Tarde de sol. Fim de Julho. Pelo campo fora,
a terra seca; à beira do caminho, uma figueira brava.
Sobe as folhas poeirentas da figueira,
um pé de cardo, despontou hostil, reclamando o sol.
É uma flor guerrilheira, na sua couraça de picos,
naquela terra ingrata,
onde até a urze a custo desabrocha.
Na vila havia desde tempos imemoriaias, rivalidades entre as duas Freguesias de Santa Maria e de S. Pedro, que se estendiam aos rapazes da escola.
Naquelas ruas estreitas sofri muitos lançamentos de pedras, muitos sopapos, mas também dei alguns que muito me honrararam e fizeram homem.
Era por essas ruas apertadas, que íam do largo do chafariz ao coreto de S. Pedro, que passava o "forra pitas", sempre que vinha á taberna em frente ao Sr. Melo, o que era muito frequente.
Era um homem atarracado, de aspecto franzino, na casa dos cinquenta, vestido de forma andarajosa, de barba sempre por fazer.
Os meus camaradas e eu escondíamo-nos na rua da barbearia à espera que ele saísse da taberna, já embriegado, e gritávamos-lhe:
-Afoga Pitas! Afoga Pitas! Ó Afoga Pitas!
Normalmente ele seguia o seu caminho, mas por vezes detinha-se, como se ficasse à escuta, olhava-nos com uma fúria incontida, enfiava lentamente a mão no bolso das calças ameaçador. Nós desatavamos então a fugir, rua acima, até ao "Riquinho".
Este olhar e cerrar de mão dentro do bolso, era responsável por eu atravessar as ruelas no caminho da escola, sempre a correr e de "credo na boca", não fosse cruzar-me com ele.
Imaginava o momento em que ele me agarrava pela gola do casaco, enfiava a mão no bolso e tirava de lá um facalhão, enquanto me levantava do chão e eu ficava assim dependurado a uns palmos do chão sem poder fugir.
Apesar disso, juntava-me com os outros á esquina da barbearia e gritava-lhe a alcunha e ria quando ele levava a mão ao bolso e o rosto medonho se contorcia num esgar de raiva, o que me dava um peso imenso de consciência.
Um belo dia andavamos nas habituais guerras de Freguesias, lá para os lados do campo das festas, quando na fuga me vi isolado num beco escuso, acossado pela malta de S. Pedro.
Tinha a saída da rua tapada por um grupo ameaçador, quando se abre uma porta e oiço uma voz pegajosa nas minhas costas:
- Entre menino, esconda-se aqui!
Hesitei entre o facalhão do "Afoga Pitas" e os "cascudos" da malta de S. Pedro, mas o que é certo é que as minhas contas com os de S. Pedro estavam há muito por saldar e não iria saír da contenda sem uma boa "maquia".
Entre dois males, o menos. Lá fui entrando, com o "coração bem apertadinho". O "Afoga Pitas" levou-me para uma sala escura, com duas cadeiras e uma mesa ao centro. Na parede havia uma imagem amaralecida de uma pastora com um cordeirinho.
Levou a mão ao bolso e foi então que pensei: é desta que me vai pendurar como um chouriço e vingar-se de todas as patifarias que lhe fiz. Tirou do bolso uma navalha que abriu e pôs na mesa. Foi a uma vasaleira que havia a meio da parede e tirou meio centeio, um quarto de queijo, dois copos bem sujos e uma garrafa de vinho tinto já encertada.
- Coma e beba menino- disse enquanto enchia os dois copos- a casa é pobre mas olhe que é de boa mente.
Comi uma fatia de pão e queijo, bebi meio copo e no fim o "Afoga Pitas" espreitando à porta, volveu:
- Pode ir menino, a costa está livre!
A partir desse dia o "Afoga Pitas" e eu ficámos amigos. Ele passou a ser o meu "salvo conduto" para deambular à vontade pela Freguesia rival, mesmo sózinho, sem que ninguém ousasse tocar-me num fio de cabelo.
