Raia Morena
Raia, terra da memória distante,
Meu cantar torna-se triste
Quando penso em ti.
Meu cantar de saudade,
Meu cantar, maia em flor,
Que te venho dar.
Raia, terra dos primeiros jogos da infância,
Do perfume dos carvalhos e dos castanheiros,
Das mansas águas da Côa,
Da aridez dos cabeços,
Das sombras frescas dos freixos,
Dos quintais, dos chãos e dos vergéis com os seus mimos,
Dos beirais amigos
Onde a minha alma cansada,
Ao florir da giesta,
Atravessando montes e rios,
Todos os anos
Regressa.
Raia, mulher morena
De olhos ciganos,
Rebelde contrabandista,
Coberta de maias,
Beijo a tua boca em fogo,
Que me fala de amores
Na penubra doce da tarde,
Quando ébria de luz e melancolia,
Atravessa a minha alma
Montes e rios,
Para voltar a ti.
Raia, mulher amada,
Não tenho outra coisa que te dar
Senão um ramo de maias
De intensa fragrância,
Colhidas no teu corpo em flor.
Raia, mulher rebelde,
Meu cantar é um ramo de maias
De intensa fragância,
Quando penso em ti.