Lavrar o campo,
Leivas cumpridas
Alto a baixo,
A direito,
E o “cadabulho”
Bem feito
Ao cimo e em baixo,
Como as margens
De uma página
Em branco.
Lançar depois a semente
Colorida, Multicolor,
Como fazem os poetas,
Arica-la, ceifa-la, malha-la,
Moe-la, tende-la, coze-la,
E depois de tanta canseira
Sair um poema,
Bem fermentado,
Numa cor de terra,
Que nunca chega a apagar-se,
Cheirando a serra,
A campo,
Do forno
Para a mesa.
E o mundo inteiro vir
Saciar a fome.
No tempo em que a tia Teresa, filha das mais ilustres famílias caldenses e comunista retinta, vivia com a minha mulher, apareceram lá em casa, a “cravar” o jantar, os camaradas Carlos Carvalhas e Octávio Teixeira, vindos de uma extenuante reunião partidária na cidade.
Como não eram esperados, as mulheres da casa improvisaram como puderam o jantar: Fez-se uma comida macrobiótica, de que a tia é indefectível seguidora, cabendo à minha mulher a confecção do arroz, que recomendou aquela, devia «sair bem soltinho, como gostavam os camaradas».
Por inexperiência nas lides domésticas da minha mulher, éramos na altura recém-casados, o arroz não lhe saiu solto como a tia recomendara.
A travessa de barro, com aquele arroz “malandro”, deleitaria, pela sua singeleza rústica, o coração de um campónio e julgava a minha mulher, também o dos camaradas.
Estes lá abancaram resignados, perante a travessa do arroz, e o Octávio muito tempo, pensativamente esfregou com o guardanapo o garfo. Depois, desconfiado, provou uma garfada do dito, que era pastoso, como argamassa de cimento. Provou timidamente, e levantou para o Carvalhas, seu camarada de partido e aqui, de infortúnio culinário, uns olhos que luziam, surpreendidos. Afastou o arroz sub-repticiamente para um lado do prato e comeu somente os legumes e o peixe.
À pergunta da minha mulher, se não havia apreciado o arroz, desculpou-se, muito polido:
- Não, está óptimo! Eu é que não tinha fome.
- Aliás, divino – corrigiu o Carvalhas, levando estoicamente uma garfada à boca - assim em argamassa, é um verdadeiro arroz proletário!
E o Octávio, percebendo que estava em família, concordou:
- Precisamente no ponto para rebocar paredes!
E rindo todos, o vinho caindo de alto, de finíssima jarra em vidro, um vinho gostoso, penetrante, vivo, quente, que tinha em si mais calor que o borralho da lareira, assim se jantou burguesmente naquela noite de Inverno, à volta de um arroz proletário, que foi inteirinho para o lixo.
Olavo Bilac
Vilar Maior, tantos de tal
Meu Caro,
És poeta? Subiste às nuvens com a fama? Deixa-te de peneiras e aterra, que isso de ser poeta é uma grande treta, te digo eu, que sou teu amigo. Os poetas, nas palavras de um célebre humanista do séc. XV, «formam uma raça independente, que constantemente se preocupa em seduzir os ouvidos dos loucos com coisas insignificantes e com fábulas ridículas. É espantoso que com tal proeza se julguem dignos da imortalidade». E continua: «esta espécie de homens, está, acima de tudo, ao serviço do Amor-Próprio e da Adulação». Lembra-te das sábias palavras de S. Jerónimo: «ματεωτας ματεωτετωυ ταπαυτας ματεωτευ». Vaidade das vaidades, tudo é vaidades.
Escreveste um livro? Dois? Três? E depois? A Fátima Lopes, o Rodrigo Guedes de Carvalho, o Sousa Tavares, também escreveram! E só por isso são escritores? Valha-nos Deus! Se eles são escritores eu sou Petrarca! E digo-o com a mesma autoridade com que o Vasco Polido Valente, essa figura singular da nossa praça, chamou ao Aquilino «escritor medíocre».
Fica sabendo que é mais fácil a um idiota ter cenotáfio no Panteão Nacional, que um bom poeta ser reconhecido pelo público. È até fácil reconhecer o valor de um homem nos vários campos do humanismo. Mas um poeta? Sim; um poeta? Poderá alguém saber que é um poeta? E Grande? Ri-te, que rirei eu no fim!
Pois bem, para veres que não é a dor de cotovelo, mas a amizade o motivo desta minha carta, aqui te deixo um exemplo concreto citado por Delfim da Costa, em como esta coisa de ser poeta depende mais de interesses pessoais e conhecimentos nos meandros da crítica, do que de critérios literários.
Escrevia o insuspeito Urbano Tavares Rodrigues, em meados de sessenta, a respeito de um neófito poeta e seu livro:
« Os versos encantadores de … (omite-se o nome do livrinho) anunciavam já a problemática que hoje enriquece a vida mental de… (ressalva-se o do autor por pudor) e, sendo esses versos, como são, de bonne frappe (esta foi de mestre!), revelam o poeta lírico, que uma vez controlado por mais áspera auto-crítica, juntando o refinamento estético ao temperamento emocional que lhe exalta e acende as vivências – parece capaz de todos os voos».
