Começou por dizer que «gostava de malhar em toda esquerda»; a «proletária» e a «chique». Implicitamente também gostaria de malhar no Manuel Alegre, que alinha com a “esquerda chique”; depois veio “corrigir o tiro”, dizendo que ao pé deste era insignificante. O inusitado mea culpa de Santos Silva, cá para mim, tem uma explicação:
Nos passos perdidos da Assembleia, Santos Silva é abruptamente interpelado por Alegre, que agarrando-o pelos colarinhos, lhe grita:
-Retire já o que disse!
Santos Silva, temeroso, balbuciou:
- Camarada… Mas camarada…
-Retire as palavras – e apertando-lhe o gasganete - retire!
Santos Silva, sufocando, esganiçou:
-Por quem é, camarada – e afrouxando o garrote que o sufocava - não queria ofender…
-Você malha em quem? – e sacudindo-o - malha em quem? Diga lá agora?!
-Eu explico…
-As explicações são estas; convoca a imprensa e diz: «declaro que ao pé do Alegre, não sou ninguém».
- Então, camarada… por quem é; isso era dar o dito por não dito…
-Ou isso, ou um olho negro; escolha!
Anémico, miudinho, alimentado a queques, Santos Silva é o tipo de homem que tomba com uma rabanada de vento. Uma palmadinha amiga nas costas e perde os sentidos; vai-se-lhe o apetite, mirra, cai à cama e, daí a semanas, morre de tísica. Em suma; se uma carícia afável na face o põe a caldos de galinha, já podem vocês imaginar o efeito de um murro bem assente no toutiço.
Aí têm vocês pois, a razão porque, anunciou solenemente aos jornalistas:
-Ao pé do Manuel Alegre, meus senhores, sou um pigmeu!
Incrédulos, estes ainda confirmaram:
-Não estará a ironizar?
E ele, peremptório, para que não houvesse dúvida:
-Não, não estou!
Aquilo foi medo!
Resta saber do quê...