Sentara-se à secretária
E nada lhe ocorria;
Nem uma palavra;
Nem um verso.
Bateram timidamente à porta,
Era quase meia-noite,
E a maneira de bater…
O que será?
Era a Rosa Maria,
A criada da pensão,
Que vinha atarefada,
Do arranjo dos quartos
E perguntou:
-Venho incomodar?
-Não. O que há?
-Nunca lhe pedi nada…
Se não fosse muita maçada…
Não andei na escola…
Escrevia-me uma carta ao meu rapaz?
Disse que sim
E esperou que ela ditasse:
- Meu querido João do coração
Estimo que esta te vá encontrar de saúde
Em companhia dos teus
A quem mando muitas saudades.
Dá também saudades à minha mãe
E diz-lhe que fico bem.
Esta carta é para te dizer
Que ainda não me esqueci de ti
E que morro de saudades tuas
Meu João do coração.
Fico só até acabar o mês
E depois volto para ti
E para a nossa terra.
Vai-me esperar à estação,
No carro do primo Isidro,
Quando to mandar dizer.
Tua querida Rosa do coração
E saudades.
No envelope:
João Firmino da Rosa
-A Rua não é precisa - disse ela-
Vai lá ter mesmo assim.
-Moinhos de Carvide-
3100 Pombal.