Agora ouve, meu caro, o que o Diário de Notícias disse: « … , afirma-se poeta de lei, vivendo a emoção sentimental e sabendo exprimi-la sinceramente em versos embaladores, melodiosamente ritmados, matizado o pensamento de imagens multicores, ora na singelez popular das redondilhas, ora na gravidade austera dos decassílabos heróicos ou na majestosa imponência dos alexandrinos, modelando em formas harmoniosas a essência da inspiração».
O Primeiro de Janeiro, num rasgado elogio, apregoou urbi et orbe o certificado de pedigree do poeta «… é o livro dum poeta. E publicam-se tantos livros de versos, tão poucos poetas se revelando, que é agradável ler um livro como este em que a chama da poesia se sente crepitar. … trabalha a redondilha com toda a graça e subtileza.»
E ficamos por aqui nos elogios da crítica, porque pela amostra já vês, meu caro, o calibre da questão. Nada melhor que dar-te a saborear a voz do tão elogiado poeta, para sentires a forma «emocional em como ele exalta as vivências», em como «faz crepitar a inspiração»:
Humanismo integral. Assim se intitula o poema.
Na escola ensinava o mestre
Com seu ar profissional:
-Nunca se esqueçam: O homem
é animal racional.
Mais tarde, na aula de filosofia,
Dizia outro mestre com voz beatífica:
-Animal é o género próximo
racional é a diferença específica.
Uma mulher (que lidou comigo
Em convívio ideal
Levitando em profunda abstracção)
Dirá que sou um intelectual!
Nenhuma conseguiu ter
A minha visão total:
O excesso de ambas as coisas:
-Animal e racional.
Reconheces o «refinamento estético», o temperamento emocional, que lhe exalta e acende as vivências»? «os versos harmoniosamente ritmados»? «as imagens multicolores»? «a singeleza popular das redondilhas»? «a gravidade austera dos decassílabos ou a majestosa imponência dos alexandrinos»? Não??? Ainda duvidas que se trata de «um poeta de lei»? Duvidas, meu caro? Pois deixo-te com o elogio de um imortal, Júlio Dantas (nem mais nem menos), a respeito do mesmo livro e poeta. Este não vais contestar:
«Acabo de ler o seu livro. De todo o coração o felicito e lhe agradeço. Estamos na presença dum poeta. Nos seus versos há poesia (poesia verdadeira!), há alma, há vida, há centelha, há clarões, há talento às mãos cheias»
Dixit Júlio Dantas! Voltemos novamente ao poeta, só por causa das teimas:
Inspiração, se chama estoutro poema.
Para fazer os meus versos
Não posso ficar em casa.
O tecto prende-me a alma
Inquieta qual bater de asa.
A secretária e a cadeira
Não bastam para os poemas:
Não cabe lá a alma inteira
Nos seus variados temas.
Sublime inspiração! Aqui de facto «há vida, há centelha, há clarões, há talento às mãos cheias»! Agora outro poema, e não te maço mais, meu caro, só para veres o que é o erotismo, bem à portuguesa, do referido poeta. Esqueçamos o título e vamos ao que interessa:
Quanta mulher fascinante
Beijei
E (julgava…) amei
Pela manhã adiante
E logo esqueci
Com a indiferença que sinto
Por todo o jornal que li.
Mais palavras para quê? Como vês, meu caro, já muito homem ilustre se enganou e iludiu publicamente acerca do que é ser poeta e do que é boa poesia. Não te deixes pois tu iludir também com os brados de entusiasmo, muito menos com os que forem iluminados pelo clarão da tua nova e recente poesia. Lembra-te sempre que, como dizia Bernardim Ribeiro no seu famoso poema, «perdigão perdeu a pena… não há mal que lhe não venha», que para bom entendedor, o mesmo é dizer: «Quem muito alto sobe, muito baixo desce», também!
És poeta? E depois?
O teu
(ass )
Ontem “pesquei” da estante um livrinho da minha juventude, que agora tenho à cabeceira e ando a reler. Trata-se do Hamelet de Shakespeare.
Inevitavelmente, relendo o Hamelet, cheguei ao capítulo, em que ele rejeita o amor de Ofélia, para seguir o seu destino, entrando num jogo de palavras e conflito crescente com o sábio Polónio, para depois morrrer à espada e veneno do filho deste, Leartes
Esta passagem do texto, sendo a mais citada da obra, é quanto a mim a chave do enredo, mas não com o sentido que muitos estudiosos lhe dão, porque o eixo do enredo está no confronto entre Hamelet e o sábio Polónio e não entre Hamelet e o incestuoso e assassino rei da Dinamarca.