Este estatuto, nem com o facto de ser filho do comandante de posto, havia conseguido. Fiquei então a saber que o "Afoga Pitas" era bem mais importante na vila, que o meu pai!
Trecho do muro das lamentações e cúpula da mesquita do templo.
Salmo 133:"
Oh! quão bom e quão suave é que os irmãos vivam em união!
É como o óleo precioso sobre a cabeça, que desceu sobre a barba, a barba de Arão, que desceu sobre a gola das suas vestes;
Como o orvalho de Hermom, que desce sobre os montes de Sião; porque ali o Senhor ordenou a bênção, a vida para sempre."
Alcorão 5:68,69 19:
"Dize (ó Muhammad): ó adeptos do Livro, estareis sem nada até que façais vigir a Torá e o Evangelho, e o que Deus revelou a vós. . Tanto aqueles que creram, como os que professaram o judaísmo, e os sabeus, e os cristãos, quem (dentre eles todos) creram em Deus, e no último Dia e fizeram o Bem, nada têm a temer e não se atribularão."
Naquelas noites de Verão,
no balcão do ti Albino Caixeiro,
uma concertina a tocar,
o Zé Polónia a cantar
(que bem que cantava o Polónia!)
e o serão passava-se ao luar.
Juntavam-se também
cheirando a espigas
- cheiro das ceifas em Julho -
as moças das rua de cima
-sangue novo fervendo-
a Júlia, a Ester, a Maria e a Elvira.
Uma concertina a tocar,
o Polónia a cantar,
a canseira das ceifas esquecida,
O sangue fervendo, fervendo,
o cheiro a espiga madura,
a Elvira a dançar
(que bem que dança a Elvira!)
E o Zé a querer, a querer a Elvira
e ela não se entregava.
Energia redobrada nos baços do Polónia,
A concertina aumentando o ritmo,
e receios libertados,
começavam pares a dançar.
A Elvira a bailar se aproximando,
sangue a pulsar,
peito direito,
arfando, arfando,
o zé se chegando,
a Elvira se entregando.
Uma concertina a tocar,
O Polónia a cantar
o Zé e a Elvira desaparecendo na sombra...
Alzira
A saude
do Rio
sob as tamareiras
Nela
Canto o vento
varrendo as dunas
A caravana avançando
na tempestade.
A Lua
abrindo a noite
a esteira no chão,
a fogueira acesa,
O Vazio
no fundo da ìris
cansada,
O silêncio azul da noite,
As estrelas,
E a súbita saudade
do rio
sob as tamareiras.
O senhor Roque era dono de um comércio na rua principal lá da Vila. Vendia panos, atoalhados, roupas, sapatos, tabacos, goluseimas, mercearia, pentes, atacadores, tintas, enfim... tudo o que pudesse ter utilidade e desse lucro.
O senhor Roque pertencia a uma família tradicional de proprietários e comerciantes lá da terra. O estabelecimento era herdado. Tinha mais dois irmãos, um padre e outro advogado, ambos na capital de Distrito. Era também muito religioso. Frequentava assiduamente quer a Matriz de Santa Maria, quer a de S. Pedro - o que me fazia grande confusão, sendo ele comerciante e fazendo eu ideia pouco abonatória da profissão- e ainda era membro da confraria das almas e da conferência de S. Vicente de Paula.
Tinha uma figura esguia, breve corcunda - de tanto se debruçar no livro de contas dos fregueses-, usava lápis na orelha e mangas de apalca. Quando falava, esfregava vagarosamente as mãos delicadas uma na outra, e fitava o interlucotor de cima a baixo com aquele olhinhos pequeninos vivos a saltarem-lhes das órbitas. Andava sempre de cinzento, o mesmo casco de malha - nunca lhe conheci outro -, entre o económico e o andarajoso.
