Quinta-feira, 21 de Outubro de 2010

 

Mondeguito

 

 

     Andar a pé é uma nobre arte, semelhante à dos antigos cavaleiros andantes, que muito poucos entendem e que nenhuma fortuna é capaz de comprar, porque exige os requisitos do lazer, liberdade e independência, que são essenciais a um bom andarilho e comuns aos heróis.
     A origem da palavra andarilho está no sauntering palavra que derivada de sainte-terrer, vadios que na idade média pediam esmola para ir à Terra Santa. Os que iam eram os saunters, os outros, meros vagabundos, que tão bem retrata o romance anónimo medievo, El Lazaralilho de Thormes. Mas para partir era necessário um estado de espírito de total despojamento; era o desprendimento de pai e mãe, irmão e irmã, esposa e filho, amigos, na incerteza da viagem, o saldar as dívidas, fazer o testamento, deixar os negócios em ordem e ser um homem livre para iniciar a caminhada.
     Neste sentido o andarilho era também um Sans terre, um sem pátria, no sentido em que a sua pátria passava a estar em toda a parte. É este o verdadeiro segredo do sauterning. O pertencer a toda a parte e a nenhuma em particular. O peregrino renunciava a seu trabalho, fonte de seu sustento cotidiano, trocando a segurança e o conforto de seu lar, seu espaço homogêneo, conhecido, familiar, pela heterogeneidade do espaço desconhecido, pelo imponderável.
     Em suma; a peregrinação era uma aventura, tal como o caminhar na natureza o deve ser!
     Por isso, pertencer à verdadeira família dos andarilhos, ser andarilho, exige um desprendimento de alma, uma ascese, igual à do peregrino. E esta alma de peregrino que deve ter o caminhante, não se adquire; tem de se buscar no interior do coração de cada um: Ambulatur nascitur, non fit.
     Podem-se fazer dezenas de caminhadas nas quais se tem a felicidade de percorrer as matas, as colinas, os campos, longe das preocupações mundanas mas sem este espírito de desprendimento nunca conseguiremos ter os sentidos despertos, a imaginação livre para a verdadeira fonte da vida que é a natureza.
     É na rusticidade da natureza que está a preservação do mundo. Uma comunidade subsiste, não mais pela existência de homens bons que nela vivam mas também pelas matas e charcos que a circundam. Um território onde uma floresta primitiva cresça sobre outra que apodrece no subsolo, tanto fornece trigo e batatas como poetas, filósofos e reformadores para as gerações vindouras. Homero, Confúncio e Licurgo, comeram trigo e mel como todos os homens. Não é por acaso que os Eubeus, originários de uma ilha vulcânica e pioneiros da expansão grega para ocidente procuravam solos vulcânicos para estabelecerem as colónias, ou que Rómulo e Rémulo tenham sido amamentados pela mítica loba; é que nações civilizadas como Grécia ou Roma – devem a sua existência a florestas primitivas que há séculos se decompuseram, tendo sobrevivido enquanto se não exauriu o solo desse adubo vegetal.
      Tudo o que o homem civilizado é, deve-o pois à natureza! Quantas vezes o esquecemos…
      Mas também o mais belo é o mais natural e selvagem… O pato selvagem é mais veloz e belo que o doméstico; um livro verdadeiramente bom é algo tão natural e inexplicavelmente belo como uma violeta descoberta num lameiro.
     De que serve pois organizarmos caminhadas, os nossos passos levarem-nos às florestas, ao campo, à serra, se o nosso coração não consegue levar-nos até lá? De que serve lá estarmos corporeamente, sem lá entramos em espírito?
     Só a liberdade e solidão do andarilho proporciona aventura e a sensação de sair do nosso mundo, para nos internarmos numa floresta, tornando os nossos passos tão frescos naturais e verdadeiros que parecem expandir-se como os botões de rosa à aproximação da Primavera.    

