Mês de Novembro em Salamanca
E um calor como há muito não sentia.
O quarto dava para um pátio interior
Com roupa a secar;
No corredor
Os passos da mãe;
Pela janela aberta
O arrulhar das pombas,
No pequeno pátio.
Mês de Novembro em Salamanca
E um calor como há muito não sentia.
Os touros mortos
Deixando rasto de sangue na praça;
As prelecções matinais na faculdade;
O refresco numa esplanada da Plaza Mayor
A seguir à siesta
E a meio da tarde ela entrando pelo quarto,
A sentar-se no chão,
Abrindo o leque preto
E a refrescá-lo com aquele vento.
Mês de Novembro em Salamanca
E um calor como há muito não sentia.
O leque aberto no chão…
Depois ela voltava a pegar no leque
A fechá-lo e abri-lo,
Como fazem as espanholas
E despia-se.
Mês de Novembro em Salamanca
E um calor como há muito não sentia.
O leque abrindo e fechando
Como fazem as espanholas
Eles nus
No chão daquele quarto,
E os passos da mãe
No corredor.
Mês de Novembro em Salamanca…
E um calor como há muito não sentia.