“Os povos serão cultos na medida em que entre eles crescer o número dos que se negam a aceitar qualquer benefício dos que podem; dos que se mantêm sempre vigilantes em defesa dos oprimidos não porque tenham este ou aquele credo político, mas por isso mesmo, porque são oprimidos e neles se quebram as leis da humanidade e da razão; dos que se levantam, sinceros e corajosos, ante as ordens injustas, não também porque saem de um dos campos de luta, mas por serem injustas; dos que acima de tudo defendam o direito de pensar e de ser digno”. – Agostinho da Silva “O Terceiro Caminho”. Diário de Alcelestes [1945], in Textos e Ensaios Filosóficos I, p. 217.
Foto retirada de www.vilarmaior1@blogs.sapo.pt
António Diogo, há vinte anos que vivia como ermitão; primeiro nas Retortas, depois nos Labaços, onde "ajeitou", num eirado junto a um pequena nascente de água, um abrigo em pedra solta.
E o eirado onde tinha a sua cabana de solitário era no alto de um extenso planalto, todo coberto de giestas e carvalhos negrais que se espalhavam por uma extensa folha de antigas tapadas centeeiras, há dezenas de anos em pousio. Ali, por entre rudes fragas, caindo numa pequena vertente, criara um pequeno horto, com algumas árvores de fruto, que em todas as primaveras floriam e perfumavam o ermo. Tudo em redor daquele pequeno horto, era mato de imensas giestas negrais ondulando pela encosta até ao limite da povoação, lá em baixo, nas margens do Cesarão.
Evitando os habitantes, descia pela noite à povoação para recolher o pão e as poucas mercearias que a Amélia ou a Carolina lhe deixavam penduradas no portão da casa que fora dos pais. Recolhido o saco, desaparecia ainda na escuridão, apressado ao lento despertar dos primeiros lavradores ou pastores que iam para os campos. Por muitos dias e luas, António Diogo não avistava ninguém e a sua vida continuava, sempre igual, como a água do seu horto, que com o mesmo rumor, corria da mãe-d’água, pela regadeira que atravessava o horto, por entre duas áleas de couves-galegas, perfiladas de alto a baixo.
Cada noite de Inverno, com a geada a crestar aqueles campos em redor, fazia uma grande fogueira à porta do abrigo e, apanhando as brasas numa chapa que metia debaixo da enxerga, protegia-se assim do frio, até que, no postigo aberto da porta o sol subisse no céu azul, por cima da estrada do Carril. Depois, como um asceta dos primeiros tempos do monaquismo, apanhava a enxada e descia, ainda jejuando, a trabalhar naquele jardim que a água criara e ele, com as suas mãos pacientemente acrescentara. E enquanto a enxada desfazia os torrões do cadabulho ou as mãos se feriam nas pedras que mondava sem parar, uma poeira fina, que só almas místicas conseguem ver, subia do horto para o céu, como o fumo de uma ara sagrada que nunca se apagava.
De vez em quando um pardal vinha beber no córrego da água ou descansar nos ramos de uma das árvores de fruto. Era então que, aliviando a fadiga, ia pelo renque de couves-galegas acima e, sentando-se numa pedra que havia ao cimo da leira com uma côdea de pão no regaço, de olhos derramados na distante agulha branca da torre da Igreja, onde se via a cruz, sobranceira, António Diogo partilhava o seu pão com os pardais.
A sua vida era assim simples, sob o céu onde o sol descia todos os dias sobre o Vale da Lapa, que ensanguentava e a lua subia por cima do extenso carvalhal da Fonte Fria, ora redonda, ora curva, sempre lustrosa e consoladora. E todos os dias no cabeço do Chão da Forca uivavam os lobos rondando as primeiras casas da povoação e os cães do Zé Carlos latiam, nervosos à sua proximidade. Depois tudo emudecia e António Diogo, embevecido na frescura e na paz do luar que sentia no silêncio daquele ermo, recolhia ao casebre, com a sua enxada ao ombro, ajoelhando-se no córrego para beber.
E bebido na concha formada pelas duas mãos juntas, cada sorvo de água, espalhava no seu ser, com frescura, o contentamento de mais um dia vivido intensamente a rezar.
