Quarta-feira, 23 de Julho de 2008

 

 

 

 

FÉRIAS!!!!

 



publicado por Manuel Maria às 12:12 | link do post | comentar | ver comentários (4)

 

 

 

 

 

A Janela

Dá para a rua

Onde outrora passavam

O Ti Silva e a Ti Alice,

O ti Aurélio e a Ti Marquinhas,

O Romão e a Maria,

O Diamantino e a Hermínia,

O Chico Bárbara,

O Lúcio,

O Zé Cerdeira,

O Zé da Ruvina,

O Chico Adrião,

O Daniel

E tantos outros,

Que indo e vindo das fazendas,

Saudavam do lado de lá do muro.

 

A mesma rua

Onde agora passam apenas

O Zé Carlos,

E o Zé Pedro,

Ficou com o passar dos anos

Dolorosamente silenciosa;

No mesmo silencio doloroso

Da sineta do balcão,

Que se calou,

Porque

Já ninguém passa na rua

Daquela casa

Vazia

E fria.

 

 



publicado por Manuel Maria às 12:04 | link do post | comentar | ver comentários (1)

Terça-feira, 15 de Julho de 2008

  

 
Mulheres judias em festa com músicos
Fez, Maroccos, 1950.

            

            Aqui fica outro belo romance popular, recolhido por Garret no seu romanceiro, mas que tem um contexto histórico muito interessante pelos indícios geográficos, históricos e sociais no texto.

            A história reporta-se ao comércio marítimo do Norte da Europa com o Norte de África, ao tempo da dinastia alaouita, numa data em que os Portugueses perdiam o controlo desse comércio, mesmo pela via do contrabando, e situa-se seguramente antes da queda da Mazagão portuguesa no último quartel do séc. XVIII e depois de meados do séc. XVII, data em que após a restauração, Ceuta ficou nas mãos de Castela: «Eu Vinha do mar de Hamburgo numa linda caravela; cativaram-me os mouros» […] «Que longe está Mazagão, Ceuta tem Voz de Castela»

            O espaço geográfico é possivelmente o do bairro judeu da cidade marítima de Rabat, Marrocos ( para vender me levaram a Salé, que é sua terra), país que desde a diáspora safaradita tinha uma florescente comunidade de mercadores judeus que faziam o comércio das especiarias com a Europa: «Dava-me uma negra vida, dava-me uma vida perra; de dia pisar esparto, de noite a moer canela.» E a probabilidade de ser o sul de Marrocos é grande, porque as terras cristãs mais próximas eram Mazagão e Ceuta; ainda assim distantes.

            O contexto social é o da enorme comunidade de cristãos cativos na pirataria de costa e que chegaram a constituir uma grande comunidade em Marraquexe, com culto e Igreja próprios.

            O resto é uma história de amor de uma judia por um cativo. Ela reconhece que não é amada, dá-lhe dinheiro do seu dote para o resgate e do alto da torre contempla a última vela que lhe foge no horizonte com o ingrato amante:

 

Eu vinha do mar de Hamburgo

Numa linda caravela;

Cativaram-nos os moiros

Entre la paz e la guerra.

Para vender me levaram

A Salé, que é sua terra

Não houve moiro nem moira

Quer por mim nem branca dera;

Só houve um perro judio

Que ali comprar-me quisera;

Dava-me uma negra vida,

Dava-me uma vida perra;

De dia pisar esparto,

De noite moer canela,

E uma mordaça na boca

Para eu lhe não comer dela.

Mas foi a minha fortuna

Dar c’uma patroa bela,

Que me dava do pão alvo,

De pão que comia ela.

Dava-me do que eu queria

E mais do que eu não quisera,

Que nos braços da judia

Chorava – que não por ela.

 

Diazia-me então: - «Não chores,

Cristão, vai-te à tua terra.»

-«Como hei-de eu ir, senhora,

se me falta la moeda?»

-«Se fora por um cavalo,

Eu uma égua te dera;

Se fosse por um navio

Dera-te uma caravela.»

-«Não fora por um cavalo,

Não fora senhora bela;

Que está longe Mazagão,

Ceuta tem voz de Castela.

