Na entrevista da televisão desculpava-se Sócrates que «não podia ter previsto a crise. Que vai fazer tudo para ajudar os portugueses com menos rendimentos, apoiar as pequenas e médias empresas, combater o desemprego. Quer, por isso, nova maioria absoluta.»
Sócrates refere-se à crise como sendo a internacional, induzida do exterior pelo “rebentamento da bolha” do imobiliário na América. Omite a nossa, estrutural, que é endémica, crónica e verdadeiramente preocupante e para a resolução da qual nada fez.
Os sintomas desta crise interna há muito estão diagnosticados e agravaram-se desde o tempo em que os ensinava o meu saudoso mestre de Finanças Públicas, Prof. Sousa Franco: Inexistência do sector primário, improdutividade do secundário, terciarização da economia, salários abaixo da média europeia e preços dos bens a nível europeu, elevadas carga fiscal e despesa pública, sobre endividamento externo e défice acentuado da balança de transacções correntes.
Mas como uma desgraça nunca vem só, à crise interna juntou-se a crise internacional. A gripe de que convalescia a nossa economia, degenerará em pneumonia por causa de um imprevisto resfriado: A recessão a nível internacional, reduzirá drasticamente as exportações, aumentando o défice da balança comercial, o encerramento das fábricas e o desemprego.
E como as famílias não têm rendimento disponível, não compram; como não compram, as fábricas não vendem; como as fábricas não vendem, não produzem; como as fábricas não produzem, fecham; como fecham as fábricas, aumenta o desemprego e diminui o PIB; como aumenta o desemprego e diminui o PIB, diminui a receita fiscal; como diminui a receita fiscal, aumenta o défice.
Debelar esta crise, é pois, como se viu pela amostra, empreitada mais complicada que cortar as sete cabeças da Hidra de Lerna. E Sócrates não é semi-deus como Hércules.
Na sua fanfarronice, Sócrates diz que vai combater a crise. Não teve industria antes, vai conseguir agora, que é tarefa ciclópica? O fôlego da nova maioria que pede é por isso inútil.
Isto faz-me lembrar aquele episódio de Nero que consultando o oráculo de Delfos e este lhe dizendo para só «temer os setenta e três anos» («Τά έβδομήντα τρία χρόνια νά φοβάται»), concluiu ainda ter trinta longos anos para gozar (Eίχε kαιρόν άkόμη νά χαρεϊ). Mal sabia ele que entretanto na Espanha, às ocultas, Galba, à data com setenta e três anos, reunia um exército para o depor (Kαί στ ήν ό Γάλβας kρυφά τό στράτυμα τον συναθροι).
É que pelo oráculo de Delfos, o tempo de Sócrates também já passou! Só ele ainda não deu conta!
Agora perguntam vocês: Então o que havemos de fazer? Oiçam mais uma vez o oráculo, pela boca do governador do Banco de Portugal:
-«Adaptem-se o melhor que souberem à crise!»
Traduzindo por miúdos:
Salve-se quem puder... No fim, "entre mortos e feridos, alguém há-de escapar!"