Quousque tandem abutere, Albertus Martinus, patientia nostra? Quamdiu etiam prosapia ista tuas nos eludet? quem ad finem sese effrenata jactabit audacia?.
Tradução erudita:
Até quando, enfim, ó Alberto Martins, abusarás da nossa paciência? Por quanto tempo ainda essa tua proposápia mos enganará? Até que ponto a (tua) audácia desenfreada se gabará (de nós)?
--Lendo Cícero, Primeira oratória de Cícero contra Catilina (Oratio Prima (Habita in Senatu) - 8/11/63 a.C-- .) - Exórdio. Cícero censura a vergonhosa audácia de Catilina.
Tradução vernácula:
Ó Alberto Martins, mete a tua "ética republicana" no olho do cú!
-- Vox populi - taberna do César. Entre dois "penalties" de tinto e à frente de um pires de orelheira.
O "staff" governamental chegou mesmo em cima da hora aprazada. Para a fotografia distribuíram vários computadores "magalhães", que foram estrategicamente espalhados pela sala de aulas, com um rancho de alunos sorridentes a compor o quadro.
O Governante fez a declaração da praxe para a propaganda, os jornalistas a registaram, e no fim, os computadores, porque ainda não estavam pagos e o processo administrativo atrasara, foram novamente empacotados.
O secretário de estado foi visitar uma escola na sua região de origem onde é conhecido de ginjeira, especialmente depois da recambolesca e pouco edificante história da sua conquista da presidência do instituto politécnico, que foi muito glosada na imprensa regional.
À saída, um professor que o conhece de outros carnavais, gritou-lhe:
- Ó jeitoso, não pensas ser secretário toda a vida, pois não? Quando voltares ajustamos contas!
Como passaram os anos
Pela velha amendoeira
Do quintal!
A velha amendoeira foi secando
E com ela, as lembranças da minha gente
Que lhe varejou as amêndoas
Vão-se desvanecendo também
No meu pensamento
Há medida que por ela
Passa o tempo.
E chegará um dia em que o machado
Cortará cerce a velha e inútil amendoeira
E com ela as minhas memórias.
Um dia
Que aguardo
Com dolorosa
Ansiedade
Sentado
No muro do horto
A ver como a velha amendoeira
Morre
Lentamente!
E com ela...
morro eu
também!
A inveja é um sentimento muito feio
Mete na cabeça que não tou aqui a competir num torneio
Não é andar aos empurrões para ver quem chega primeiro
Ser verdadeiro, não é imitar o que vês na tv o dia inteiro
Não é por eu ter contrato, que és mais real do que eu
Tu não sabes metade do que já me aconteceu
Hip Hop não é banda sonora de um crime
E se pensas que ser thug impressiona, enganas-te deprime
Se pensas que para chamar a minha atenção tens que falar mal de mim
Enganas-te outra vez porque eu não funciono assim
Hip Hop é dar propz a quem quer que os mereça
Hip Hop é ouvir este granda beat e abanar a cabeça
Breakdance, Graffiti, DJ, MC
Beatbox, street wear, rimar no m.i.c.
A discoteca a deitar por fora, o people com as mãos no ar
O DJ a mixar a pôr a tropa a dançar
Hip Hop don’t stop, traz a tua crew a festa é aqui
DJ, B-Boy, ouvinte ou mc, Hip Hop sou eu e és tu
Hip Hop don’t stop, põe as mãos no ar, sente o beat
Throw your hands up and move your feet
Boss AC sou eu e és tu
Hip Hop é a gasosa que me faz andar
É o Sol lá em cima á noite é o meu luar
É a razão yo de eu estarmos aqui
Hip Hop é usar um nome que não estava no B.I.
Vestir XL usar chapéus ao contrário
Hip Hop é usar palavras que não vem no dicionário
É acordar ás tantas para fazer um ganda beat
È copiar os passos de dança do Beat Street
Dizer o que mais ninguém diz
É não ter dinheiro mas mesmo assim ser feliz
É ouvir um som e ficar tipo em transe
É uma definição que não está bem ao nosso alcance
É passar numa rua e deixar lá um tag
Hip Hop é desafiar o MC que se segue
É modo de vida, modo de ser, modo de estar
Hip Hop é o que sou e o que sou vou continuar...
