Boivin veio a Provins, famosa cidade de feira, disfarçado de camponês, vestido de grosseiro pano cinzento e calçado de tosco couro de vaca.
«E, passado mestre em velhacaria
(um mês e mais tinha ficado
com a barba por fazer
um aguilhão tomou na mão
para melhor com vilão se parecer»
Assim disfarçado, vai direito «à rua das putas» e senta-se em frente da casa de Mabile.
«Sábia em astúcia e enganos
mais do que qualquer outra mulher.»
Falando sozinho, ele finge contar o que ganhou na feira, vendendo bens inimagináveis: bois, alqueires de trigo, lã, jumento e leitos… no que juntou 100 soldos, uma pequena fortuna, quando de facto, tinha um soldo na bolsa.
A artimanha resulta; Atrai a gente da casa:
«Não tenham receio», diz Mabile aos seus comparsas, «aquele não me escapa».
Bovin prosseguiu no seu monólogo:
«Se ao menos eu soubesse o que foi feito da minha sobrinha Mabile, que partiu há tanto tempo. Eu que estou sozinho desde a morte da minha mulher e dos meus três filhos…» E acrescenta:
«Nunca alegria entrará no meu coração
Se não puder rever a minha doce sobrinha.»
Em resumo, nada mais lhe resta senão fazer-se monge. Mabile sai nesse momento e trava conversa. Não tardam a cair nos braços um do outro. Dois rufias saem também. Apresentação; troca de amabilidades.
«Verdade; é meu tio», diz Mabile
«de quem tão bem vos falei»
Mabile envia os dois rufias comprar fiada uma boa ceia:
«É o vilão que pagará tudo.
Apanhar-lhe-ei mais de cem soldos».
A comédia pr4ossegue durante a refeição, com Mabile a pedir notícias da família e a fingir-se pasmada com as sucessivas mortes de familiares que o vilão lhe relata. E Mabile interroga o tio:
«Depois da morte de sua mulher, teve companhia carnal com outras mulheres? È muito mau para a saúde privar-se muito tempo».
«Sobrinha, faz sete anos bem contados».
Mabile, compadece-se e propõe a sua sócia Ysane, que apresenta, como “noviça”:
«Só para a sua virgindade possuir
outros pagariam bons cabedais.
Mas vós a tereis; pois assim quero.»
(e a Ysane piscando o olho)
«Que a bolsa lhe seja cortada».»
Boivin, que conhece as manhas do meio, corta os cordões da bolsa e esconde-a na camisa. Enquanto se apodera de Ysane, esta procura às apalpadelas o desejado porta-moedas, sem o encontrar. Depois, Boivin finge-se desolado, mostrando as duas fitas:
«Sobrinha, cortaram-me a bolsa!
Foi aquela mulher que a cortou.»
Mabile, julgando que a trapaça resultara, põe fora o cliente, que não resiste e na rua mostra os cordões cortados a quem passa. Em casa as coisas azedam. Mabile ordena:
«Dá-me isso depressa.
Que o vilão vai ao preboste.»
«Mas eu não o tenho (protesta Ysane) e no entanto bem o procurei».
«Pouco falta que te quebre,
puta velha e porca, todos os teus dentes!
Vi muito bem os dois cordões pendentes
Que tu cortaste, sei muito bem!»
E Mabile, arrepelando-lhe os cabelos, deita por terra Mabile, que mói de pancada. Ysane grita por socorro do seu rufia, que acorre, arromba a porta e se lança sobre Mabile, que berra. Vem o segundo rufia, amigo de Mabile, e agarra-se ao primeiro. Acorrem os vizinhos ao barulho:
«Viu-se então a casa encher-se
de tunantes e de putas.
Cada um metendo a mão.
Ali, vereis cabelos arrepelar,
paus a bater, fatos a rasgar
e um debaixo do outro abater-se.
O único que se não incomoda é Boivin, a quem o preboste, divertido, dá dez soldos em recompensa.