O pobre do senhor Roque, era de vez em quando vítima das provocações dos rapazes da escola. Passávamos à porta do estabelecimento, gritávamos, brincávamos no passeio, sentávamo-nos na porta para não deixar passar a clientela. Ele acabava por saír invariavelmente do balcão com os bolsos cheios de goluseimas, que distribuia como suborno para lhe desimpedirmos a entrada. Nós acabávamos por lhe fazer a vontade.
Um dia deambulava com dois amigos pela praça em frente ao posto, sem nada para fazer. Já estavamos fartos de chutar a bola contra a parede recém-caiada da misericórdia, já tinhamos tocado á campaínha do "Pacharra", gasto os dois escudos do Etelvino em sais na farmacia do Braulio, chamado nomes ao guarda de plantão, batido à porta do consultório do Dr. Isabel, e já não sabiámos o que fazer mais para nos entretermos.
- Vou para casa. O meu pai já deve andar à minha procura - disse aborrecido.
-Pera aí, não vás ainda - sugeriu o Tó "Pelado"-, vamos chatear o Roque.
- Boa. vamos ao Roque! - concordou o Etelvino- Ao tempo que não o gozamos.
Fomos pelo passadiço, junto à loja do "Pepe", descemos a rua do "Bananeiro" e parámos em frente do "Ti Batateiro", mesmo à esquina do Roque. Montámos ali o conselho de guerra em frente à montra de relógios do "Batateiro" e decidimos fazer uma visita à loja. O "Pelado" tirou do bolso as duas chapas de cinco tostões que trazia para as "piratas" no "bananeiro" e coube-me a mim, como filho do comandante do posto, amicissimo do Sr. Roque, abrir hostilidades. Tinha de entrar na loja e pedir para ver todo o tipo de miudezas, que fosse possível comprar com dez tostões, mas sem abrir mão do dinheiro. Tudo para moer a paciência ao pobre homem.
Dobrei a esquina, galguei o degrau da porta e fui saudando o senhor Roque, que correspondeu do balcão:
- Então menino -inquiriu esfregando as mãos-, o que manda desta vez a mãezinha?
Era frequente ir buscar mercearia para a minha mãe. Uns quilos de açucar, sal, arroz. Era portanto cliente habitual. Mas desta vez o assunto era pessoal e fui logo acrescentando para atalhar conversa, com a primeira coisa que me veio à cabeça:
- Olhe, senhor Roque... tem cá tabaco de enrolar?
- Mas certamente menino! Não é para o menino concerteza... e o paizinho, ao que sei, também não fuma, pois não?
- Não, não senhor Roque. É para o Senhor Tavares. Está hoje de plantão e pediu-me.
- Mas ao que julgo, corrija-me se estou errado menino, o sr Tavares bebe, e bem, mas fumar não fuma, pois não?
Aí comecei a gaguejar a corar e de solsaio vi os meus camaradas a espreitarem pela vidarça da montra da loja: dois rostos a esticarem-se matreiros como espiões.
- Vai ver... senhor Roque, calhando fiz mesmo confusão. Era para ir ao "Bananeiro" buscar um litro de tinto e do hábito vim á sua loja. Vinho o senhor não tem, pois não?
O Homem lançou-me um olhar terrrrivelmente furioso, mas não disse nada. Eu acabei dando meia volta com o rabo entre as pernas. Lá fora, os meus camaradas romperam em grande risota, cada um para seu lado. O assalto não resultara. O gozado fora eu!
Ao jantar o meu pai veio-me com uma conversa estranha: Na adolesência dera-lhe para fumar uns cigarritos às escondidas no galinheiro do quintal. Até ao dia em que o pai desconfiou das estranhas idas ao galinheiro e o apnhou em flagrante. Um par de cinturadas na hora... matou o vício logo ali à nascença. E concluíu:
-Bem filho, há quem vá ao galinheiro por outros vicios bem piores, não é?