     Só ela tem a magia de fazer com que um caminho percorrido anos a fio, traga sempre novas sensações; uma simples casa de campo que se ainda não deparara, quebre subitamente a monocromia do prado, uma andorinha sobre um junco do ribeiro lembre o conto do príncipe feliz de Oscar Wilde que acabámos de ler, na forma bizarra de uma raiz saliente de um pinheiro a imaginação veja a cara de uma pessoa conhecida.
     Enfim, a natureza tem uma personalidade tão vasta e universal que jamais vimos algo de igual feição. É este o segredo.
     Há tempos repeti uma caminhada que costumava fazer na juventude. Foi a pé, para ir dormir ao Covão da Ponte, na Serra da Estrela. Subi a estrada que vai de Manteigas à Pousada e apanhei uma cortada em terra batida que depois de uma íngreme subida de dois kilómetros sobre o    Vale de Sameiro, desce mais outros quatro pelo vale, fonte de um pequeno riacho, semeado de pequenas quintas de culturas estivais e pastos. Lá ao fundo é o Covão da Ponte com o Mondeguinho cristalino e frondosíssimo arvoredo, e na encosta oposta, a subida para os Casais de Folgosinho, povoada de castanheiros.
     Era pelo fim do dia e tive a uma das mais notáveis paisagens de crepúsculo Estival da vida. Já tinha feito dezenas de vezes aquele trajecto e àquela hora, mas nunca tinha reparado como o sol a entrar nas alas da mata sobranceira ao Covão, incendiava a majestosa mancha dos seus castanheiros e justamente antes de se pôr, desencadeava a mais branda e brilhante luz solar sobre o pasto.
     Assim, peregrinando, a minha sombra projectando-se no caminho, o sol brilhou no meu espírito, aqueceu o meu coração com a sua luz serena e dourada, naquela colina de Verão, como nunca tinha acontecido.
     Haverá lá coisa no mundo que pague isto?
     Esta semana vou fazer pela enésima vez o mesmo trajecto, e de certeza que me vou agradavelmente surpreender com qualquer novidade na paisagem, porque vou sozinho e imbuído do tal espírito livre de andarilho.



publicado por Manuel Maria às 13:16 | link do post | comentar | ver comentários (2)

Segunda-feira, 11 de Outubro de 2010

 

 

     Acabara de entrar o Inverno de 1504. Baruch Navarro, neto do Rebe Baal Tov, fugido aos progroms de Navarra, levava anos de sapateiro, trabalhando arduamente para ganhar o precioso sustento, numa oficina ali para as bandas da torre do relógio, perto da muralha e da antiga porta da vila.

     Ali vivia só, taciturno, sem outra distracção que o cortar do couro e o bater das solas, sempre a queixar-se da dor dos ossos. Quanto custava ganhar o pão!... E este mal não tinha remédio: sempre existiam pobres e ricos, e o que nasce vitima, tem que resignar-se... Já o dizia sua avó: «A culpa era de Eva, da primeira mulher…» De que não tinham elas culpa, as mulheres?

     Nevara todo o dia, e a neve cobria as casas com o seu grande manto branco e o gelo pintara todas as árvores e beirais de prata. Com a neve levantara-se o vento Norte e, soprando todo o dia sobre o casario, levava o fumo das chaminés para lá do rio, em direcção à Malcata.

    Os dias já eram curtos e em breve escurecera. E através da porta da oficina, para lá do pano da muralha derrubado, sob um céu de cor violeta em que começava a brilhar a primeira estrela, viam-se os campos brancos e indecisos na penumbra do crepúsculo.

    Era a primeira noite de Chanucá. Baruch, pousou a tesoura de corte na bancada, pendurou o avental de cabedal no cabide cravado na ombreira que tinha a inscrição hebraica, e fechou o enorme portão da oficina.

    Subiu ao primeiro andar e tirou a Chanuquiá do armário trabalhado que havia  ao cimo das escadas e colocou-a na pequena janela da sala que   dava para o pátio interior.