Chegado aqui na trama, Hamelet cai em si, e dando-se conta que está numa encruzilhada da vida ( “Ser, ou não ser – eis a questão”) tem de optar por dois caminhos: o do homem sábio, ou do homem louco para atingir os seus objectivos:
«Ser, ou não ser – eis a questão. Será melhor nobreza de alma sofrer a funda e as flechas da fortuna ultrajante ou pegar em armas contra um mar de infortúnios, pondo-lhes um fim? Morrer… dormir… nada mais. È belo como dizer que pomos fim ao desgosto e aos mil males naturais que são a herança da carne. È esse um fim a desejar ardentemente. Morrer… dormir… dormir… e talvez sonhar! Sim, eis o espinho. Pois que sonhos podem vir desse sono da morte, depois de libertos do túmulo da vida? Eis o que deve deter-nos. Eis o que nos faz a consideração da calamidade de uma tão longa vida. Pois quem suportaria as chicotadas e as mofas do mundo, a tirania do opressor, a insolência dos orgulhosos, as dores do amor desprezado, as delongas da lei, a arrogância do poder, o desdém que o mérito paciente recebe dos indignos, quando podia buscar a quietude com um simples estilete? Quem suportaria tais fardos, protestando e suando numa vida dura, se não fosse o receio de qualquer coisa depois da morte, dessa região não descoberta e da qual nenhum viajante regressa, que lhe quebranta a vontade e faz que antes queira sofrer os males da Terra que voar para outro de que nada sabe? Assim, a consciência faz de nós uns covardes; assim a cor primitiva da resolução descora perante a pálida luz do pensamento e empreendimentos de grande porte e importância desviam a sua rota e perdem o nome da acção. Acalma-te agora bela Ofélia! – Ninfa, nas tuas preces, recorda todos os teus pecados.»
A sabedoria faz de nós uns covardes, segundo Hamelet. O sábio refugia-se nos livros, aprende as abstracções e por defeito de raciocínio, hesita na acção, porque está sempre preocupado com a verdade. O louco ao enfrentar a realidade e os perigos, ao ousar sem preocupação do amanhã, adquire o bom senso, o saber resultante da experiência, que é o melhor de todos. Já dizia Homero, apesar de cego, que “o louco aprende à sua custa”.
Por isso o sábio é desprezado porque nada compreende da vulgar existência humana. Não foi a acusação de sabedoria que condenou Sócrates a beber cicuta?
É pois aqui que bate o ponto da fala de Hamelet. A verdadeira sabedoria consiste em procurar não saber mais do que aquilo que não está na natureza dos homens, em ir na corrente da maioria, e se possível anonimamente, sem errar. Só isso nos faz suportar as mofas do mundo, a tirania, a insolência o desprezo. É a perfeita loucura? Talvez, mas é assim que se representa a comédia da vida.
Hamelet chegou precisamente a esta conclusão. Refinadamente, mas chegou! E a seguir põem-na em prática dando largas a esta sua loucura, (ou será bom senso?) no diálogo que trava com Ofélia:
«Vai para um convento. Porque havias de ser uma fonte de pecadores? Eu próprio sou relativamente honesto. … Sou muito orgulhoso, vingativo, ambicioso… para que hão-de os homens como eu rastejar entre o céu e a terra? Somos todos refinados patifes. Não acrediteis em nenhum de nós. Vai para um convento… Se te casares, rogar-te-ei esta praga como dote: que sejas casta como o gelo, pura como a neve. Nem assim escaparás à calúnia. Vai para um convento Vai! Adeus! Ou se quiseres casar, casa com um louco! Pois que os homens de juízo sabem bem os momentos que deles fazeis. Vai para um convento, vai, e depressa. Adeus.».
Hamelet chegou à verdade, pelo caminho da loucura. Porque é louco atingiu o senso comum. È mais sábio que todos os «homens de juízo». Por isso Ofélia conseguirá enganar estes, que são os verdadeiros loucos, mas a Hamelet, o falso louco, não, porque tem bom senso. E cada vez mais demente, Hamelet leva às últimas consequências o seu discurso, porque como dizia Eurípedes «o louco é louco»; diz tudo o que lhe vai na alma. Hamelet despreza o amor de Ofélia e di-lo sem hesitar:
«Também ouvi falar bastante das vossas pinturas. Deus deu-vos um rosto e vós fazeis-vos outro. Passeais, meneai-vos, falais com afectação, pondes nomes às criaturas de Deus e afectais ignorância para cobrir a vossa insensatez. Não quero mais isso, que me pôs louco. Não teremos mais casamento… vai para um convento.»
Trocando por miúdos: Hamelet chama a Ofélia frívola de mentirosa, coquette, cabeça de vento. A mentira em que ela o iludia, essa sim é que o pôs louco. Esta loucura, a má, é que ele não quer mais.
