Quando era miúdo
- ao tempo que isso já lá vai-
entretinha-me à beira do rio
a atirar pedras
só para as ver fazer ricochete
e ouvir o grasnar dos patos a levantarem
assustados
entre a sombra dos arbustos,
passando baixos,
junto à água.
Depois
deitava-me no restolho,
esquecido de tudo
ouvido colado ao chão,
a ouvir
o canto das cigarras
e das raízes.
Minha mãe chamava-me então do cimo das eiras
Eu fingia não ouvir
E colava cada vez mais o ouvido ao chão
Para melhor sentir
Aquele poema que a terra me dizia!