Ela esperou, esperou e tornou esperar à janela que dava para o largo. As brasas a morrerem na lareira, as febras em "vinha de alhos", e dele, nem rasto! A mãe espicaçou-a da cozinha: “ Se aquilo era já assim antes de casar, o que seria depois!" E farta de esperar, resolveu que ele precisava era de uma boa lição. Quando chegasse para jantar, veria as persianas corridas, as luzes apagadas e havia de bater com o nariz no portão. Depois pensou que devia ter havido algum contratempo: Talvez a mãe o não deixasse vir; não arranjou boleia; entreteu-se nos copos… sei lá!
A Noite estava amena. De longe vinha o som nítido da música do arraial. E ela que ainda queria dar um pezinho de dança! A mãe espicaçou-a de novo: “ Eu não te avisei? Ele não é de fiar!” O relógio do corredor bateu as 22. Na televisão começou o genérico do telejornal. Esperou ainda até ao fecho do noticiário. Aquilo era demais! A mãe, da cozinha, insistiu “que fosse para dentro, que àquelas horas ele já não vinha!” Ela fechou a janela, correu as persianas e foi-se deitar. Ná, ele vai ver como é!
Minutos depois, o roncar de uma moto quebrou o silêncio do largo. A seguir silêncio novamente. Passos... O cão latiu. Depois bateram ao portão. Ela levantou-se, afastou ligeiramente a persiana e espreitou por um canto da janela, às escuras. Era ele que vinha com o primo. A mãe perguntou da cozinha ”se queria que abrisse”. E ela do quarto, voltando a enfiar-se nos lençóis: Não; ele que vá para o raio que o parta!