E Ofélia, que lá seria frívola, mas não era parva, apercebendo-se que Hamelet abrira finalmente os olhos e que dali já não leva nada, lamenta-se, acusa o toque:
«Oh nobre espírito transtornado! … eu a mais desgraçada e triste das mulheres, eu que saboreei o mel das suas doces palavras, vejo agora esta inteligência nobre e soberana desafinada e rouca como um sino rachado, esse corpo e esse rosto sem par da mocidade em flor emurchecido pela loucura. Oh pobre de mim! Oh pobre de mim! Visto o que vi e ver o que vejo!»
O que Hamelet, no fundo pretendia, era enganar Polónio, expião e conselheuiro do rei, para levar a cabo a sua vingança. O amor de Ofélia era marginal nesse caminho e uma ilusão. Para conseguir os seus objectivos, tinha que ser louco e quanto mais louco melhor. E nem toda a loucura é prejudicial por definição. A de Hamelet não era seguramente porque tinha um objectivo: A vingança! Há loucuras e loucuras! Horácio não dizia: «Não sou eu o joguete de uma saudável loucura?» e Cícero numa carta a Ático não dizia que «a demência era um dom dos deuses, que permitia o esquecimento dos males?»
E é tão saudável a loucura!... Salomão, cuja sabedoria é lendária, dizia que a «loucura faz o gáudio do louco», isto é, sem a loucura a vida não faz qualquer sentido; E noutro passo, que «o coração do sábio está com a tristeza, a do louco com a alegria». O sábio é infeliz, o louco feliz.
«Ser ou não ser» – é pois uma excelente questão, porque nela se contém a chave da sabedoria!
Aqui ficam as simpáticas palvras do Júlio Marques sobre a minha mãe, e que me fizeram sorrir:
Não queria que este blog se tornasse num boletim necrológico. Mas este ano a morte veio e bateu à porta de um, e outro e outro até final do ano. E neste berço onde nascemos, nesta terra onde vivemos, todos somos actores, todos somos protagonistas de uma história que tem aspectos trágicos, aspectos cómicos, que tem todos os ingredientes de um conto. No último mês do ano bateu à porta de Isabel Valente. Podíamos dizer que era uma mulher levada do diabo. Para os menos conhecedores das expressões usadas pelo povo deve-se dizer que levada do diabo nada tem de perjorativo. Pelo contrário, significa uma mulher de armas do género da minha avó Isabel: activa, trabalhadora, empreendedora.
A minha imagem de Isabel Valente é em cima da burra indo ou vindo da Correia ou do Porto Sabugal; de uma mulher alegre, conversadora e bem disposta. Era sempre um prazer cruzar com ela porque a salva era sempre uma verdadeira saudação.:
(in "vilarmaior1@blogs.sapo.pt)
Foto provocatória de Luis Pacheco
Aqui fica o extracto de uma magnífica carta datada de 1965, de Luiz Pacheco, um dos maiores expoentes do nosso surrealismo, cheia de ironia e fraternidade a Mário de Cesariny (no tempo em que ainda se falavam), o qual se encontrava a viver em Londres com uma bolsa da Gulbenkian, em casa de Ricarte Dácio.
“Caldas da Rainha, 29 de Julho
Mano! Querido mano!
Hoje tive notícias tuas… pelo teu poema do “Diário de Notícias”-. Do princípio do mundo/até ao fim do mundo por cá está tudo na mesma. Dirás que temos um novo Presidente da República – mas não o achas tão parecido com o anterior e de mesmo com alguns da Dinastia Bragantina, D, João IV à cabeça?
Terás estranhado o meu silêncio, e muito depois da recepção, não esperada mas desejada, de um vale dos Restauradores, signé Dácio de Oliveira (miles)… Digo-te que veio mesmo no fim. Nesse dia tinha eu ido à SECLA (fábrica de cerâmica nas Caldas onde Pacheco chegou a trabalhar)… e chego a casa mais emburrado que nunca e a minha tosca mostra-me o vele; até acabar, e acabou logo no dia seguinte, não parámos de semear dinheiro por credores caldenses, já um tanto desamparados de esperanças de verem o deles. Mas isto é lamúria; mudei muito de então para cá: ADERI AO ARTESANATO. Resolvi entrar na marabunda, usando as armas que vejo usar e fazendo o mesmo que os outros fazem, Agora sou um homem dividido, uma espécie de Dr. Jenkill e Mister Hyde; desfaço de noite o que fiz de dia (mito de Penélope caldense), aldrabo de dia o suficiente para ser eu de noite. Achas que isto se pode manter???! A ver vamos.
