Anacleto Dimas Pinto
Belarmino Carquejeiro Pinto
Cremilde Carmo Pinto
Dulcelinda ferreira Pinto
Emídio Lourenço Pinto
Floriza Martins Pinto
Gregório Silva Pinto
Hermenegildo Rodrigues Pinto
Ilídio Loural Pinto
Joselino Contente Pinto
Lucílio Lopes Pinto
Marlon Buter Pinto
Neuza Delourdes Pinto
Olinda Costa Pinto
Pirraça Rosa Pinto
Quitéria Alves Pinto
Rosalina Gaspar Pinto
Secolinda Moreira Pinto
Tobias Varela Pinto
Umbelino Teixeira Pinto
Victolina Domingues Pinto
Wilson Arrimar Pinto
Xavier Louçano Pinto
Yu Hua Ping
Zeferino Pereira Pinto
E à falta de um "K" de "Kousa"...
José Carvalho Pinto...
De Sousa:
Vou por esses campos adentro,
por entre maias e rosmaninho,
em cima da minha "bike" nova.
À barreira da "Ponte-da-Guarda",
desmonto e sigo a pé.
Levanta-se um coelho numa cova
da horta do Zé da Cruz
e atravessa, de um pulo, o caminho.
Ao fim da subida
monto a "bike" novamente
deixando a sombra no alcatrão quente.
A meio da pequena descida,
uma pedra ao alto levantada:
Ali mergulhou o Agostinho
na sua velha motorizada.
"Ó vós que aqui passais
-diz a inscrição-
tende piedade da sua alma
e rezai um padre nosso e uma avé Maria".
Persignamdo-me, sigo adiante,
passando a ribeira,
que vai cheia,
e com enrome esforço de pernas,
dando à roda pedaleira,
as crejeiras do Ti Pascoal,
o depósito da àgua
e ao cemitério,
pergunto ao homem do tractor:
-Amigo, para a "Ponte Sequeiros", qual é o desvio?
-À saída, na curva, vire à esquerda e siga o rio.
A sede aperta,
encosto a "bike"
e entro no café.
Ao segundo copo
Já querem saber de onde sou.
Respondo:
- De longe... de muito longe...
E como ali vim dar.
Divago:
-No vento... vim no vento!
Seguindo caminho,
agora sempre a descer,
lameiros e freixos de um lado e de outro,
-Lá está a curva e o desvio-
começa a chover,
abre-se o arco-íris
sobre os montes em redor.
O caminho trona-se ruim,
Sigo a pé então,
e mais adiante, enfim,
surge a ponte com o seu torreão.
Um rebanho desce a enconsta sobranceira
e pergunta-me o pastor:
-De onde é voçê, amigo?
E eu respondo:
-De longe... de muito longe...
-E vai para onde?
-Para onde me levar o vento...
Vou no vento...
E ele -estou ainda a vê-lo- de cajado, encostado ao muro:
-Não vai não, amigo...
que traz um furo
no pneu!
in "zeoliveira.blogs.sapo.pt"
Um tipo acorda com os pés de fora
E para desanuviar a porcaria da vida
Diz uma piada sobre um gajo
Que fizeram engenheiro do pé prá mão.
Veja-se:
Não lhe chamou cabrão…
Não lhe chamou filho da Puta…
Não lhe chamou corno…
Nem o mandou para a puta que o pariu…
Muito embora o pudesse ter feito
Mas
A Margarida Moreira, rotunda,
De seio farto, infarto certo,
Obtusa, Iconoclasta,
De quem nunca se ouvira falar,
- mas chegou a um cargo de direcção-
Chama-o logo à colação:
-Tome cuidado, senão
Vai para a rua do pé prá mão
E ele vendo o caso mal parado:
- Pois… fizeram-no engenheiro do pé prá mão…
melhor que fazerem-no cão da mão pró pé..
Não é carago?
E reparando que ninguém o escuta:
Filh(…) da pu… filh(…) da pu...
Além do medalhão que trago ao pescoço, tenho outro pequeno retrato de minha mãe. Não está à vista, antes bem fechado numa gaveta do armário, de onde o retiro quando me dão as saudades. – normalmente quando me sinto mais vulnerável que o habitual, quando a crise da meia idade e o espectro da ceifeira morte tornam mais insuportáveis as dores da velhice que aí vem.
