O frio, a hora tardia. Pôs base, retocou os lábios.

Correu para o cais.

 

Ele desceu e atirou uma desculpa esfarrapada:

“Perdera a camioneta directa; viera na seguinte

E tivera de fazer uma ligação manhosa qualquer”.

Mas ela já nem o ouviu. O seus rostos belos, a juventude de ambos,

A paixão que tinham entre si, avivaram-se, tonificaram

Com a perspectiva de noite que iriam passar juntos.

 

E cheios de alegria e pressa, paixão e beleza

Atravessaram a sala de espera, o corredor das bilheteiras,

(já completamente encerradas àquela hora) e de mãos dadas

Entraram na pensão ao fundo da avenida,

Onde pediram quarto para dormir e bebidas.

 

E quando esgotaram as bebidas e os chocolates,

Já perto das meia-noite,

Entregaram-se felizes ao amor.

 

 



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