… Tenho andado preso com traduções (artesanato, Mano!) mas na iminência da chegada de outro membro da tribo – que queres que faça? Temo-nos abeirado demais da fome, real e sem pão, tomates com um azeite, ou óleo, de chicharro com oito dias de reserva (delicioso tomate e delicioso cheiro a peixe), para nesta altura e com agravames certos a curto prazo poder estar a olhar para o lado. Traduzi agora em 15 dias um livro para a Ulisseia; traduzi uma peça para o Solnado… Do Nadeau não sei nada, nem o Vítor me disse nada…O meu livro continua à espera de A Nota do Autor Aos Quarenta Anos, já escrita em borrão e que saiu enorme, 100 págs. De máquina, 10.000 palavras, + ou -. Agora vê tu: O livro não sai por causa da Nota, a Nota (a nota a que se referia era o prefácio à antologia da poesia erótica, que insistentemente lhe pedia Vítor da Silva Tavares, da Ulisseia) não me sai por causa do artesanato. Círculo vicioso que os tomates com óleo de chicharro nem sempre chegam para aguentar ou furar. E depois…
Na última carta pedias-me para responder à penúltima. Em Junho, falavas do Nadeau, como atrás ficou dito nada sei e, por ora, tenho até a impressão que não devo ser eu a falar nisso. Aliás, a nova geração, a novíssima, já deitou unhas a esse filão: o Ramos Rosa (este homem persegue-nos!) traduziu para a presença um livro sobre surrealismo ( o art.º do cautela de ontem no JLA vem muito cortado – e ainda bem que é asneira que se farta) dum italiano não sei de quê.ini. (há muitos por lá com este nome, Gordini, Papini, etc.). de modo que se a Ulisseia não se apressa…
Aqui nas Caldas estarias bem, suponho (em relação a certas pessoas cartonadas ou cracházadas). Mas não comprometas, ou compromete mesmo se te apetecer a tua situação. Para o mais e o antes do resto, cá me tens. Se queres dinheiro, diz (há-de se arranjar). Se queres casa, diz (ainda cá cabes). E aquilo do tomate nem sempre é verdade: falei nisso porque basta que seja uma vez verdade, para eu já não gostar. E quem gostaria?
… Desculpa a minha carta que vai longa: mas começando a falar dou nisto. E para mais já não falava contigo à semanas. Vive o mais que possas. Pensa um pouco em mim. E tem um pouco de pena, quando essas névoas londrinas te pungirem deste sol de cá, (que o sol não é tudo) deste mano pró-caldense, tão lucidamente enrascado, que premeditadamente ainda se procura enrascar mais. Irão folhetos. Espalha pela Europa. As Coplas são de pé quebrado mas a raiva que vai nelas é toda inteirinha, dos pés à cabeça.”
(tirada do livro "Pacheco Versus Cesariny", editora manhosa!)
"No tempo em que o povo sabia poesia, cantava cantigas e bailava nos largos da aldeia.
Destas pessoas, poucas mais restam que a ti Olinda, que entre muitas outras me confiou esta. Fez 100 anos neste mês de Setembro e continua sã de corpo e sã de espírito.
Ao romper da bela aurora
Sai o pastor da cabana
A gritar em altas vozes
Muito padece quem ama
Muito padece quem ama
Mas muito mais quem namora
Mais padece quem não vê
Os seus amores a toda a hora
Na serra é que se encerra
Os segredos do amor
O leite é branco pr’a gente
Só é negro pr’ao pastor
Ó minha pombinha branca
Quando há-de ser a hora
Que eu te veja dar o salto
Do teu pombal para fora
Da tua casa para fora
Da minha para dentro
Para podermos combinar
O dia do nosso casamento"
(do meu conterrâneo Júlio Marques, in "Vilarmaior1.blogs.sapo.pt")
Hum...
Disse que te amava?
Foi??
Ora ...
Esquece!
"O amor é cego!"
E
Há momentos na vida
Em que mais valia
a um homem
Calar-se!
Outro dia comentava com o Bernardino a dificuldade em arranjar uns sapadores florestais para me desbastarem a mata da Atalaia, ao que jocosamente este observou:
- Aí, só a limpeza da “foice” do ti Diogo, que tudo levava à frente.
A “foice” a que se referia o Bernardino, era o fogo. Veio então à baila o longínquo dia em que o ti Diogo, incendiou as medas de pão do Manuel Simões e o deixou “a pão pedir”com cinco filhos pequenos. Passaram um ano de fome os coitados.
- Foi um incêndio, de como não há memória – lembrou o Bernardino.
Depois contou como nessa noite, a ti Celeste, que tinha fama de sovina, assustada com o enorme clarão do incêndio, foi à dispensa e, trazendo o presunto e uma garrafa, propôs ao estremunhado ti Zé Franco:
- Comamos e bebamos, homem... que vem aí o fim do mundo!
Levou cinco anos de prisão o Diogo por aquela façanha, no tempo em que ainda havia justiça.
Esta conversa do Bernardino recordou-me o velho Diogo, encurvado, de andar vagaroso, sem o qual eu não consigo imaginar a Ladeira da Cruz, a minha aldeia, os meus tempos de rapaz; era um homem enigmático, cujo passado incendiário o votou ao ostracismo da aldeia e dava origem a todo o tipo de conjecturas e suspeições. Havia um incêndio na Folha das Moitas? Fora o ti Diogo. Faltavam pimentos na horta da ribeira? Fora o ti Diogo. Desaparecera a galinha do poleiro? Fora o ti Diogo! Também a garotada alinhava neste jogo, atirando-lhe chufas, quando passava:
- Há fogo! Há fogo no cu do ti Diogo!
