Desde as oito da tarde ela aguardava no cais
Que o expresso dele chegasse.
Às nove – depois de vários expressos – ainda ela esperava.
Chegaram as nove e meia; esvaziou
O snack da estação quase por completo.
Aborrecida pôs-se a ler as capas das revistas
Do quiosque na sala de espera. Maquinalmente
Entrou no Snack e pediu um café. Enrolou um cigarro
E gastou cinco euros em chocolates.
Fumou mais um cigarro.
Enerva-a tanta espera. Porque esperava há horas
E começava a duvidar se ele ainda viria.
Mas quando o viu chegar – esqueceu as horas de espera,
O frio, a hora tardia. Pôs base, retocou os lábios.
Correu para o cais.
Ele desceu e atirou uma desculpa esfarrapada:
“Perdera a camioneta directa; viera na seguinte
E tivera de fazer uma ligação manhosa qualquer”.
Mas ela já nem o ouviu. O seus rostos belos, a juventude de ambos,
A paixão que tinham entre si, avivaram-se, tonificaram
Com a perspectiva de noite que iriam passar juntos.
E cheios de alegria e pressa, paixão e beleza
Atravessaram a sala de espera, o corredor das bilheteiras,
(já completamente encerradas àquela hora) e de mãos dadas
Entraram na pensão ao fundo da avenida,
Onde pediram quarto para dormir e bebidas.
E quando esgotaram as bebidas e os chocolates,
Já perto das meia-noite,
Entregaram-se felizes ao amor.