     A este sinal combinado, os vizinhos atravessaram os quintais interiores e, entrando pela porta das traseiras, foram subindo ao primeiro andar, sentando-se em seu redor.

    Então, Baruch recitando as bênçãos com grande devoção, acendeu a vela única, colocou o shamash, a vela auxiliar, e começou a cantar Hanerot Halalu.

    A chama da vela ardeu com vigor. A assembleia cantou então Avam Maoz Tsur e outras melodias de Chanucá. Várias vezes, entre as melodias, Baruch comentou trechos da Torá.

    Quando terminaram, todos se juntaram em volta da mesa a partilhar a ceia. Depois, em redor da candeia, falaram dos acontecimentos do dia e dos problemas da comunidade. Decorridas as primeiras horas da noite, já em pleno Sabath, voltou cada um pelo mesmo caminho escuso dos quintais, entregando-se silenciosamente ao rei do sono, com um canto de fartura e oração de agradecimento a Iavé nos lábios.

    E Baruch, enfiando-se no seu catre, viu as estrelas pela janelinha onde ainda ardia a Chanuquiá. E com grande paz no coração concluiu:

    -O céu é a minha lâmpada de azeite e eu coloco-a na minha janela para iluminar o caminho do povo da Nação, através da escuridão.

 



publicado por Manuel Maria às 16:46 | link do post | comentar

Sexta-feira, 8 de Outubro de 2010

 

 

     Numa pequena cidade de província, junto à fronteira, ergue-se um castelo onde em tempos esteve, por males de inveja, preso um célebre cabo-de-guerra.

     Reza a lenda que, estando ele incomunicável, e a pão e água, conseguiu por artes de engenho e das letras recortadas de um velho hagiógrafo fazer uma carta que mandou ao rei, que o soltou.

     Isto é o que diz a lenda, que sendo coisa do imaginário popular, a gente é livre de acreditar ou não.

     E cada um acredita no que quiser…

     Pois adentro das muralhas do referido castelo houve em tempos um cemitério onde trabalhou um coveiro, cujo apelido era Torres. Dizem as pessoas antigas que era um tipo mal-encarado, intratável, taciturno, solitário e bêbado, como convém a um sujeito que lida com a morte.

    E contam elas, que por altura do S. João, noite de festa na terra, em ano que os mais velhos já não sabem precisar, o Torres acendeu a candeia, pôs a enxada e a pá ao ombro e foi ao cemitério, pois tinha de abrir uma sepultura para a manhã seguinte.

   No caminho, ao passar pelo Largo do Castelo, viu alegres magotes de gente reunidos em volta das fogueiras, sentiu o cheiro intenso do rosmaninho que ascendia em forma de nuvens vaporosas, ouviu os risos e gritos das crianças cruzando a praça em jogos de infância.

   Passou indiferente e chegando à zona escura do portão do castelo, entrou fechando-o atrás de si.

   Tirou a jaqueta, deixou a candeia no chão e começou a cavar sem parar. Mas como era terra virgem, progredia com dificuldade. Ao fim de umas duas horas terminou a cova e sentando-se numa lápide, ali vizinha, murmurou:

   -Dez palmos abaixo de terra e outros tantos ao cumprido em noite de S. João; Boa cama para qualquer um, boa cama! E foi buscar a garrafa de aguardente.

   - Boa cama… Boa cama… -Repetiu uma voz no momento em que ía levá-la aos lábios.

   O Torres olhou em volta e não viu ninguém. No cemitério havia o mais completo silêncio.

   -Foi o eco – disse, levando outra vez a garrafa aos lábios.

   -Não, não foi! – Replicou uma voz cavernosa.

   O Torres levantou-se aterrorizado e viu sentado numa lápide junto dele a figura fantasmagórica de um mendigo – mas isso não percebeu o Torres- que lhe gelou o sangue.