Que diabo quereria o meu pai dizer com aquela despropositada conversa de jantar? Alertar para os efeitos colaterias do vício do tabaco nas minhas costas? e que vício seria o outro, bem pior? Heveria ali "dedo" do senhor Roque? Andei a matutar uns dias com aquilo, mas pelo sim pelo não, deixei por uns tempos em paz o senhor Roque e abstive-me de ovos, mesmo que cozidos e bem passados pela minha mãe.
Hoje fumo e "tenho vícios" bem piores. O "toque" do Senhor Roque ao meu pai na reunião da conferência de S. Vicente de Paula, não serviu mesmo de nada!
Foi muito gentil e bem intencionado o senhor Roque com o meu pai, mas naquela tenra idade já eu era um pequeno edonista empedernido e ninguém o sabia!
E tudo começou precisamente no pequeno vício das goluseimas que o senhor Roque distribuía à garotada na porta do estabelecimento.
Quem diria?
Tawfic Zayyad*
Aqui
Sobre vossos peitos
Persistimos
Como uma muralha
Em vossas goelas
Como cacos de vidro
Imperturbáveis
E em vossos olhos
Como uma tempestade de fogo
Aqui
Sobre vossos peitos
Persistimos
Como uma muralha
Em lavar os pratos em vossas casas
Em encher os copos dos senhores
Em esfregar os ladrilhos das cozinhas pretas
Para arrancar
A comida de nossos filhos
De vossas presas azuis
Aqui sobre vossos peitos
Persistimos
Como uma muralha
Famintos
Nus
Provocadores
Declamando poemas
Somos os guardiões da sombra
Das laranjeiras e das oliveiras
Semeamos as idéias como o fermento na massa
Nossos nervos são de gelo
Mas nossos corações vomitam fogo
Quando tivermos sede
Espremeremos as pedras
E comeremos terra
Quando estivermos famintos
Mas não iremos embora
E não seremos avarentos com nosso sangue
Aqui
Temos um passado
E um presente
Aqui
Está nosso futuro
*Tawfic Zayyad, palestino de Nazaré, é considerado um pioneiro da poesia de resistência. A maior parte de sua obra foi escrita na prisão
"E a àgua lá vai, lá vai
Numa viagem bendita,
Num susurro, num ai,
Canta saudade infinita."
Era um velho moinho junto ao rio.
A porta dava para o monte,
a janelinha sobre o regato.
E ela afogueada no sol do meio dia
deitou-se à fresca do grande choupo.
Desenhou na terra a disposição do cabanal,
no quintal da casa
-que tu farás com as tuas mãos-
me disse ela.
Às telhas
—hão-de ser as que sobrem da casa velha-
lhes rasparei eu o musgo do tempo,
uma, a uma...
e ficarão como novas.
No fim molhou longamente
a mão na regadeira
e passou-a pela testa em brasa.
E aquele tempo passou,
com o rebanho saltando o pêgo,
de volta ao bardo.
Alguém trazia o rio
e o depositava aos pés
do velho homem
E o velho era uma árvore
que recebia o vento
e os seus olhos levavam noticias
muito longe e muito perto
como um canto de pássaro...
Lobo Duarte
A cabeça sobre a guitarra,
Como se lhe escutasse os gemidos.
Disseram-lhe: "Soa bem essa guitarra,
quando toca é uma sinfonia".
E o Paredes na sua modéstia desculpou-se:
" Acha amigo? mas olhe que as mãos estão perras"
E eles insistiram: "Toque uma canção, vá,
Que nós queremos ouvi-lo."
Faz-se roda à volta da mesa
O Sr Manel levou o galheteiro, os pratos, a travessa.
No tampo da guitarra poisou, a mão do Paredes
os dedos soltaram acordes de oiro.