E o ti Diogo, fazia a sua vida, indiferente às chufas, alheio à indiferença dos outros, amanhando uma horta que tinha lá para as bandas das Retortas., mesmo por baixo da minha Correia.
Pois era por estes empedrados caminhos da minha aldeia que o velho Diogo passava apoiado na sua pequena sachola, sempre que vinha das Retortas, o que fazia todos os dias pela manhã e pela tardinha, fosse dia de semana ou de nomeada. Lembro-me dele por estes caminhos, como um homem franzino, já alquebrado pela idade, com um coto no braço esquerdo, que lhe ficara de um acidente de pesca à bomba, olhos de um azul clarinho, translúcido, vestido de forma andrajosa, sempre com barba de semana; uma eternidade a subir a ladeira no passo instável e pesado.
Eu, rapazola, quando vinha da Correia e assomava ao Pombal, vendo-o a subir a meio da ladeira, fazia com ele sempre o mesmo jogo: Deitava a correr, Pinguelo abaixo, dobrava a horta do Seixas subindo a ladeira, e alcançando antes dele a cruz, cumprimentava-o:
-Boas tardes ti Diogo!
E ele, apoiando-se na sachola, sem se virar, correspondia ao cumprimento com um invariável:
- Boas tardes nos dê Nosso Senhor!
E estas palavras, tenho a sensação, eram as poucas que trocava com alguém da aldeia durante anos a fio.
Três reis de gente
Três reis de moeda sem valor
Três reis de gente
Três reis de coisa nenhuma
È a cotação
De muita boa gente.
Três reis de gente
Três reis de nada.
Cheguei na terça. Na véspera, o grupo dos meus amigos que se reúne em férias, limpou e sinalizou o trilho do castelo, sobre o Cesarão. Falaram-me então do projecto em adquirirmos e recuperarmos para as nossas patuscadas um dos velhos moinhos, que existem num dos pegos do rio.
Foi assim, que nesse dia pela tardinha, resolvi fazer o percurso do novo trilho e visitar o moinho em causa.
O passeio, trilho acima, desde o moinho dos Gatas, foi encantador. Fi-lo eu muitas vezes na juventude, e sei bem como a esta hora do dia, aquela subida é um pequeno recanto do paraíso, com a fresca sombra das fragas e das árvores, toda a sorte de canto dos pássaros nos ramos; nogueiras, carvalhos e cerejeiras a descerem aquela íngreme encosta até ao rio, num matizado tão peculiar de verdes, que seria digno de um quadro naturalista de Silva Porto.
No início do trajecto, a “mina da moura”; mais acima as “escadinhas” que o capricho da natureza rasgou na fraga e no topo destas, para deleite das almas ingénuas, bem desenhada numa das lajes, a ferradura da jumentinha que levou Nossa Senhora com o Menino na fuga para o Egipto. De um lado e de outro, tapadas incultas e a copa dos salgueiros e freixos abaixo da cota do caminho, fazendo-nos parecer autenticas aves de rapina a pairar sobre as veigas e os moinhos no vale estreito lá em baixo.
Já no fim, quase a chegar aos vestígios da muralha, um carreiro desce, íngreme, por meio de um nogueiral, até ao moinho abandonado da “Maria Lua”.
O moinho é pitoresco, edificado em pedra solta e já sem telhado, a sua roda enorme tombada à porta, imóvel, quase coberta de ervas bravas. Adossado à água gélida do charco que o rio seco ali formou, tem um pequeno curral semi-derrubado, onde crescem a esmo cardos bravos, por entre a erva pintalgada de papoilas e botões-de-ouro.
Como vinha cansado, sentei-me na cumeeira podre do telhado, que mergulhava na água do charco uma das suas extremidades; e ali fiquei um momento em silêncio, no encanto daquela frescura de fim de tarde, ouvindo um melro que andava pela ramaria a assobiar.
Levantando-me para melhor ver o melro, descobri que na clareira em frente à moita, que encobria este singular tesouro, um fio de água ainda corria, brotando entre as rochas, caindo sobre uma pequena laje côncava, onde fazia um pequeno tanque, antes de se escoar para o pequeno charco do rio. E ao lado, na sombra de um freixo, jazia outra mó, tombada e musgosa. Um cheiro errante a poejos subiu então das relvas altas, junto a esta mó, adoçando o ar luminoso.
E olhando o sol a cair a pino sobre o Pombal dos Bárbaras, bocejei com fome. Apeteceu-me uma açorda de poejos. E colhendo um raminho deles, exclamei:
-Ah João, João! Que paz, que sossego, este recanto do moinho abandonado da “Maria Lua”!
Mariana; Mariana
Minha flor,
Onde vais tu Mariana?
Onde vais tu, meu amor?
É um “bichano”, tio!
Larga a mão! Larga, tio!