   -Não foi o eco! –Repetiu o mendigo que ali costumava pernoitar, por ser lugar sossegado.

   Na manhã seguinte encontraram no cemitério a candeia, a enxada, a pá, a jaqueta e a garrafa, mas do Torres nunca mais houve notícias.

   O mais certo é que o Torres, assustado e querendo fugir no meio daquele breu, foi cair na cisterna que havia no meio do recinto.

   Procuraram-no por todo o lado, menos na funda e escura cisterna, da qual ninguém se lembrou.

   Especulou-se acerca do destino do Torres, mas rapidamente se decidiu que o tinham levado as almas e, penando, vagueava pelas redondezas; e não faltaram alguns testemunhos que juraram vê-lo, quando episódios inexplicáveis começaram a dar-se no castelo:

   Passos nas barbacãs, barulhos de correntes nas antigas masmorras, murmúrios estranhos à noite, o ferrolho da porta do castelo que se fechava misteriosamente e muitos outros fenómenos que costumam suceder em locais assombrados como aquele.

    Entretanto o castelo deixou de fazer de cemitério e esta história acabou gradualmente por ser esquecida, e, não fora um recente episódio, nunca mais ninguém se lembraria do fantasma do antigo coveiro:

   Há dias, pela hora de almoço, visitando um casal de turistas o castelo, fechou-se o portão, deixando-os involuntariamente prisioneiros.

   Acudiu aos gritos um vizinho solícito que, encostando uma escada à muralha, resgatou os infelizes turistas.

   Levantaram-se hipóteses para o enigmático fecho do portão.

   Alguém alvitrou que teria sido um funcionário da câmara que, apressado para o almoço, não se apercebera dos turistas.

   E foi então que uma velha moradora do largo contou esta lenda do Torres, ouvida à sua avó.

   Enfim, cada um acredita no que quiser…

   Mas sendo ou não o fantasma do Torres, à cautela, alguém tome conta do assunto.

   É que, segundo consta, já não é a primeira vez que o portão se fecha com turistas lá dentro!

   Ou talvez o Torres ainda ande por aí a fazer das suas… Quem sabe?



publicado por Manuel Maria às 08:59 | link do post | comentar



 

     O profeta, o escolhido e bem-amado, ele que era o amanhecer do seu próprio dia, regressou à sua terra natal, no mês de Agosto, o mês da saudade.

     Seguido dos seus discípulos, atravessou o rio na velha ponte, e prosseguindo pela estrada que ladeia a colina do vetusto castelo, enquanto avançava, crescia a alegria no seu coração.

     Lembrava-se ainda daquela terra como um jardim grande e belo, com suaves pastos onde brotavam, lindas flores semelhantes às estrelas e havia doces meloais que na Primavera se cobriam de flores delicadas rosa e pérola e no Outono davam um fruto saboroso; hortas bem amanhadas, sobre o rio, com as suas picotas, dando todo o mimo de verduras. Lembrava-se ainda como nas árvores pousavam os pássaros que cantando tão melodiosamente, faziam com que ele, em menino, ficasse em silêncio a escutá-los por longas horas. Ou como ía de um lado para o outro admirando as belezas da natureza, pensando que Deus mudara de sítio nas alturas, aproximando-se da terra. Lembrava-se sobretudo do jardim bem cuidado de sua casa; as açucenas vestidas de branco, erguendo-se com certo desmaio, como as raparigas em traje de baile, que em menino tinha admirando nas revistas; as camélias, de cor carnosa, fazendo pensar nas pernas desnudas, em grandes senhoras, indolentemente deitadas, mostrando os mistérios da sua pele de seda; as violetas ocultando-se entre as folhas para se denunciarem com o seu perfume; as margaridas destacando-se como botões de ouro malte, os craveiros, qual avalanche revolucionária de gorros vermelhos, cobrindo o canteiro, e no horto a grande amendoeira balanceando o sua ramagem como um incensário de branco e rosa que se espalhava mais agradável que o das igrejas.

