Pátio de um Riad (habitação de estilo andaluz)
À saída da “village”, perto da Koutobia, virei à esquerda em direcção á El-Fna. A esta hora da tarde a El-Fna transforma-se num grande palco onde desfilam até altas horas da madrugada, milhares de pessoas. Um mar impressionante de gente que nunca vi em mais lugar nenhum do mundo.
Rompi a custo pelo meio de encantadores de serpaentes, que fazem parte da tradição sagrada e ancestral proveniente da Índia; pelos comedores de fogo; pelos tocadores de tambores; pelos dançarinos Gnawa, negros do Sudão; pelos vendedores de água nos seus trages coloridos em lã; pelos cartomantes; e passando ao largo da “comisserie”, do “café de france”, das boutiques, dos restaurantes, dos vendedores de crêpes, das tendas de comida, que deixam no ar um aroma inconfundível com mistura a canela, açafrão, pimenta, cominhos, genebra, noz-moscada e chá, aventurei-me pelo Souk das marroquinarias, onde se vende de tudo, desde as cerâmicas a doces, cabedais, sedas, tecidos, especiarias e carne.
À entrada, um bérbere, esguio, vestido com a sua “djebla” (não sei se pronuncio correctamente), seguiu-me uns metros e tirou-me a pinta:
- Português? Portugal?
Acenei que sim. Já me não largou.
- Figo! Ronaldo! Portugal muito bom!
Quis saber-lhe o nome.
- Ahimii... – e traduziu- Jaime em português!
Ofereceu-se para guia. Senti-me como se tivesse sido salvo de um naufrágio. Perguntei-lhe quanto levava. 300 dirah’s, pediu ele. Mas avisado pelo Mustafá, que me alertou para a costela cigana desta gente, ofereci apenas 50 dirah’s. Ele regateou; queria 200. Mantive-me inflexível; 50 ou mais nada; aceitou. Para que não houvesse mal entendidos, soblinhei: 50 dirah’s... 5 euros, se estava bem assim. Ele acenou que sim; abriu os braços; não havia problema.
Entretanto mudei de ideias e pedi-lhe que me levasse pelas ruelas dos riad’s para ver azulejaria e estuques tradicionais. Acenou mais uma vez que sim e pediu-me que o seguisse.
E lá fui eu atrás do Ahimii, á aventura, pelas ruelas estreitas da Medina. Passei por boas aventuras com este homem extraordinário e aprendi muito com ele. Mas essa história, e como aqui me falam como a um perito na literatura e arte islâmicas, fica para um dia, quando voltar.