A nossa profissão é como a dos padres: Conhecemos segredos e histórias inimagináveis, algumas delas divertidas, outras escabrosas. Umas podemos contar, outras, por questões deontológicas, não.
Os processos de divórcio litigioso, são dos mais pródigos nestas histórias a que umas vezes assistimos divertidos, outras, surpreendidos, de a tanto ser capaz a miséria humana.
Pois num destes processos, a mulher acusava o homem de adultério, que ele, evidentemente, negava.
- Isso -contrapunha ele- são imaginações da tua cabeça!
-Ai são? –indignou-se ela- E aquele passeio a Fátima, com os meus pais?
-Qual passeio?
-Quando fizeste aquela travagem brusca…
-Que travagem?
-Quando o sapato de senhora te veio parar à frente…
-Que sapato?
-Aquele que julgaste ser da tua amásia…
-Que amásia?
-Não disfarces… -atirou ela irónica- tu todo simpatia a mostrares-nos a paisagem, para te desfazeres do sapato pela janela…-e acertiva- ou julgas que não reparei?…
-Reparaste em quê? -defendeu-se ele como pode- lá vens outra vez com a tua imaginação!
-Ai é imaginação? Então porque é que ao sairmos –rematou ela triunfante- a minha mãe, ao calçar-se, deu por falta de um dos sapatos?
Não se dando por vencido, ele replicou:
-Posso jurar que a tua mãe se esqueceu do sapato em casa…
-Ai sim?
-Sim… quando entrou no carro já vinha sem ele, que eu bem vi…