Na perspectiva diferente de dois autores portugueses. A dissemelhança não é só temporal, não está só na abordagem sócio-cultural do tema da sedução - no primeiro a iniciativa é do homem; no segundo da mulher– mas também na qualidade da escrita – uma genial; outra medíocre:
Texto I
Luísa corou. – Não, tinha muito medo da trovoada. Tinha ouvido a trovoada, ele?
- Estava a cear no grémio, quando trovejou.
- Costumas cear?
Ele teve um sorriso feliz. – Cear! Se se podia chamar cear ir ao Grémio rilhar um bife córneo e tragar um Colares peçonhento!
E fitando-a:
- Por tua causa, ingrata!
Por sua causa?
- Por quem então? Porque vim eu a Lisboa? Porque deixei Paris?
- Por causa dos teus negócios…
Ele encarou-a severamente.
- Obrigado – disse, curvando-se até ao chão.
E a grandes passadas pela sala soprava violentamente o fumo do seu charuto.
Veio sentar-se bruscamente ao pé dela. – Não, realmente era injusta. Se estava em Lisboa, era por ela. Só por ela!
Fez uma voz meiga, perguntou-lhe se ele tinha realmente um bocadinho de amor muito pequenino, assim… - Mostrava o cumprimento da unha.
Riram.
- Assim, talvez.
E o peito de Luísa arfava.
Ele então examinou-lhe as unhas; admirou-lhas e aconselhou-lhe um verniz que usam as cocottes, que lhes dá um lustro polido; ia-se apossando da sua mão, pôs-lhe um beijo na ponta dos dedos; chupou o dedo mínimo, jurou que era muito doce; arranjou-lhe com um contacto muito tímido uns fios de cabelo que se tinham soltado – e, disse, tinha um pedido a fazer-lhe!
Olhava-a com uma suplicação.
- Que é?
- è que venhas comigo para o campo. Deve estar lindo no campo.
[…]
Luísa hesitava.
- Não digas que não.
- Mas onde?
- Onde tu quiseres. A Paço de Arcos, a Loures, a Queluz. Dize que sim.
A sua voz era muito urgente, quase ajoelhava.
- Que tem? È um passeio de amigos, irmãos.
- Não! Isso não!
Basílio zangou-se, chamou-lhe «beata». Quis sair. Ela veio tirar-lhe o chapéu da mão, muito meiga, quase vencida.
- Talvez, veremos – dizia.
(Eça de Queirós, in “O Primo Basílio”, Planeta Agostini, pág. 121 e 122)
Texto II
O professor alguma vez comeu comida sueca?”, perguntou Lena, adocicando a voz.
“Comida sueca? Uh… sim, acho que comi em Malmö, quando lá fui no Inter-rail.”
“E gostou?”
“Muito. Lembro-me que era bem confeccionada, mas muito cara. Porquê?”
Ela sorriu.
“Sabe, professor, acho que não vai conseguir explicar-me tudo em apenas meia hora. Não quer antes vir almoçar a minha casa e ajudar-me a ver as coisas com mais calma, sem pressas?”
“Almoçar em sua casa?”
A proposta era inesperada e Tomás ficou atrapalhado, não sabia como lidar com aquele convite. Pressentiu que ele acarretava uma mão-cheia de problemas, anteviu mil complicações, mas não havia dúvidas que Lena era uma rapariga agradável, ele sentia-se bem na presença e a tentação era grande.
“Sim, faço-lhe um prato sueco que o vai deixar de água na boca, vai ver.”
[…]
“Está bem”, assentiu. “vamos lá almoçar”.
Lena abriu-se num sorriso encantador.
“Então está combinado”, exclamou ela. “Vou fazer-lhe um prato que o vai deixar a implorar por mais. Marcamos para amanhã?”
[…]
“Não pode ser”, abanou a cabeça. “Tenho de ir à… uh… tenho um compromisso amanhã, não posso ir.”
“E depois de amanhã?”
“Depois de amanhã? Sexta-feira? Humm… sim, pode ser.”
“À uma da tarde?”
À uma. Onde é a sua casa?”
Lena deu-lhe a morada e despediu-se, pespegando-lhe dois beijos húmidos na cara. Quando ela saiu, deixando o delicioso aroma do seu perfume a pairar no gabinete como se fosse uma assinatura fantasmagórica, Tomás olhou para baixo e apercebeu-se, surpreendido, excitado, de que os seus fluidos já tinham reagido, a química estava em movimento, o corpo ansiava pelo que a mente reprimia. Uma vigorosa erecção enchia-lhe as calças.
(José Rodrigues dos Santos, in “O Codex 632”, Gradiva, pág 147 e 148)