Finalmente o circo montado em volta do caso chegou ao fim. Não tomaria as proporções a que chegou, não fosse a campanha montada pelo casal Gomes para branquear o seu comportamento criminoso e moralmente reprovável e que muitas figuras públicas acobertaram, a ponto de se inventar uma curiosa figura de “paternidade afectiva” para justificar o absurdo da situação.
A verdade neste caso é simples e a solução evidente e aqui fica para quem tiver paciência de ler:
A Mãe biológica, Adida Porto, era mulher de vários relacionamentos amorosos e teve mais um com Baltazar.
Assim que engravidou, comunicou paternidade a Baltazar. Este como é rústico, mas não é parvo e sabe que anda por aí muito filho e filha da mãe a chamar pai a outro, não foi em conversas e aguardou prudentemente o resultado do teste de paternidade a que voluntariamente se submeteu no âmbito do processo oficioso de averiguação de paternidade.
O resultado demorou, como demora tudo o que depende dos organismos oficiais neste país; mas veio. Desfeitas as dúvidas, Baltazar pediu logo a guarda da filha. Veio a sentença, também decorrido algum tempo e entretanto tinham passado dois anos na vida da Esmeralda.
Despacha o tribunal no sentido de se notificar o casal Gomes para entregar a criança, mas estes fogem às notificações e desaparecem com a menor (foram julgados por sequestro ou subtracção da menor). Baltazar não se dá por vencido e insiste na entrega. O casal Gomes entretanto aparece, porque a condição militar de Luís Gomes deixa rasto. É detido e julgado enquanto a mulher continua em parte incerta com a criança.
Aproveitando o mediatismo do caso, a simpatia da opinião pública e o poio de varias figuras públicas, a mulher de Luís Gomes reaparece com a criança, confiando que seria a justiça dos media e não a dos tribunais a que iria prevalecer.
Nisto passaram-se mais quatro anos na vida da Esmeralda.
Postas as coisas no seu devido lugar, ainda acha o leitor a conduta do casal Gomes jurídica e moralmente aceitável?
Adivinho a objecção do estimado leitor:
…«Mas afectará psicologicamente a criança retira-la agora ao casal Gomes, com quem já criou laços afectivos.»
Talvez. Mas um adequado acompanhamento técnico pode minorar o problema. Em todo o caso seria moralmente inaceitável o casal Gomes vir a beneficiar de uma situação de que é o único responsável, ao protelar durante quatro anos a entrega da criança em desobediência a uma ordem do tribunal.
Estou mesmo a ver a nova e perspicaz observação do leitor:
…«Mas a criança tinha melhores condições de vida ficando com os “pais afectivos”.»
Já cá tardava a subtileza do “pais afectivos”. Vamos lá esclarecer o seguinte:
Só tem acesso às alegrias da paternidade, a legar o património genético, ao amor filial e paternal, quem for economicamente favorecido?
Um pobre desgraçado não pode ter filhos?
A criança teria melhor vida com o casal Gomes. Então tira-se ao Baltazar, que é o pai biológico, mas pobre?
Eis o absurdo dos absurdos a que chegámos, caro leitor, com este raciocínio:
Quando uma criança nascer pobre, o estado confisca-a e entrega-a a uma família infértil e mais remediada ou rica, para que tenha mais sucesso na vida.
A Esmeralda fica com o Baltazar e fica muito bem! É que aos pobres também sobra uma qualidade que muita gente rica não tem:
Amor!