     Chegando às primeiras casas, parou, e disse orgulhosamente:

     -Vede – e apontando o casario- aqui tendes, finalmente a terra que me viu crescer.

     Então, um dos discípulos avançou e disse:

     -Vê este grupo que saíu ao nosso caminho. Souberam da tua chegada, e vieram, abandonando as suas terras e vinhas, esperar-te.

     E ao profeta, vendo o pequeno grupo, o seu coração enterneceu-se. Nisto, surgiu um murmúrio no grupo, um murmúrio de afecto e súplica.

     E o profeta olhando-os, disse:

     Quando fecho os olhos, no reboliço da cidade, vejo estes lameiros, cheios de verdura e freixos, cujas copas alcançavam o céu. Cada vez que tapo os ouvidos ao barulho da cidade oiço o murmúrio da ribeira e o resfolgar do vento nas ramadas. Todas estas belezas da minha imaginação, recordam-me a minha infância e juventude, que eu anseio reviver convosco neste meu regresso.

      E aquela gente sentiu um calor nos seus corações ao ouvir estas coisas, e um deles disse:

     -Onde te escondeste para que não vivamos na luz da tua presença? Pois olha: Todos estes longos anos te amámos e ansiámos que voltasses são e salvo. E agora a gente pede aos gritos para falar contigo; Peço-te que apareças diante do povo e lhe expresses a tua sabedoria, e consoles os aflitos e instruas os ignorantes.

     O profeta, comovendo-se, disse:

     -Não me chames sábio, a menos que chames sábio a todos os homens. Somos apenas folhas verdes da árvore da vida que um dia o vento levará, e a vida está muito acima da sabedoria e da ignorância. Ninguém é sábio ou ignorante.

     E retomando o caminho, com os seus discípulos e o pequeno grupo de seguidores, entrou na rua que conduzia ao seu jardim, que fora o jardim de sua mãe, seu pai e antepassados. E alguns queriam segui-lo para lhe prepararem um banquete de boas vindas, segundo o costume da terra, mas ele pediu que o deixassem só porque o seu pão era o pão da saudade, e o seu copo transbordava de vinho da lembrança, que desejava beber só.

     E o profeta chegando ao jardim dos seus pais, entrou nele, e fechou o portão, para que ninguém o seguisse. E durante quarenta dias e quarenta noites viveu sozinho naquela casa e naquele jardim e ninguém se aproximou daquele portão, que permanecia fechado, e todos sabiam que pretendia estar só. Ao fim dos quarenta dias e quarenta noites, ele abriu o portão para que pudessem ir vê-lo.

     E vieram alguns dos seus discípulos que se sentaram em volta dele. E no pequeno largo defronte, juntou-se uma grande multidão: Adultos, velhos, robustos e enfermos, de rosto curtido pelo vento e pelo sol. Um deles falou e disse:

     -Mestre, os nossos corações estão amargurados e não sabemos porquê. Suplicamos-te que nos consoles e que abras o nosso coração e mentes ao significado das nossas penas.

     E o profeta, olhando as colinas e o céu azul, suspirou e disse:

     -Amigos, compadecei-vos da terra que está cheia de crenças e vazia de religião. Compadecei-vos da terra que veste o que não tece, come o pão que não cultiva e bebe o vinho que não corre dos seus lagares. Compadecei-vos da terra que aclama os fanfarrões como heróis e cujos sábios morreram com o passar dos anos. Compadecei-vos pela terra onde o ventre das mulheres secou e que já não ouve os risos e as brincadeiras   das crianças nas suas ruas e praças. Compadecei-vos da terra que só grita quando caminha num funeral, que apenas se orgulha das suas ruínas, que nem se revolta quando a votam ao desprezo. Compadecei-vos da terra cujas autoridades gastam o que não têm em obras megalómanas, cujos filósofos são ogres prestidigitadores, e cuja política é uma arte de remendos e efabulações. Eis, pois aqui resumidamente, o significado das vossas penas: Sois um bando espectros; uma geração de condenados, isto é o que vós sois! De que vos queixais, portanto?

