A lua já se pôs,
As Plêiades também:
Meia-noite; foge o tempo,
E chora um mocho,
No silêncio do jardim.
Vem, meu amado.
Vem até este gracioso bosque de macieiras, onde a água fresca canta entre as raizes das árvores, e a trémula sombra da figueira desce um sono pesado sobre as minhas pálpebras.
Vem, meu amado.
Trancemos juntos multiflores coroas de ramos de sândalo e murta,
Que pomos em meus cabelos,
Vem, segreda-me palavras doces ao ouvido, e minha alma te ouvirá cativa e amorosa, e as nossas noites serão como os regatos tranquilos cobertos de flores primaveris, ou roseiras brancas, cujo perfume a brisa sopra docemente, em fragâncias doces ao olfacto;
E meus lábios serão teus lábios, meus cabelos serão os teus cabelos, como a raiz é da flor, a flor é da abelha e da abelha é do pólen.
Vem, decansa a cabeça nos meus seios, bebe a doçura da minha boca, que eu sou o mel de que teus lábios gostam.
Vem, amado do meu coração!
Vem; vem, que toda eu te quero!
Vem; procura o calor das minhas coxas,
Que começam a estremecer;
E verás como, chamando-te com as minhas mãos, e puxando-te para o meu leito, um fogo urgente me sobe pela carne, um frio suor me recobre;
E como, no transporte doce da minha alma,
Sacudindo os cabelos orvalhados de estrelas,
Pálida, perdida, febril,
Um frémito me abalando...
O corpo se me arrepiando...
Respirando a custo...
Caio num langor profundo...
E morro.
Cai a lua, caem as plêiades;
Meia-noite; passa o tempo,
E eu, aqui deitada, sozinha,
Ouvindo o pranto do mocho,
Nada mais ouvindo que o pranto,
Morrendo de tristeza.