A guitarra chorou monótona como o vento
Chorou como os pingos da neve derretida
E ao calor da mão que lhe embalava o corpo
impeliu navios como se fossem canções
Adormeçeu ao cansaço das lavadeiras,
catou pecebes na cais das rochas,
Apregoou sardinha no Chafariz d'Alfama,
Subiu a encosta do Castelo na manhã soalheira
E no fim, despiu a moça de blusa azul
sentada na mesa em frente.
A mão do Paredes quando tocava,
perra ou não, voava!
É quando estás deitada
que a tua pele cheira a urze
toda raíz nos membros
nos olhos toda nascente
nos seios todas as colinas.
E quando estás assim florindo
-alegre emanação da terra-
um lépido arrepio me sobe a espinha,
uma súbita fome me devora os lábios,
uma alvorada de prazer aflora ao ventre.
Então dentro de mim o Verão canta
no Zénite da paixão,
nas faúlhas de um fogo por arder
e que nos irá consumir
intensamente.
Mapa proposto em 1947 pela ONU
Na I.ª GG, a Palestina, que tinha 1.000.000 de árabes e 100.00 judeus , passsou a ter em 1947, 1.200.000 árabes e 600.000 Judeus devido à política massiça de imigração implementada pelo movimento internacional sionista, com apoio das potências ocidentais. A proposta de partilha dava ao judeus 57% do teritório e aos árabes 43%. É claro que os árabes não podiam aceitar. A desporporção era enorme!
Toda esta "embrulhada" no Médio Oriente começo no final do Séc. XIX, quando o judeu Theodoro Herzl propôs a compra da Palestina ao Sultão Abdul Hamid II, do qual ouviu a seguinte resposta:
Os judeus podem poupar os seus milhões porque quando o meu império for desmembrado, provavelmente receberão a Palestina em troca de nada ... ... mas só o nosso cadáver poderá ser esquartejado ...
As Memórias do último sultão otomano, anotadas por sua filha, a princesa Aïché Osmanoglou, esclarecem estas atividades conspiratórias no derrube do império otomano. Há quem veja nela uma conspiração judeo-sionista. Entre os traidores que o rodeavam, Hamid II denunciou Calouste Gulbenkian * — com quem teve contato através do dissimulado Mehemet Cavit Bey, ministro das Finaças Otomano, da seita dos Doenmeh, judeus islamizados de Salónica, que pertencia ao movimento dos "jovens turcos" que derrubaram o império Otomano— por ter contribuído para a sua deposição em 1909. De referir que O próprio pai da pátria Turca, Kemal Ataturk, dizem, era de origem Doenmeh. Esta seita embora exteriormente islâmica, privadamente observava um judaísmo messianíco. Pelo que se veio a passar posteriormente, não é de enjeitar que já houvesse uma promessa secreta ao movimento sionista, da instauração de um estado judaico na Palestina. Daí as palavras da filha do último sultão quanto ao envolvimento judeu na queda do Império, não serem assim tão descabidas:
Outras potências menos evidentes tinham engrossado as fileiras dos meus adversários. Herzl? Depois de ter compreendido que jamais obteria de mim a Palestina, tinha-se juntado às forças na sombra para me abaterem. Um dos quatro deputados que vieram anunciar a minha deposição foi Carasso, um judeu muito próximo de Herzl. Aliás, Carasso não se ficou por aí, visto que também é o elo de ligação entre a União e Progresso e a franco-maçonaria, à qual pertence ... como você mesmo, meu caro Bey! .... in Avec mon père le sultan Abdulhamid
A Inglaterra na altura da guerra já colonizara o Egipto e a França dominava cultural e politicamente a Síria. Por isso fixaram a futura devisão desses dois territórios entre si, para o pós-guerra pelo acordo secreto Anglo-Françês, sykes-Picot de 1916.
Por ele partilhavam os despojos do império otomano e transformava a palestina num condomínio franco-Britânico. O presidente Wilson dos EUA, defendedo direito à independência dos povos autócones, não aceitou esta partilha.
