Era uma tarde quente de Verão
Eu e a Susana fomos pôr-nos à fresca
Na sacada da janela.
Eu, tímido ainda
-nos meus quinze anos,
ela já quase mulher-
A mãe costurando à máquina
Na salinha ao lado
E nós aproximando-nos um do outro
Até sentir o cheiro dela
As suas palavras sopradas ao ouvido
O meu coração acelerando
Cada vez mais.
Na rua o irmão dela e o meu brincavam
E quando eles se afastavam
Nós juntávamo-nos mais ainda
Até que a certa altura puxando-me
Ela “chop” beijou-me na cara...
O beijo que ela me deu foi talvez de prima
Mas o meu...
-ai como ainda me lembra!-
O que eu a seguir lhe dei
-ai Jesus!-
Foi de namorado mesmo!...
A igreja
A faia caída
ao chafariz.
Na torre o sino e o relógio
marcando as horas da missa
e das nossas vidas.
O Sol da manhã no muro do Miguel
Um pardal saltitando no alpendre do Bernardo
O vôo duma pomba mansa
num céu de anil
E um bando de corvos negros
desaguando no adro
em carreirinho.
No último ano ela já vinha apoiada na bengala
abeirar-se da minha cabeceira
e aconchegava-me a roupa,
mandava-me rezar...
beijava-me
como antigamente.
E eu?
Eu não me cansava de fitá-la!...
ficava a vê-la dissolver-se no quarto
pés arrastando pelo chão
lenta, lentamente...
como uma lembrança querida
que se vai apagando
da memória
em vida.
Naquele tempo andava de calções
e ía de cana da índia ao ombro
aos peixes nos poços da ribeira,
saltando os muros das hortas,
apanhando gafanhotos para isco.
Era o tempo em que tudo o que me cercava era novidade
e servia para brincar... rir...
sonhar...
um mundo inteiro para descobrir...
As merujes do lameiro na salada,
o cabrito novo a equilibra-se nas patas tenras,
As primeiras cerejas na cerejeira do canto,
a vaca a parir...
A Ti Ester com os rebuçados no regaço...
Ai aquele tempo! Ai que saudade!
Os avós ainda viviam... a casa velha servia de adega,
o tear estava armado no quartinho!
com a teia urdida... a lançadeira enfiada...
E a mãe...
a mãe ía deitar-me pela noitinha,
sentava-se na beirinha da cama,
aconchegava-me a roupa,
beijava-me na testa...
afagava-me o cabelo...
mandava-me rezar...
E eu... Quanta alegria!
Que felicidade!
Fechava os olhos...
devagarinho...
e continuava a sonhar!
Ai essa boca...
A i essa tua boca,
onde o fogo
da minha língua
acode,
Essa boca que espera...
espera o calor
do vento
para ser espiga
madura
e eu colher.
A membrana seca
Do endométrio,
No pino do calor
Deseja a fonte.
Suplicante,
Estende a raiz.
E
Num espasmo,
Generoso
Corre
O sémen!