Hip Hop é teres o direito de discordar do que quiseres
E não é menos Hip Hop só porque falas de mulheres
De certa forma Hip Hop é estar na política
Não aceitar tudo calado, é desenvolver consciência crítica
O som que analisa, critica, contesta
Não te esqueças que Hip Hop também é festa
Ritmo e poesia é o que nos caracteriza
E quem não sabe dançar improvisa
Boss AC
Senhor, fazei com que eu aceite
minha pobreza tal como sempre foi.
Que não sinta o que não tenho.
Não lamente o que podia ter
e se perdeu por caminhos errados
e nunca mais voltou.
Dai, Senhor, que minha humildade
seja como a chuva desejada
caindo mansa,
longa noite escura
numa terra sedenta
e num telhado velho.
Que eu possa agradecer a Vós,
minha cama estreita,
minhas coisinhas pobres,
minha casa de chão,
pedras e tábuas remontadas.
E ter sempre um feixe de lenha
debaixo do meu fogão de taipa,
e acender, eu mesma,
o fogo alegre da minha casa
na manhã de um novo dia que começa.”
I
Desespero
A ME proclama aos quatro ventos para quem a quiser ouvir, que os sindicados “rasgaram” o memorando de entendimento sobre avaliação já assinado e em vigor. Mas a verdade é bem diferente:
Na reunião, a ME apresentou um ultimato; ou a FENPROF assinava o memorando, ou os professores contratados não eram avaliados, ficando impedidos de concorrer no próximo ano lectivo. “Tout court”!
A FENPROF, para não prejudicar os seus associados mais fracos, não teve outro remédio que não fosse assinar sobre reserva, ditando um texto adicional ao memorando em que se comprometia a lutar contra o modelo de avaliação que iria subscrever.
Ora, qualquer pessoa minimamente informada em direito sabe, que um contrato assinado sobre coacção é anulável dentro do ano subsequente à cessação do vício.
E qualquer pessoa minimamente informada em direito sabe também que uma declaração sob reserva mental é uma declaração não séria, com os mesmos efeitos da simulação, isto é, ferida de nulidade invocável mesmo entre as partes a todo o tempo.
A FENPROF rasgou o famigerado memorando? E de que é que a ME estava à espera, depois de coacção e de reserva mental tão descarados?
Ajudem-me, que sou fraquinho de cabeça; a senhora tem mais de burra ou de mau carácter? Ou é só desespero?
II
Sem Vergonha
Depois de uma longa maratona de inquérito na comissão parlamentar de finanças, um deputado da oposição perguntou ao governador do Banco de Portugal se, perante tudo o que ficara patente, “ainda achava que tinha condições para ocupar o cargo” .
Pergunta inútil, é mais que evidente!
O ordenado chorudo de um governador, com todas as alcavalas inerentes, designadamente reforma milionária, despesas de representação e indemnização no caso de destituição, é lógico que são “condições” supimpas para o cargo!
E a resposta, não tardou, audível: “Claro que sim”!
Mas também, que resposta se esperava de quem perde o tempo que lhe pagamos, a confabular sobre as vantagens ou desvantagens da energia nuclear?
III
A face de Jesus
O Hospital de S. José, num acesso febril de produtividade, cujos resultados não se vêm, impôs como objectivo para o capelão, um número mínimo de visitas aos doentes.
E porque não, já agora, de extremas-unções, confissões e velórios; pergunto eu?
O trabalho de um capelão é o mais humanitário e importante de um hospital, porque trata do conforto espiritual dos doentes, que muitas vezes é meio caminho andado para a recuperação do corpo. Não é mensurável, porque tem a ver com as coisas do espírito. E é tudo!
O capelão em causa, porque é um homem de fé e de valores, demitiu-se sem pestanejar, mandando às ortigas o salário mais as alcavalas inerentes!
Mas conhecendo a generosidade de alguns capelões, aposto que este continua a fazer as visitas mesmo sem o salário e as alcavalas de que prescindiu!