Inverno,
Luz turva
Um casarão enorme, branco,
Num pátio calcinado
Pelas brincadeiras
Das crianças.
O sentimento de terror,
Angustiante.
Entre as carteiras passava um homem,
Esguio, cabelo à escovinha,
A “menina” dançando no ar.
-Sete vezes seis? – Sete vezes seis?
E o vozeirão enchia a sala.
De pé,
Entre as carteiras,
Ía por cima das nossas cabeças
E o pensamento dava seis nós,
O estômago sete voltas.
-Sete vezes seis? – Sete vezes seis?
Nem dava tempo parar reflectir.
-Sete vezes seis? – Sete vezes seis?
-Cinquenta e seis!
-Adiante! Adiante!
Um, por sorte, acertava:
-Quarenta e dois?
E todos em fila, frente ao quadro,
Os bolos estalavam na mão,
Às dúzias,
A pele inchava, dorida,
As lágrimas corriam,
Furtivas.
E por fim,
Para o que acertara:
-Tu, também… Para que não esqueças!
Levantava a “menina” acima do ombro
-Anda, diz lá outra vez… Sete vezes seis?
E o corpo gemia:
-Quarenta e dois!... -Quarenta e dois!...