Quinta-feira, 8 de Março de 2007

 

 

Foi em Junho, pelo S. João,

rosas vermelhas ao portão,

ao passar, colheu um botão,

e subindo ágil o balcão

 onde ela apareceu em roupão,

de joelho no chão

perguntou-lhe então:

-Casas comigo, ou não?

e insistindo de flor na mão:

-Casas comigo, ou não?

 

Ela lhe respondeu "que não".

 

Oh, tamanha desilusão!

 

Ela lhe disse "que não"...

 

Ela disse:

-Não!!

 



publicado por Manuel Maria às 14:38 | link do post | comentar

 

 
 
Chamar-me, podes, orgulhosa, má,
Que tudo fui, bem sei...
Porém perjura? Dize-me então lá,
Que juras formulei?
 
 
Desfiz, é certo, alguns projectos feitos
Palavras, disse, duras...
Mas os projectos podem ser desfeitos,
Promessas não são juras...
 
 
Nada me deves, senão ilusões
... Que te devo também...
Ficámos pagos... Recriminações
P'ra quê?
Se afinal, tudo ficou bem?...
 
 
Elvira Rocha
1936
in «mjmolico.spaces.live.com»


publicado por Manuel Maria às 09:19 | link do post | comentar

Quarta-feira, 7 de Março de 2007

 

 

      O Juiz entrou e sentou-se. Abriu o portátil e pediu desculpa pelo atraso: "a impressora não conseguira debitar a tempo as trezentas e trinta e uma páginas da decisão instrutória. Lê-la na integra, estava fora de questão". Sugeriu então a leitura resumida, por apontamento, após o que nos consideraríamos notificados para efeitos processuais.

   Concordando todos, e nada havendo a requerer ou objectar, o juíz explicou resumidamente, a estrutura da sua exposição: Primeiro abordaria as questões incidentais de inconstitucionalidade da norma, depois da qualificação jurídica de funcionário público, a inconstitucionalidade da supressão das escutas não transcritas nos autos, a nulidade das escutas e por fim, a motivação da pronúncia ou não pronúncia em relação a cada um dos arguídos.

    O almoço fora pesado e bem regado. Ainda acompanhei as considerações sobre os pareceres dos professores Gomes Canotilho e Damião a respeito da inconstitucionalidade das normas.

    Lembro-me também vagamente de o juiz aflorar a doutrina acerca da equiparação de Pinto de Sousa a funcionário público, para efeitos da hipotética aplicação subsisiária da norma do código penal. Quando entrou na problemática das escutas, já eu não conseguia mais suportar o peso da cabeça; Já o raciocínio se me enleava todo. Recostei-me no cadeirão, fechei os olhos e apaguei-me completamente.

     Uma súbita cotovelada  na zona lombar, trouxe-me à sala, duas horas e tal depois:

   -Acorda, pá...  - sussurrou-me o colega do lado- o juíz está a falar do teu arguido!

    Nem liguei. A minha posição desde início, foi a de que o debate instrutório era inútil, como ali ficava sobejamente demonstrado. Debrucei-me pois, sobre a bancada, e adormeci de novo.

      À saída, nos passos perdidos, enquanto acendia o cachimbo, um dos jornalistas que por ali cirandava, teve a amabilidade de me confirmar o que eu já previra: "o meu cliente fora um dos pronunciados". E ao jantar, no Atlântico, frente ao bacalhau assado e ao jarro de branco, o meu cliente, em tom jocoso, comentou:

   -Foda-se, Doutor...  O Senhor até ressonou, que eu bem vi!

   Com a descontracção de quem se está marimbando para tudo, enchi calmamente o copo e fitei-o nos olhos:

    - Ora foda-se, digo eu!....   Para que me havia de dar ao trabalho - rematei - de ouvir aquela merda toda?... Não me diz?!

     Levei o copo aos lábios e bebi-o de um só trago. Depois, pousando-o na mesa, enquanto o enchia de novo, pensei: "Porra, estou a ficar mesmo velho e sem pachorra para esta treta de profissão!"  E o resto do pensamento, para espanto do cliente, saíu-me inadvertidamente, em voz alta:

    -Puta que a pariu!

  Agora, não sei porquê, mas tenho cá um "feeling", que me vai pedir a renúncia à procuração. Não sei porquê... mas é pressentimento de "burro velho"; daqueles que já levaram e deram muito coice na vida; entendem?

 

 

 



publicado por Manuel Maria às 14:14 | link do post | comentar

Terça-feira, 6 de Março de 2007

 

 


Mar,07 140.JPG

 

Ao chegar ao casario

o rio abranda o passo

para mais demoradamente

beijar as hortas

já semeadas.

 

-É Março-

 Vê-se que tudo floresce,

as árvores, não tarda,  ganham folhas,

tudo nasce,

sobe das raízes um sussurro,

a seiva aflora aos ramos,

e o campo entra em delírio

numa orgia de cheiros

e de cores.

