D’aquele esguio telhado
-Onde tu sabes que eu moro,
Eu acho os astros d’um ouro
Já bastante mareado!
Nenhum deles vai à trança
Dos teus cabelos cumpridos!
Por isso meu peito lança
Ao teu telhado gemidos!
Se eu fosse Deus, minha amada!
-Dar-te-ia, Satan m’ esfole!
Uma cartinha fechada,
Servindo de lacre o sol.
Mas sou um prédio em ruinas!
-Não tenho nada comigo,
Sou um mendigo,
Que tomo o sol de esquinas.
Divago roto e contente!...
-Odeio um lente – e o filósofo!
E sob este azul clemente,
Triunfo alegre e faminto!
Meus deuses são Vico e Dante!-
E gosto, no meu caminho,
Encontrar Minerva Amante,
E as Musas cheias de Vinho.
Como um barco sem amarra,
Navego, turgidas velas,
E desafo as estrelas,
À noite, sobre a guitarra|
E a cabelo louro ou preto-
Fragilidades de barro!
Envio sempre um soneto
Na mortalha de um cigarro!
Erro sem norte e sem tino!
Ninguém me’estende o seu braço.
Quer-me por força o destino
Comendador ou palhaço!
Post scriptum:
Desculpa-me, flor amada!
-Ó minha musa divina!
Não fui hontem à escada,
Porque empenhei a batina!
(Gomes Leal, in Claridades do Sul)
PS: Resumindo; os copos fazem mossa!