Nem por navio não fora,

Que eu fugir não quisera,

Que era roubar ao teu pai

Dinheiro que por mim dera.»

-«Toma esta bolsa, cristão

Feita de seda amarela;

Minha mãe quando morreu

Me deixou senhora dela.

Vai-te, paga o teu resgate;

E às damas da tua terra

Dirás o amor da judia

Quanto mais vale que o delas.»

 

Palavras não eram ditas,

O patrão que era chegado.

-«Venhais embora, patrão,

E vinde com Deus louvado

Que agora tenho recado

Que o meu resgate é chegado.»

-«Cristão! Cristão! Que disseste!

Olhe que é muito cruzado.

Quem te deu tanto dinheiro

Para seres resgatado?»

-«Duas irmãs mo ganharam,

outra mo tinha guardado;

E um anjo do céu mo trouxe,

Um anjo por deus mandado.»

-«Dize-me, ó cristão, dize

Se queres ser renegado.

Que te hei-de fazer meu genro,

Senhor de todo o meu estado.»

-«Eu não quero ser judio

E nem turco arrenegado,

E não quero ser senhor

De todo esse teu estado.

Porque trago no meu peito

A Jesus crucificado.»

 

-«Que tens tu, filha Raquel?

Dize-me cá, filha amada,

Se é pelo cristão maldito

Que ficaste desgraçada.»

-«Meu pai, deixe o cristão, deixe,

Que ele me não deve nada:

Deve-me a flor do meu corpo,

Mas de vontade foi dada.»

 

Mandou fazer-lhe uma torre

De pedraria lavrada;

Que não dissessem os moiros:

-«A judia é desonrada.»

 

Viola, minha viola,

Aqui te deixo por mão,

Que os amores da judia

Pela ondas do mar vão.

 

 



publicado por Manuel Maria às 17:03 | link do post | comentar | ver comentários (1)

Sexta-feira, 11 de Julho de 2008

 

 

 

 

É um ancião consumido e gasto

Por anos de trabalho inútil

Subindo lentamente as escadas

Curvado no peso da velhice.

 

Nunca publicou uma linha em vida

Mas os jovens sabem de cor os seus versos

E nos sonhos deles regressa aos velhos tempos

Em que também ele era um jovem.

 

 

Arrastando-se lentamente, afasta o reposteiro

E desaparece no corredor vazio e comprido, satisfeito

Do quinhão de juventude que ainda tem.

 

 



publicado por Manuel Maria às 16:37 | link do post | comentar | ver comentários (1)

Quarta-feira, 9 de Julho de 2008

 

 

 

Ti Bonifácio

Traz-me num sufoco:

Quer-me casar

Com a filha Isabel

Até ao fim do Verão

Sem falta!

 

Casem-se logo

- me diz ele-

Que lhe monto

Banca na praça.

 

Ti Bonifácio

Traz-me nas palminhas:

Já me levou

À adega,

Tirou o presunto

Da salgadeira

E da arca

A caçadeira.

 

È certeira

- diz regulando a mira-

Quer experimentar?

 

Para bom entendedor

Meia palavra basta!

Ti Bonifácio

Avisou:

 

Banca na praça

Ou

Tiro na asa!

 

  



publicado por Manuel Maria às 11:46 | link do post | comentar | ver comentários (2)

Terça-feira, 8 de Julho de 2008

 

 




Não sei... Se a vida é curta
Ou longa demais pra nós,
Mas sei que nada do que vivemos
Tem sentido, se não tocamos o coração das pessoas.

Muitas vezes basta ser:
Colo que acolhe,
Braço que envolve,
Palavra que conforta,
Silêncio que respeita,
Alegria que contagia,
Lágrima que corre,
Olhar que acaricia,
Desejo que sacia,
Amor que promove.

E isso não é coisa de outro mundo,
É o que dá sentido à vida.
É o que faz com que ela
Não seja nem curta,
Nem longa demais,
Mas que seja intensa,
Verdadeira, pura... Enquanto durar

Cora Coralina

 



publicado por Manuel Maria às 12:09 | link do post | comentar | ver comentários (1)

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