È um retrato tirado há dois anos em Fátima. Está ela sentada num muro do santuário, bengala numa das mãos e vela na outra. Dos seus cabelos brancos sobre a testa e dos traços bonitos do rosto emana uma graça divina, brilhante e maravilhosa.
Mantenho grande devoção por este santo retrato e guardo-o religiosamente na sua gaveta, debaixo das camisolas de lã, como o meu maior tesouro, para que não seja profanado, e só o mostrei a uma única pessoa de relance.
Quando esporadicamente o observo, e hoje foi um desses dias, parece-me uma fonte de luz diante dos meus olhos. Com serena graciosidade me espera, tal como em menino ao retardar-me no caminho, aguardando que passem as sombras que me demoram deste lado…
Depois da morte de minha mãe entrei numa grande melancolia. Faço longas caminhadas e passam dias que não falo a ninguém. Nos meus passeios há um recanto de rio que me apazigua bastante. Ali acabo as minhas tardes invariavelmente.
Numa dessas tardes, jazia eu cansado, junto ao rio, com o queixo sobre as mãos, tendo no coração e nos olhos a paz desta amena Primavera. Queria ficar assim, dissolvendo-me na melancolia do córrego, do choupo e dos freixos. Um livro aberto mas abandonado, estava a meu lado como de costume; naquela modorra de fim de tarde, não me apeteceu lê-lo.
Estava tão absorto nos meus pensamentos, que não ouvi o meu amigo aproximar-se silenciosamente. De repetente estava junto de mim, segurando a boina na mão.
Fiquei calado e permaneci deitado. O meu amigo sentou-se ao meu lado. Ficámos muito tempo a olhar para o regato, escutando os ruídos da água e a gozar a leve brisa da tarde que se levantava sobre as copas das árvores. Um bando de patos deslizou na água, atravessando das hortas para o lameiro, uns metros mais abaixo. Depois de um longo silêncio o meu amigo conclui:
- Isto aqui é triste…
Depois de novo silêncio perguntou:
-Porque vens tu aqui?
O meu amigo estendeu-se também no chão. Estava de costas virado para o céu, a ver as copas dos freixos e recomeçou:
-Se fossemos nuvens… podíamos ir para longe…
-E para onde querias tu ir?
-Ora… à cidade… íamos até à Guarda…
A Guarda era o limite do mundo do meu amigo. A terra maior que vira na vida de campónio. Nesse momento invejei-o. Era bem simples o mundo dele: Levantar… deitar… comer… dormir… gozar o sol… ver as nuvens… ir à Guarda. Olhei-o em frente, por cima dos braços apoiados, e contrapus:
- Seria bom era se fôssemos peixes, ou seixos, ali debaixo de água… isso sim!
E fechei os olhos, imaginando-me um peixe a nadar entre os seixos brancos, rente ao fundo, bem longe das minhas preocupações. E rematei:
-Isso sim… seria mesmo bom!
Dois capangas sentaram-se na esplanada
De perna cruzada e ar suspeito
À espera que o funcionário passasse;
O Jornal aberto ao acaso
Para disfarçarem
E copos de cerveja
Sobre a mesa.
Passa
E não passa...
Deram as cinco
Na Torre dos Clérigos
E o Funcionário nâo desceu
A Rua como de costume.
Os capangas, nervosos,
Acenderam cada um seu cigarro
E para fazerem conversa
Lamentaram o azar do funcionário
Que fora contar ao Bufo
A piada sobre as habilitações
Do Chefe.
Cinco e pico...
Costa livre...
Finalmente o funcionário
-passo acelarado, óculos na ponta do nariz-
Virou a esquina.
Os capangas,
De um pulo
-mesas e cadeiras pelo chão-
Deitarm-lhe a mão
E levaram-no
Para interrogatório.
(Ao Prof Fernado Charrua, demitido pelo M E por dizer mal do Sócrates)
Ia muito bem a guiar serra acima
Quando ao fazer a mudança
O automóvel veio por ali abaixo,
De marcha à ré.