Mais tarde os Ingleses quiseram rever o acordo com os Franceses para controlarem a projectada linha férrea Bagdad-Haifa, e esoarem o petróleo de Mosssul pelo mediterrâneo.
Aproveitando a objecção Americana, subvertendo-a, os Ingleses planeram a ocupação militar da palestina, justificando-a com a posterior criação de um estado judaico, fazendo ao mesmo tempo várias declarações formais no sentido de apoio à auto-determinação. Era afinal uma ocupação altruísta, quem tinha ligitimidade moral para se opôr?
É aqui que entra o movimento sionista internacional, na consolidação desta estratégia britânica.
Durante a dissolução do Império Otomano, as várias organizações judias que já tinham procurado outros meios e outros associados para a restauração do estado judeu, viram na estratégia britânica uma boa oportunidade de legitimação e aproveitaram as declarações de intenção formais no sentido da auto-determinação.
A declaração Balefour em novembro de 1917, foi uma dessas declarações formais no sentido da auto-determinação, para apaziguar Wilson e justificar a ocupaçao militar da palestina.
Asssim, Balfour assinou esse, dos muitos "papéis", "contratos" e "acordos" que iriam incendiar o Médio Oriente. O bilhete, datilografado em papel comum, sem o timbre ou o selo oficial do "Secretário de Assuntos Estrangeiros do Governo de Sua Majestade" é dirigido ao banqueiro internacional. Rothschild, cujos descendentes continuam a cavilosa tradição, muito mais aquele ouro judeu recusado por Hamid II, do que a prosaica "simpatia britânica com as aspirações sionistas". Trinta anos depois, conseguiram pela aprovação na ONU, uma espécie de "registro em cartório" desse conluio. A própria votação da criação do estado Judeu em 1947 tem episódios caricatos de subornos, chantagens e manipulações. A votação teve de ser adiada, para permitir a actuação dos agentes sionistas junto dos representantes das nações votantes.
Eis, o teor do bilhete datilografado, a famosa "Declaração Balfour":
Prezado Lord Rothschild,
Tenho muito prazer em transmitir-lhe, em nome do governo de Sua Majestade, a seguinte declaração de simpatia com as aspirações sionistas que foram apresentadas ao Gabinete e aprovadas por ele:
"O Governo de Sua Majestade vê com simpatia o estabelecimento na Palestina de um lar nacional para o povo judeu e envidará seus melhores esforços para facilitar a conquista desse objetivos, ficando claramente entendido que nada será feito que possa prejudicar os direitos religiosos e civis das comunidades não judaicas existentes na Palestina ou os direitos e condições políticas usufruídas pelos judeus em qualquer outro país."
Agracederia que o senhor levasse essa declaração ao conhecimento da Federação Sionista.
Atenciosamente,
Arthur James Balfour
As consequências do inocente bilhetinho, estão à vista, não é?
Nota:
* Pela traição Gulbenkian seria compensado pelos Britânicos com 7% nas explorações petrolíferas do Iraque.
Na minha rua não há muitas flores, Cristiana,
apenas uns canteiros tristes no meu prédio
com renques de cardos e sardinheiras
e outra flor, de muitas cores
brancas, laranjas, liláses, vermelhas
de que nem o nome sabia.
Perguntei-o à senhora do rés-do-chão
"Olhe, faz-me favor.
Sabe-me dizer como se chama esta flor?"
"zínia? isso é lá nome de flor?"
Não gostava do nome, não gostava das cores,
-cheirei e nada de mais-
era flor de que não gostava!
Mas todas as manhãs quando saia
a minha filha colhia uma
delicadamente pelo pé
e balbuciava correndo para mim:
"é para ti paizinho, esta flor".
e tantas as vezes a minha menina disse:
" é para ti, paizinho esta flor"
Que dei por mim a gostar de Zínias, Cristiana!
começei a gostar daquelas Zínias...
roubadas no canteiro do meu prédio.
Agora sou doido por Zínias
Vá-se lá saber porquê!