Trata-se de um colega que tem no seu escritório uma excelente colecção de arte moderna, onde figuram excelentes pintores portugueses e estrangeiros.
Após o trabalho no seu gabinete, passamos a uma outra sala para tomar café. Para meu espanto, entre os diversos quadros ali expostos, um particularmente era-me familiar; e referi-o ao colega.
Foi então que me explicou ser natural, até porque se tratava de um quadro meu, datado de 1993.
Aí mais admirado fiquei porque já nem me lembrava de ter pintado tal quadro. Aproximando-me, verifiquei que de facto, no canto inferior direito do mesmo figurava a minha assinatura. Era meu; sem dúvida!
O colega lá me reavivou a memória, explicando que se intitulava Dunquerque, e que já lhe haviam oferecido em troca um outro quadro de um certo pintor francês, de que mencionou o nome. Acrescentou depois, sorrindo, que nem assim tivera coragem em se desfazer dele.
Regressando a casa investiguei, por curiosidade, na Internet, o mencionado pintor. Não é que, para meu espanto, as suas obras estão cotadas acima dos 2.500,00 euros?
Fiquei siderado! Conclui, com remorsos, que ando a perder o meu precioso tempo nas barras dos tribunais!
Dias passados, atravessando o largo frente ao tribunal e cruzando-me com o mesmo colega, admoestei-o por não ter aceite a troca. Retorquiu-me ele divertido, que esperava ansiosamente a minha morte para aumentar a cotação do quadro. Aí sim… o venderia ou trocaria.
Expus as minhas reservas: O meu nome era perfeitamente desconhecido no circuito comercial de arte. Então contra argumentou, que era precisamente nisso que estava o busílis da questão: Os meus quadros eram bons e raríssimos; a lógica era precisamente retê-los para se lhes elevar a cotação.
Não pude deixar de sorrir àquela tão linear aplicação da lei da oferta e da procura ao mercado da arte; só uma interessante variante: a da morte. E pensei cá para com os meus botões: Longe vá o agoiro, mas esta coisa da arte é negócio bem tramado!