Mariana; Mariana
Minha flor,
Anda cá Mariana!
Onde vais tu, meu amor?
A Mariana quer o “bichano”!
Olha tio… Que lindo!
Mariana; Mariana…
Olha que o gato arranha…
É mansinho… Vês, tio?
Mariana, Mariana…
Deixa o gato Mariana!
È mansinho… Vê, tio!
Mariana! Mariana!
Anda cá Mariana!
Já vou! Já vou, tio!
(Miaaauuuuuuuuuuuuu!)
Que foi, Mariana?
O “bichano” fez “doidoi”… Olha, tio…
O tio não avisou, Mariana?
Sim… Avisou...
E agora que fazemos, Mariana?
Agora dás um beijinho…
Assim…no dedo; vês, tio?
Aqui deixo, para variar, uma peça processual, exemplificando como a advocacia é uma actividade bem “criativa”, ao contrário do que muitos pensam. Este requerimento vai em raciocínio “circular”, de lógica cartesiana difícil para desmontar. Deseja-se boa sorte à senhora Procuradora, para o contraditório!
Exmo. Senhor Doutor Juiz de Direito do
Tribunal da Comarca de …
Inquérito
Proc. N.º …
F…, arguido nos autos do processo referido em epígrafe, tendo sido notificado da douta acusação de fols. 4047 e ss, vem nos seguintes termos e dos do art.º 286.º CPP com os seguintes fundamentos requerer
Abertura de Instrução
1.º
Compulsando os autos, que analisou de ”cabo a rabo”, designadamente escalpelizando os factos, o arguido F…, se os pudesse resumir, fazia-o no o seguinte brocardo popular:
“Nem tudo o que parece, é!”
2.º
Até porque, o que o desiderato fáctico que as escutas supostamente indicia, jamais aconteceu. O arguido vai tentar explanar o seu ponto de vista, com a maior objectividade, clareza e concisão possíveis, porque, como dizia Molina, famoso jurisconsulto espanhol do séc. XIX, nisso está a transparência da verdade:
3.º
De facto,
A intercepção e gravação de conversações telefónicas são ordenadas ou autorizadas quanto a crimes “com pena de prisão superior, no seu máximo, a três anos” e havendo, “ razões para querer que a diligência se revelará de interesse para a descoberta da verdade ou para a prova” ( al. a) n.º 1 art.º 187.º CPP), e nos termos dos condicionalismos legais e constitucionais que certamente já o arguido B… terá argumentado no seu requerimento de abertura de instrução não haverem sido respeitados, pelo que aqui desde já, “às cegas” e para não ocupar inutilmente o precioso tempo de V. Exa., o arguido F… faz seus tais argumentos, com as legais consequências, designadamente de nulidade de tais meios de prova utilizados.
4.º
Mas as “escutas telefónicas” que sustentam a acusação, ultrapassam nesta a função de meio acessório e auxiliar de prova, para constituírem elas mesmas os próprios factos da acusação e, para absurdo da própria acusação, serem, face ao desiderato desta, inadmissíveis neste caso concreto.
5.º
Explicitando melhor:
As “escutas” para serem admissíveis e utilizadas, da forma em que o foram nos autos, devia ter havido, nos termos do art.º… ”uma solicitação aceitação de uma vantagem… como contrapartida de um acto ou omissão destinado a alterar ou falsear o resultado de…”.
6.º
E essa aceitação de vantagem ou alteração ou falseamento de resultado o arguido não admite, de barato, que tenha existido.
7.º
Mais! Nos termos do n.º 2 do citado artigo… “à contrario”, conjugado com n.º 3 do artigo seguinte, mesmo que tal solicitação ou aceitação tivesse ocorrido, o facto solicitado (alterar ou falsear o resultado) deveria ter sido executado e ainda (sublinhado nosso), dele resultar o efeito pretendido pelo agente, para que a pena aplicável fosse de prisão superior a dois anos, isto é, num máximo de prisão até quatro anos!
8.º
Ora, o efeito eventualmente pretendido, também se não verificou, como demonstraremos adiante com as palavras da própria acusação, e assim sendo, a pena máxima eventualmente aplicável é até dois anos, portanto inferior aos três anos exigidos no art.º 187.º CPP) para a admissibilidade de utilização das “escutas”,
9.º
Concretizando agora:
O arguido F… anteriormente aos factos…, também praticou os factos…, no que foi muito contestado pelo também arguido A…,
10.º
E na sequência destes últimos factos, o referido arguido A…, telefonou ao arguido F…, manifestando o seu desagrado pelo sucedido,
11.º
Pelo que as relações entre o referido arguido A… e o arguido F…, não eram de confiança, como podem fazer querer as “escutas” dos autos, a ponto de aquele solicitar e este aceitar qualquer solicitação para influenciar ou falsear os factos…,
12.º
O que aliás o arguido F… deixa transparecer ao arguido B… em conversa telefónica e transcrita nos autos, quando segundo a mesma transcrição afirma em relação aos factos… e ao arguido A… ( fol. 298 a 301 dos autos):
(Extracto de conversações telefónicas)
13.º
E de facto, o que o arguido F… quis com todo o seu comportamento antes e, durante e após os aludido factos…, foi fazer transparecer a sua imparcialidade quer em relação a um e outro interveniente e nunca aceitar ou insinuar estar receptivo a qualquer solicitação para que alterasse ou falseasse os resultados,
14.º
E por que assim foi também não recebeu qualquer contrapartida para que o fizesse,
15.º
E a sua actuação não influenciou os resultados,
16.º
Porque o arguido é pessoa séria na sua vida pessoal e profissional, e “não se vende por um qualquer prato de lentilhas!”