 



publicado por Manuel Maria às 01:59 | link do post | comentar

Segunda-feira, 5 de Março de 2007

 

 

 

A velhinha fonte do caminho,

sob o secular carvalho...

morreu!

 



publicado por Manuel Maria às 09:54 | link do post | comentar

 

feijoada1.JPG

 

        A caminho de Gondomar, paragem  obrigatória pelas 12.30 no restaurante "Atlântico" em Grijó, para a feijoada à transmontana. Na volta o Jantar no mesmo sítio, que um homem não é de ferro! Isto sim... é poesia!

 



publicado por Manuel Maria às 09:12 | link do post | comentar

Domingo, 4 de Março de 2007

 

 

 

O disco amarelo brilhava na noite escura,

e o céu límpido, deixava passar o luar.

 

À janela, os craveiros de uma esbatida brancura,

e as portadas abertas de par em par.

 

Tu sentada à entrada, no banquinho de madeira,

eu apoiado na cancela do portal.

 

um golpe de vento agitou a velha parreira,

uma coruja gritou na orla do pinhal.

 

e lembras-te amor? não nos víamos há mês e meio

e brincando disseste, que naquela noite, talvez um de nós morresse.

 

A minha mão, acariciou então o bico do teu seio

em pequenos círculos, suavemente, para que enrigessesse.

 

Ai essa tua doce pele! ai aquele teu mamilo duro ao frio!

Ai aquela minha vontade doida em mordê-lo!

 

Ao fundo do quintal, lembras-te? ouviamos a correr o rio,

e naquela noite, aprendemos que ganhar o paraíso é  perdê-lo...

 

Para sempre.

 

 

 



publicado por Manuel Maria às 22:15 | link do post | comentar

Sexta-feira, 2 de Março de 2007

 

 

 

Aqui para nós,

que ninguém  ouve,

- e se ouvir,

 é igual-

à minha porta

passa um rio;

e as águas que ele leva,

são lágrimas...

muitas lágrimas

minhas,

que as minhas lágrimas

 todas juntas...

 davam para encher

 um rio.

 

Nunca vi...

tanta lágrima

junta

assim!

 

 

E

à minha porta

passa um rio!

 

 



publicado por Manuel Maria às 10:52 | link do post | comentar

 

 

O Vento

Bordou

O Ventre da Brisa.

P

i

n

t

o

u

Borboletas.

Daí, as cores apanharam levezas, de flutuarem.

B

ê

b

a

d

a

s

...

 

Vandder Lima - (Brazil)

 



publicado por Manuel Maria às 10:36 | link do post | comentar

Quinta-feira, 1 de Março de 2007

 

 

 

       O meu sobrinho Gonçalo, nos seus tenros quatro anitos, olhos com aquele brilho de inocência, que nós adultos, tão bem já conhecemos um dia, confidenciou-me:

       - Tio, sabes... tenho uma namorada nova!
       -Ah, sim?... e como se chama ela?
       -Inês... chama-se Inês - e nem dando tempo a que o interrompesse, acrescentou- sabes... amo-a muito!


       Aí, não consegui disfarçar um sorriso. Provoquei-o:


       -Mas como sabes que a amas?... que é amor?
      -Sabes, tio? Eu dou-lhe muitos... muitos  beijos na boca; e ela a mim também...

 

      Ora toma! E eu, que tanto esquecido ando na vida, fiquei a saber o que era o amor.

 

 



publicado por Manuel Maria às 11:29 | link do post | comentar

 

Caio Valério Catulo

 

Vivamos, Lesbia minha, e amemos,

e às maledicencias dos velhos alcoviteiros

demos-lhes menos importância que a um cêntimo.

Os astros podem morrer e nascer;

mas nós, depois que se extinga a nossa fugaz luz,

dormiremos uma última noite eterna.

Dá-me pois, mil beijos, a seguir cem mil;

e a seguir outros mil, e ainda outros cem mil;

imediatamente a seguir outros mil, e por fim mais cem mil.

Despois, feitos já muitíssimos males aos nossos corações,

guardemo-los bem guardados, para que fiquem só entre nós,

e nenhum invejoso possa vê-los com maus olhos,

quando saiba quantos beijos nós demos.

 

 

Perguntas-me, quantos beijos teus,

Lesbia, me seriam suficientes,

Se tantos como os grãos de areia do deserto da Libia

que jazem em Cirene, na imensidão das dunas,

entre o oráculo do ardente Júpiter

e o túmulo do ancião Bato;

Ou quantos astros, ao caír da noite,

vêm os amores ocultos dos homens;

 

Pois eu te digo:

Só esses teus beijos todos satisfarão

o louco  Catulo o suficiente,

tantos... que nem posssam contá-los,

nem ridicularizá-los com as suas más línguas,

os curiosos.

 

Caio Valério Cátulo

Poeta latino séc.I ac in "cancioneiro de Lésbia", na minha tradução muítissimo livre do Latim.

 



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