Há meses postei aqui um texto em que deitava abaixo a mediocridade de muita poesia que se publica e para o qual remeto, algures neste blogue, por actual, face ao que vou dizer a seguir.
No “Correio da Manhã” de hoje vem um artigo de página sobre o novo livro de Paulo Teixeira Pinto, novel e celebrado poeta e pintor do burgo; um dois em um, que não faz por menos, poeta e pintor… um génio em duplicado!
O senhor é mais conhecido por ter comprado a “Guimarães Editores” com a choruda indemnização que recebeu quando saiu do “BCP”.
Publicou também um livro de poesia e expôs uns quadros, que vi de relance numa reportagem de TV.
Agora reincide em novo livro de poesia que traz pérolas de lirismo como esta:
«A mais
Sublime
E surpreendente
De entre todas
As palavras
Jamais ditas
Foi pronunciada
Uma só vez
Uma só vez
E calou-se
Na desventurada
Garganta
Daquele
Ali.»
Sublime! Magnífico! Trata-se sem dúvida, a crer no destaque de caixa que mereceu no citado artigo, de um texto marcante da nossa literatura, mesmo ao mais desatento leitor. Daí o destaque, presumo!
De facto é um texto que prima pela subtileza, sensibilidade, lirismo, artifícios poéticos, figuras de estilo! Em suma, um exemplo consumado do que é a verdadeira linguagem poética!
Pelo que me toca, agradeço pois a Paulo Teixeira Pinto ter dado à estampa tão magnífico texto e ao “Correio da Manhã” por me ter proporcionado a oportunidade de lê-lo.
Mas fico a saber pelo citado artigo, que terei mais oportunidades de me deleitar com tão magnífica poesia: Paulo Teixeira Pinto promete mais livros e mais exposições, porque já «tirou dois dias na semana» para se dedicar inteiramente «à pintura e à escrita». O “poeta-pintor” sacrifica a sua dourada reforma pela arte, por nós, leitores! Pelo que me cabe, registo o gesto estóico!
E confidencia o “poeta-pintor” que ainda «tem muitos textos na gaveta» que escreveu nos «últimos dez anos». São uma verdadeira gruta de Alibábá as gavetas de Paulo Teixeira Pinto! Um manancial inesgotável de talento e inspiração que nos levará ao limbo da poesia! Fica a ameaça; cuidem-se, caros leitores!
Arre! Que estopada! É bem verdade que «presunção e água benta, cada um toma a que quer!». E este Paulo Teixeira Pinto tem das duas que sobre! Se o que ele escreve ou pinta é poesia ou arte, vou já «ali» afogar-me no Lis de caminho! Perante tamanho génio, calo-me para sempre e ninguém mais me porá a vista em cima, juro!
Mas antes, meu caro Paulo Teixeira Pinto… aqui fica um conselho, para se num feliz acaso, esta diatribe lhe chegar por entreposta pessoa; e peço-lhe que, na maior humildade e resignação cristã o aceite como uma espécie de orientação espiritual do seu antigo confessor na Opus Dei:
Faça como a «desventurada garganta» do seu “poema”; não pronuncie nem escreva uma palavra mais, não estrague nenhuma tela mais… «cale» a sua «desventurada» pena e pouse o seu desajeitado pincel para sempre… «ali», Já!
É que, ao contrário das boas críticas e dos críticos, o talento e sensibilidade artística ainda não se compram nem se vendem, meu caro Paulo Teixeira Pinto!