17.º
Coisa bem diferente é pois, Meritíssimo, o que as escutas insinuam, o que as pessoas dizem, e outra o que efectivamente acontece!
18.º
Agora pergunta o arguido:
As escutas insinuam a “oferta” de…; alguém o viu receber…, como insinuam as escutas? E já agora, se sim… Quando e onde?
19.º
Depois, e não menos importante, é a própria acusação que admite, que sendo o desempenho do arguido F… “medíocre, não influenciou os resultados.” (ver despacho de acusação, para o qual se remete)
20.º
Se assim é, como o admite a douta acusação, o facto eventualmente solicitado ao arguido F… não foi executado e de certeza absoluta, mesmo que o tivesse sido, dele não resultou, nas próprias palavras da acusação, o efeito pretendido pelo agente, isto é, o falseamento ou alteração dos resultados.
21.º
È a própria acusação, Meritíssimo, pasme-se, que o admite:
…”não influenciou os resultados.”
22.º
E assim sendo, cairíamos na previsão do art…, que é cumulativa, pela utilização da conjunção copulativa “e ainda”, pelo que a penalidade máxima aplicável era “sub judice” de prisão até dois anos, como já referimos supra.
23.º
E aqui seguramente, Meritíssimo, a prova através do conteúdo das referidas conversas telefónicas não seria admissível (n.º 1 art.º 187, CPP), como também já referimos supra.
24.º
E assim sendo, Meritíssimo, para além das conversas, o que resta nos autos como prova? Nada… Absolutamente nada!
25.º
Ou seja, os restantes elementos probatórios (declarações dos arguidos e da única testemunha), desamparados das referidas conversas telefónicas, não permitem afirmar, com a segurança necessária à sustentação de uma acusação em juízo, a factualidade subsumida a um crime de corrupção, no que tange ao arguido F…,
26.º
Até porque, Meritíssimo, por consequência dos princípios da certeza, da segurança jurídica e da verdade material, que informam todo o direito penal e processual penal, o arguido F… teria de ser absolvido em juízo, também por aplicação do princípio do “in dúbio pró reo”.
27.º
“Maxime”, por que sujeitar o arguido ao vexame de um inútil julgamento, quando razões de economia processual, parecem aconselhar o contrário?
28.º
Existem outros arguidos nos autos, é certo. E que tem a ver o arguido F… de eventuais relações de amizade ou negócios ou acordos entre eles? Nada! Nada, Meritíssimo! O arguido F… nunca beneficiou de nenhuma vantagem patrimonial ou outra dos restantes arguidos neste processo.
29.º
É que Meritíssimo, um processo-crime não é necessariamente um rol de potenciais criminosos em que todos os arguidos são “farinha do mesmo saco”. Nem os dedos das nossas mãos são iguais, Meritíssimo! E contudo são dedos! Contudo fazem a mão!
30.º
“In fine”: Mente aberta, coração sereno, mão firme na aplicação da justiça, é o que se pretende do julgador. É isto também e nada mais, que espera e pede descomplexadamente o arguido a V.a Exa.!
31.º
Resumindo e concluindo, Meritíssimo: Dos autos não resulta qualquer elemento de prova credível de que o arguido tenha praticado os factos que lhe são imputados. Mais! È a própria acusação que admite que não teve qualquer influência nos resultados e por essa via, a penalidade aplicável seria, quando muito, no máximo de prisão até dois anos. Mas assim sendo, também não eram admissíveis as gravações e transcrições das conversações telefónicas quanto a este arguido, e os autos sem estas, não oferecem qualquer prova segura da prática pelo arguido F… do crime de que este vem acusado;
32.º
“Nem tudo o que nos autos parece, é!”
Mas precavido, que “cautelas e caldos de galinha nunca fizeram mal a ninguém”, o arguido oferece prova testemunhal, para demonstrar toda a versão dos factos que aqui invocou.
Por tudo o que vem expondo a Vª. Ex.ª, o arguido requer:
- Que lhe seja declarada aberta a instrução;
- Que sejam ouvidas por Vª. Exª. as testemunhas indicadas, e
- Que, a final, seja proferido despacho de não pronúncia..
Testemunhas:
(segue-se o rol)
E.D.
Junta: Duplicado
O Advogado
(Ass.)