Raia Morena
Raia, terra da memória distante,
Meu cantar torna-se triste
Quando penso em ti.
Meu cantar de saudade,
Meu cantar, maia em flor,
Que te venho dar.
Raia, terra dos primeiros jogos da infância,
Do perfume dos carvalhos e dos castanheiros,
Das mansas águas da Côa,
Da aridez dos cabeços,
Das sombras frescas dos freixos,
Dos quintais, dos chãos e dos vergéis com os seus mimos,
Dos beirais amigos
Onde a minha alma cansada,
Ao florir da giesta,
Atravessando montes e rios,
Todos os anos
Regressa.
Raia, mulher morena
De olhos ciganos,
Rebelde contrabandista,
Coberta de maias,
Beijo a tua boca em fogo,
Que me fala de amores
Na penubra doce da tarde,
Quando ébria de luz e melancolia,
Atravessa a minha alma
Montes e rios,
Para voltar a ti.
Raia, mulher amada,
Não tenho outra coisa que te dar
Senão um ramo de maias
De intensa fragrância,
Colhidas no teu corpo em flor.
Raia, mulher rebelde,
Meu cantar é um ramo de maias
De intensa fragância,
Quando penso em ti.
Antioquía, que chegou a ser a capital do cristianismo no Oriente, tinha, nos seus arredores, um célebre templo dedicado a Apolo, onde se proferiam oráculos.
No tempo de Constantino (séc. IV) o cristianismo passou a relegião dominante, devido às perrogativas concedidas pelo imperador, começou a ocupar e consagar à nova fé vários templos pagãos, remetendo a religião antiga para os campos (pagus).
Foi o que sucedeu com o templo de Apolo, em Antioquía, em cujo àtrio foi construída uma Igreja com a campa de Babylas, bispo mártir de Antioquía.
O imperiador Juliano (331-363), que fora educado a paixão dos clássicos e deuses helénicos pelo seu pedagogo e tutor Mardónio, e instruído seretamente nas teurgias do paganismo místico, pelo neoplatónico Máximo de Éfeso, sucedendo no trono imperial ao seu tio Constantino, apostatou, estabelecendo o paganismo com um sistema eclesiástico, que imatava o da igreja cristã, e perseguiu o cristianismo.
Chegando em 362 aAntioquía, em passagem para a campanha militar do Médio Oriente, Juiano quis consultar o oráculo de Apolo, o que os sacerdotes recusaram, devido à profanação do átrio do templo.
Juliano mandou então derrubar a Igreja e transportar os restos de Babylas para lugar original, bem como limpar e purificar o precinto.
No fim deste mesmo ano, um grande incêndio, atribuído a vingança dos cristãos, destruíu parte do templo e a famosa estátua de Apolo, obra do escultor ateniense Bryaxis.
O poema de Konstandinos Kavafis, que se segue, glosa estes factos históricos e o triunfo, muitas vezes, pelo ferro e fogo, do cristiaismo emergente, que de religião perseguida se tornou, na viragem do séc. III para o IV, em religião persecutora:
Ficámos atónitos em Antioquia quando soubemos
Dos novos sucessos de juliano.
Apolo ele próprio exoplicou-se, em Dafne!
Oráculo não queria dar (estamos nas tintas!).
Não tencionava falar mnticamente, se primeiro
Não limpassem em Dafne seu recinto sagrado.
Incomodavam-no, declarou, os mortos vacinais.
Em Dafne havia muitas campas.-
Um dos ali enterrados
Era o prodigioso, da nossa igreja glória,
O santo, o triunfadosr mártir Babylas.
A este aludia, a este temia o falso deus.
Anquanto o sentia perto, não tinha lata
Para dizer os seus oráculos; nem pio.
((Aterram os nossos mártires aos falsos deuses.)
Arregaçou as mangas o irreverente Juliano,
Ficou nervoso e esganiçava-se: «levantem-no, levem-no
Tirem-no imediatamente a este Babylas.
Como ´de possível? Apolo incomoda-se.
Levem-no, peguem nele já.
Desenterrem-no, levem-no para onde quiserem.
Tirem-no, deitem-no fora. Andamos a brincar?
Apolo disse que se limpe o recinto sagrado.
Tomámo-la, trouxemo-la a santa relíquia para outro lugar;
Tomámo-la, troxemo-la em amor e honra.
E deveras bem prosperou o precinto sagrado.
Foi sem tardança, quando grande
Incêndio se propagou; um terrível incêndio:
E queimou-se o precinto sagrado e Apolo também.
Em cinzas o ídolo; para varrer, com o lixo.
Explodiu Juliano e fez correr o boato-
Que outra coiusa havia de fazer – que o incêndio fora posto
Por nós cristãos. Deixem lá que diga.
Não houve provas; deixem lá que diga.
O fundamental é que explodiu.
Konstandinos Kavafis