E ela- branca como cal- saiu
Pelo vidro da frente:
"Fora a mão divina" –dizia,
Vendo como o muro desfeito
Impedira a queda
No abismo.
Contou então como tudo acontecera:
A mudança não entrara… o motor parou…
Os travões não obedeceram…
E só deu tempo de guinar
Contra o muro.
"Ficara toda pisada" – e exibiu uma negra-
Que o vizinho, muito cavalheiro, pondo a mão,
Verificou " aqui… - e coxa acima- ou mais aqui?"
E ela " que sim… mesmo ali…"
"Se precisava de alguma coisa" – Quis saber-
E ela – aflição- afastando-lhe a mão
"Que não!"
Se fora milagre? Não era evidente?!
O automóvel (todo empenado) virara sucata
E ela nem um arranhão…
A não ser aquela nódoa negra
-e mostrava a perna para que todos vissem-
A meio da coxa.
E todos concordaram
"Que milagres daqueles…
De facto...
Não se viam todos os dias!"
O Sol a pino sobre o muro
a sombra projectada no jardim
de quando a casa era habitada.
Depois as doze badaladas no relógio...
silêncio... leve aragem... ao fundo o rio.
Um corvo
poisou no arame da roupa.
Um corvo novo por estas bandas.
Um senhor corvo
de casaca preta
e
cartola.
Um corvo irrequieto
que voou sobre a tosseira do alecrim
para a galha da nogueira,
descuidado,
contente
do sol
das nove.
E quando me virei
para te dizer: "Amigo, olha um corvo!"
sua excelência tirou a cartola
fez uma vénia,
levantando a direito
sobre o muro.
-Mãe... o céu é azul, não é?
- É filho... é azul o céu.
-E a lua mãe... a lua é amarela... não é?
- Sim filho... a lua é amarela.
- E tu mãe... o teu vestido é azul... és como o céu... não és?
- Sou filho... sou como o céu.
-E como a lua? também és como a lua?
-Um dia filho... um dia serei como a lua.
-Quando, mãe?
-Quando for para o céu...
-E também vais ser redonda?
-Não filho... não....
-Porquê, mãe?
-Porque serei quarto crescente...
-Porquê?
-Porque tem dois biquinhos... um é o mano...
- E o outro, mãe? E o outro?
-O outro és tu... meu tolinho!
.
Chinês...
Quadros de casacatas orientais na parede;
lanternas de luminárias pendendo do tecto.
Chinês...
Vem a empregada,
que faz uma grande vénia
e sorriso amarelo
de orelha
a orelha.
Chinês...
Arroz xau xau,
pede a gente;
mais um trinta e três
e um trinta e quatro
só para a ouvir
repetir:
- Aloz xau xau...
tlinta tlês...
tlinta clato...
sinhol.
Chinês...
E acrescentamos à lista:
-Uns pauzinhos também
por favor!
E Ela:
-Pauzinho também...
fá favol!
O Manuel Simões,
Homem rude cá da terra
e dono de soberba junta de vacas,
fartas e luzidias,
quando lhe dizem serem ruins de leite,
responde invariavelmente.
-E que tem? Comem muito...
mas também cagam muito!
Não sendo guru dessa treta da agricultura biológica,
e nunca tendo aberto um livro na vida,
bem sabe o Manuel Simões,
melhor que ninguém,
que para semear,
tem de se estrumar
ao rego
também.
A poesia é a superação da realidade pelo sonho. Do nada se vai ao tudo; mão fechada que se abre à imaginação.
Em Platão era descrição nua e crua da realidade; nada!. Em Aristóteles, transgénese, sonho... imaginação; tudo!
Foi um caminho bem difícil de superação e a poesia ao longo dos tempos, de Homero a Cesariny. passando Ovídeo, Vergílio, Petrarca, Camões, Pessoa, Pascoais, Nehruda, Eugénio, andou pelas duas fronteiras, umas vezes mais chegada à terra, outras mais colada ao céu. Umas vezes mais real, outras mais surrealista.
O problema é que a burguesia florescente das cidades, apegada ao vil metal, criou a partir do sec. XIX novas formas e conceitos estéticos gtanto na arte em geral como na poesia em concreto.
