Terça-feira, 17 de Dezembro de 2013

 

 

 

    Diz-se que o Natal é o aniversário do Nascimento de Jesus e uma data de Paz e de Amor entre todos os homens.

Inicialmente, até nem se comemorava o Natal. Só em meados do século IV d.C. o  Papa Júlio I fixou a data no dia 25 de Dezembro,  como a data nascimento de Jesus,  segundo se diz, para cristianizar as Saturnálias romanas, que terminavam a 23 de Dezembro, e as festas de Solstício  de Inverno Célticas, coincidentes com o dia mais curto do ano, em 21 de Dezembro, a partir do qual os dias começava a ser mais longos, e com as festividades do Deus Solar Mitra, cujo nascimento, «dies natalis solis invicti», era a 25 de Dezembro.

    E até há a evidência bíblica que Jesus não nasceu no Inverno, porque quando tal aconteceu os pastores encontravam-se nos campos a cuidar dos rebanhos, nas vigílias da noite, e a evidência histórica de os census de Augusto, data aproximada em que Cristo nasceu, se terem dado na Primavera.

    Por isso, o Natal não corresponde à data de nascimento de Jesus, sendo apenas  dedicado a Cristo, verdadeiro Sol de Justiça (Mateus 17,2; Apocalipse 1,16), por substituição daquelas festividades pagãs.

    E é em parte devido às Saturnálias, período em que não havia senhores nem escravos, em que todos os amigos se visitavam e trocavam presentes, que o Natal mantém esta tradição de ser uma festa de família, de amizade e de troca de presentes.

    Mas o Natal não é apenas uma festa de troca de presentes, de família ou de amizade, mas de toda a humanidade, porque ela apela à fraternidade e tolerância universais, que estão subjacentes a cristianismo, que é derivado do Judaísmo, uma religião Uraneana (celestial), como todas as do Oriente, que gradualmente se tornou monoteísta.

    Evoluindo do paternalismo Judaico, legalista, ritualista, a grande revolução do cristianismo foi precisamente o de ter nascido como uma religião matriarcal, baseada na compaixão, no amor, na tolerância, em que a Igreja é considerada como mãe universal, e com grande relevo do papel de Maria como mãe de Deus.

    A parábola do filho pródigo, em que o pai sai ao encontro do filho, com o coração compassivo, sem exigir justificações pelos erros, é bem sintetizadora desta visão maternal da nova religião, tão diferente da visão legalista e punidora do judaísmo.

    Com a queda do Império, por razões políticas, com a necessidade de a hierarquia da Igreja substituir o poder imperial, é que o cristianismo se tornou exclusivamente paternalista e gradualmente dogmático, legalista e ritualista.

    Cristo chamava a Deus Abba (Pai). Por conseguinte, a todos os homens, que são irmãos, Deus dá a possibilidade de se encontrarem com ele, sejam quais forem os caminhos:

“eu não vim para o povo de Israel mas para todos os homens”; “Deus é amor”; a Deus ninguém o viu… Se nos amarmos, Deus está em nós”.

    Ninguém pode afirmar que conhece verdadeiramente Deus. Deus é mistério para o comum dos mortais. Como dizia Santo Agostinho, “se comprehendestis non est Deus”; e como dizia S. Tomás, “Quando chegarmos ao conceito, nega-lo sempre!”.

    Por isso Deus implica uma busca constante! E onde é que o encontramos?

    É onde estiver o amor… O Amor é o sinal da presença de Deus. E quem estiver mais próximo do Amor autêntico é que está mais próximo de Deus, independentemente da sua fé ou religião, porque Deus é Amor.

    O Deuteronómio dizia: “ide e aprendei o que significa quero misericórdia, não sacrifícios”; o Corão começa cada Azara com “em nome de Deus, o clemente, o misericordioso”.

    Um sufista murciano do sec. XII, Ibn Arabi, dizia: “ se sentes no profundo de ti mesmo, que isto te incite ao bem; é o teu amor por Deus, e o teu amor pelos homens que Deus ama. Se pensas que o mal consiste em afastar-se dos homens, porque Deus os ama, como te ama a ti, e que perdes o teu amor a Deus se fazes mal aqueles que ele ama, ou seja, a todos os homens, tu és discípulo de Jesus, seja qual for a religião que professes”.

    A tolerância, é como vimos, por este belo texto de um poeta muçulmano, o aspecto amoroso da relação religiosa. E do cristianismo também.

 Ibn Al fadd, outro sufista Islâmico rezava assim:                         

“Senhor, um dia visito a Igreja, outro dia a mesquita, mas de templo em templo, só a ti vou buscando. Para os teus discípulos não há heresia, não há hortodoxia; todos podem ver a tua verdade sem vendas… o teu fiel é um servidor de perfumes, necessita da essência dos vasos do amor divino”.

    Por isso é que celebrar o nascimento de Cristo a 25 de Dezembro, é celebrar o Amor entre todos os Homens. Sem isto, não faz sentido o Natal nem sequer o cristianismo.

    Foi o Amor que Cristo trouxe como mensagem à humanidade, que faz do Natal uma festa universal.

    O amor implica … àgape, que era a palavra grega para fraternidade e ceia ritual.

    Por isso é que também não faz sentido Natal sem ceia!

    Desejo por isso uma boa Ceia De Natal para todos!

 



publicado por Manuel Maria às 15:09 | link do post | comentar

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