O amigo convidara-o para assistirem à conferência sobre Unamuno. Chegaram atrasados, mas ainda a tempo de ouvirem aquela intervenção sobre as relações luso-espanholas, em que Portugal era menosprezado.
Aí ele pediu a palavra e falou do iberismo de Unamuno, das suas frequentes viagens a Portugal, da amizade deste com intelectuais portugueses, entre os quais, Quental, Pascoais, Nemésio; depois do grupo “Renascença”, que editara a revista Àguia e onde pontuaram Cortesão, Coimbra e Pascoais; explicou pormenorizadamente como a doutrina deste movimento fora elaborada por Unamuno a pedido do próprio Pascoais e por fim, como a poesia de Fernando Pessoa entroncava no pensamento de Unamuno.
Perante o espanto da assistência, mencionou ainda como Pessoa antes de se juntar por despeito ao Grupo “Orfeu” pertencera ao grupo “Renascença”, partilhando o seu conceito da estética, da filosofia, história e humanismo ao longo de toda a sua obra.
Lanchou depois numa tasca nos arredores da Torre de los Caballeros e para matar o tempo até ao jantar, entrou na Sé, onde o Arcebispo, que havia também assistido à palestra o conduziu à enorme sacristia e o fez sentar numa antiquíssima cadeira, precisamente a mesma, onde segundo a tradição, saíra em ombros o nosso frei Bartolomeu dos Mártires, após defender com brilho a sua tese de doutoramento no “Quadrivium”.
O Arcebispo explicou-lhe, que aquela cadeira era reservada aos portugueses ilustres que visitavam a catedral, o que o fez desconfiar que aquele lhe estava a prestar uma singela homenagem pela dissertação sobre Unamuno.
Mais convencido ficou, quando à saída pela porta lateral, perante a incredulidade dos transeuntes, o Arcebispo deu vivas a Espanha e a Portugal.
O pior foi o regresso pela madrugada, após o jantar, ébrio: Uma patrulha da guardia civil parou-o; como não trazia documentos de identificação nem do carro, acabou a noite numa cela fria da esquadra, completamente ébrio, a dar também ele vivas a Portugal e a Espanha.