Na arte apareceu o dito modenismo, com derivações. no impressionismo, dadismo faubismo, cubismo etc. Em suma... a arte morreu. arte no conceito tradicional não existe; esgotou-se. Agora é tudo o que no mercado e para os críticos é vendável.
Na poesia apareceu a "veborreia" da palavra "exdrúxula", da palavra medida, descontextualizada. è um efeito poético... diz-se! A poesia no conceito tradicional em que a conhecemos desde platão, também morreu. Agora é tudo o que impressione os tolos.
Toda a gente esqueceu que a verdadeira poesia ( isto é, a imaginação, ingenuidade) nasce das coisas simples da vida. É expontânea e automática como o respirar. Está na viv~encia telúrica em comunhão com a natureza.E esse dom não é para todos!
É que para sonhar é preciso ser-se livre e desprendido como uma criança.
Em suma: A poesia e a arte... Já não existem!
E assim sendo, este blogue também não!
Quando canta o zeca
O mundo suspende-se
sob os pés;
A imaginação sobe à estratosfera
E nada mais conta!
Quando o Zeca canta,
Pode não ser a Gal Costa,
Mas a sua boca
É uma montanha de fogo
Onde aparecem
Flores
Selvagens.
O Zeca,
Trovador português,
É bem maior que Gal Costa!
Sou eu,
Que já ouvi os dois
Ao vivo,
Quem o diz!
Terra! Muita terra!
Muita água!
E muita fraga!
Vilar Maior! Badamalos! Arrifana!
Folha do Escabralhado e Bismuila!
Terras ermas por onde o meu espírito aquífero corre!
Lugar do Pereiro!
E lá ao fundo o rio...
O Cheiro à resina dos pinheiros...
À flor das giestas...
Às maias!
O Açude dos Gatas a cobrir as poldras!
O moinho! as veigas semeadas!
E ao virar ao baçelo do Freire
A torre de menagem...
A flecha da Igreja...
As alminhas...
O Pelourinho...
A praça...
O paço dos Rebochos...
A Lenda da Senhora dos Cornos...
Vozes e passos indo e vindo no casarão deserto...
Almas penadas do outro mundo...
E o vento fazendo ranger as portas!
As noites frias!
A lareira acesa pela noite fora!
As bogalhadas! os caretos de entrudo!
O toco! as janeiras!
A ceifa as desfolhadas!
Os bailaricos no terreiro!
A concertina do Zé Laranja...
Eternamente desafinada
(como se alguém se importasse!)
A tocar no cimo do povo!
A capela do senhor dos Aflitos!
A capelinha de S. sebastião...
Carreirinhos abertos na erva das hortas
Levando aos poiais de pesca!
Leiras de pimentos e feijões ao alto!
Ai a frescura da adega!
Ai o presunto dependurado do tecto
(guitarra portuguesa comida às fatias
com um copo de tinto da pipa!)
Ai pimentos cortidos na talha!
Ai queijinho fresco de cabra todos os dias!
E as resguardas da ponte...
Ai as resguardas se falassem!
Sob aquela acácia ao portão do Manel
Os beijos à Fátima do Amadeu!
Ai acácia que velha estás!
Ai Fátima, onde andarás tu agora?
Ai Mocidade! Mocidade!
Quando o sonho comanda a vida!
Ai flauta de pau sabugueiro!
Ai minha gaita de beiços!
Como me lembrais agora!
E a grande amoreira
Que havia no curral do Simões?
E a rusga aos ninhos?
E o rebusco às vinhas
À saída da escola?
E o Chico Bárbara passando à porta
A cavalo no boi preto
E comprimentando com um "olá menino Joãozinho"?
E...
Ai! ai! ai!
Mil vezes ai!
Que a minha mocidade
Há muito foi na enxurrada
Daquele rio!
Agora...
É a Marta quem me diz:
-Pai, vamos apanhar sardaniscas!
E eu...
Mocidade...
pela mão dela,
Vou
À caça de sardaniscas
Nos muros dos quintais...
Sempre
A cavalo no meu boi
Preto!