      Nisto, fez-se um longo silêncio, interrompido por um gradual clamor que se levantou na multidão. Um dos tais ogres avançou com uma pedra na mão, à cabeça de toda aquela gente, e vociferou:

      - Quem te julgas para nos vires aqui dar lições? Só porque foste por esse mundo, vistes coisas, és melhor que nós, que ficámos? Não precisamos cá de ti para nada! – e fazendo o gesto de arremessar a pedra – Volta por onde vieste!

      Então, o profeta acendeu calmamente o cachimbo, levantou-se, ajeitou a boina, passando destemidamente entre a multidão. E secundado pelos seus discípulos, parando à saída da sua povoação, apoiado no bordão, e voltando-se para contemplar uma última vez a silhueta do velho castelo e daqueles montes em redor, falou aos seus discípulos, dizendo:

      -Quem nunca foi vítima da mordedura das serpentes e nunca sentiu as ferroadas dos lobos?

      E, sacudindo a poeira das sandálias, no que foi imitado por todos eles, fez-se novamente ao caminho.



publicado por Manuel Maria às 08:55 | link do post | comentar

Terça-feira, 5 de Outubro de 2010

  
 

(A minha República é sexy)

 

 

     Sou republicano porque defendo o governo da opinião maioritária dos homens livres em proveito de todos, manifestada em sufrágio universal e directo.

     Sou republicano porque defendo a igualdade plena, independente de privilégios de raça, nascimento, origem, sexo ou religião, o livre pensamento, a laicidade do estado, a liberdade de expressão, a escola pública como via para o progresso e igualdade, a saúde como direito universal e a liberdade como conquista irreversível. 

    Sou republicano porque tenho a ética e a justiça social como balizas e a Liberdade, Igualdade e Fraternidade como cimento de união entre todos os homens.

  

    Pois que viva a República!

 



publicado por Manuel Maria às 00:25 | link do post | comentar | ver comentários (4)

Segunda-feira, 4 de Outubro de 2010
 
 
 
     II - Em 04.10.2010, pelas 22.00, o advogado, já farto das 23 mensagens a pedir a borla, respondeu:
     Sr,
     Aqui vai o conselho honesto que me pediu:
     A contumácia suspendendo ou não a prescrição, para ser levantada precisa de advogado constituido no processo!
     Por isso é que o processo ainda não morreu... Assim, continua "vivinho da Silva!"
     Faça por isso como entender para o matar, pois comendo deste ofício, eu cá não sujo as mãos de graça e a seco.
     Atentamente
     JV
     I - Em 4 de outubro de 2010 18:35, o cliente JMMS  «... @gamil» escreveu:
     Dr Joao,
 
     O 'Acordao do Tribunal Constitucional numero 183/2008 declara como forca obrigatoria geral, a inconstitucionalidade da norma extraida das disposicoes conjugadas do artigo 119, numero 1, alinea a) do codigo penal e do artigo 336, numero 1, do codigo de processo penal, ambos na redacao originaria, na interpretacao segundo a qual a prescricao do procedimento criminal se suspende com a declaracao de contumacia.'
     E aqui que vejo o processo em que estou contumaz prescreveu [??] so isso!
     Uma carta directa ao Tribunal de Leiria alegando isto tera de ser o suficiente para o levantamento da sansao contumaz!
     Eu nao posso pagar por uma reabertura dum processo 'fantasma' que nao tem ponta que se lhe pegue, depois isto ja prescreveu de certeza absoluta! Espero o seu honesto conselho, cumprimentos.
     JMMS


publicado por Manuel Maria às 22:36 | link do post | comentar

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